Hapag-Lloyd troca porto de Lisboa por Leixões devido à greve dos estivadores "transferência do serviço de Lisboa para a principalmente Leixões é o vicio portuário nacional e a Sines"

Greve já tem duas semanas, mas está garantida até ao final deste ano, pelo menos. Operadores queixam-se de perdas.

A Hapag-Lloyd, um dos dez maiores armadores mundiais comunicou na passada quarta-feira aos operadores portuários nacionais que deixará de escalar o porto de Lisboa enquanto perdurar a greve de estivadores, iniciada no passado dia 14 de Novembro. A Hapag-Lloyd decidiu trocar o porto da capital pelo de Leixões no serviço regular entre o Mediterrâneo e o Canadá (MCA – Mediterranean Canada Service), que tem operado regularmente no porto de Lisboa. 

Na carta enviada aos operadores portuários nacionais, a que o Diário Económico teve acesso, a Hapag-Lloyd esclarece que “o porto de Lisboa informou-nos que as paralisações laborais causaram restrições ao serviço, não sendo actualmente previsível quanto tempo durarão estas paralisações”.

“Perante isto, queremos informá-los que devido à greve, a Hapag-Lloyd decidiu suspender a escala de Lisboa do MCA [serviço entre o Mediterrâneo e o Canadá] até surgirem novidades respeitantes à confiança programável”, adianta a referida missiva da Hapag-Lloyd. Nessa carta, o armador alerta ainda os operadores portuários nacionais que a alternativa ao porto de Lisboa neste serviço regular passará a partir de agora a ser o porto de Leixões.

Esta é a primeira baixa significativa na actividade portuária da capital após o início desta paralisação dos estivadores, que completa hoje duas semanas. O Diário Económico sabe ainda que os sucessivos pré-avisos de greve comunicados pelo Sindicato dos Estivadores já irão prolongar esta greve, pelo menos, até ao final do ano.

No mais recente comunicado vindo a público, o Sindicato dos Estivadores sublinha que “esta greve foi decidida em articulação com o IDC - International Dockworkers Council, que deixou clara a sua solidariedade na moção aprovada na sua última assembleia, realizada em Salónica, na Grécia”.

O Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal defendia na altura que declarou greve contra a “unilateral declaração patronal da caducidade do contrato colectivo em vigor”, um “instrumento regulador das imensas especificidades do trabalho nos portos”.

Segundo esse comunicado do sindicato, a primeira semana de greve, de 14 a 20 de Novembro provocou “um autêntico e generalizado caos” nos portos apesar de, durante a greve, os estivadores terem estado “disponíveis para trabalhar porque, até agora, ainda não se verificou qualquer das condições anunciadas no pré-aviso de greve que determinarão a paragem total das operações, nomeadamente a tentativa de substituir os estivadores profissionais por mão-de-obra alternativa que alguns patrões continuam a recrutar nos bastidores”. Este tipo de contratações “têm como objectivo final a substituição de todo o colectivo de estivadores profissionais por um mar de trabalhadores desorganizados e sem direitos laborais”, acrescenta o sindicato.

“As empresas portuárias, por razões que agora começam a ficar claras, tentam provocar um crescente caos no porto de Lisboa, danos irreversíveis à economia nacional e ao próprio porto, ao serviço de outros interesses, nomeadamente imobiliários, para falsa e cobardemente acusarem desta catástrofe orquestrada os estivadores”, acusou o Sindicato dos Estivadores. Durante a primeira semana de greve, os estivadores estiveram sujeitos “à realização de trabalho suplementar” que “face às pressões e assédio contínuo, alguns estivadores aceitaram fazer, mesmo numa situação de greve, embora as empresas estejam a desrespeitar a legislação em vigor, dado a maior parte dos estivadores já ter ultrapassado os limites legais de trabalho suplementar”.

Por seu turno, os operadores portuários de Lisboa solicitaram no passado dia 13, um dia antes do início desta greve, a intervenção dos reguladores do sector dos transportes para travar a paralisação. Além do apelo à AMT – Autoridade Metropolitana de Transportes, órgão regulador do sector, Rodrigo Moura Martins, membro da direcção da AOPL – Associação dos Operadores do Porto de Lisboa, dirigiu-se ao Sindicato dos Estivadores e acusou que “uma direcção sindical que não tem capacidade de negociação e guia as suas acções por uma agenda pessoal não é parceira leal das empresas e não merece representar os trabalhadores portuários”.

Diversos operadores do sector contactados pelo Diário Económico reconheceram “a existência de prejuízos” e admitem que a decisão da Hapag-Lloyd pode ser seguida por outros armadores mundiais que escalam o porto de Lisboa, como sucedeu com anteriores greves. Desde há cerca de dois anos que o porto de Lisboa não enfrentava greves de estivadores. Em 2012, registou-se uma greve de estivadores no porto da capital por cerca de seis meses consecutivos. AAOPL denunciou publicamente que essa paralisação provocou quebras de 40% nas mercadorias então movimentadas no porto da capital.

00:07 h
Nuno Miguel Silva
Económico