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A PAISAGEM QUE ME MORRE NOS OLHOS
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A PAISAGEM QUE ME MORRE NOS OLHOS
Tudo acontece ao mesmo tempo, e sem razão aparente. Quando menos esperamos, no meio dos chuviscos numa esplanada mal abrigada, somos queimados pelo sol quente. Limitei-me a fechar os olhos, e caiu-me a paisagem no colo. Invadindo-me os sentidos, a memória de um sol abrasador que asfixia tudo sob a sua luz no Verão árido e seco que desce nas planícies Alentejanas. Pela imortal perseverança do aspeto conservado nas paredes, nas rugas dos habitantes, na secura dos seus hábitos inalterados, parece até que, a julgar por tudo isso, o sol abrasa também o vagar do tempo da escrava miséria em que se vive. De tudo o que se poderia acusar os alentejanos raramente alguma coisa é mencionada, e quase nenhuma é sua culpa. A lentidão não é um facto, mas uma constante variável da relatividade.
Não são malandros, não são maus, não são tristes. Alguns são, sim, pobres e educados a ser pobres e sem mundo. E alguns, infelizmente, conformados. E a maioria, quando perdeu a terra, perdeu também a identidade. Os seus donos, cuja criação tornou burgueses, herdeiros e sem quase nada de camponês ou agricultor, não fazem ideia do que se sofreu quando ainda não havia cercas a dividir as quintas e a rasgar o campo, do que se aprendeu e do que se improvisou nessas terras fora...
Coitados de nós, Alentejanos. Coitados não! Coitada da terra, e do país, que se vê abandonada do melhor que poderia ter. Não há quem possa apontar dedo na vastidão dos sobreiros, azinheiras, oliveiras, vinhas, enfim, que não encontre um motivo de orgulho. É este orgulho que somos obrigados a levar em duas malas, à conquista do país, de qualquer outra cidade, do mundo e das pessoas. É genuíno.
Assim como os navegadores empoçados em Évora tiveram como horizonte melhor as incertas águas atlânticas com terra por achar, também nos é mais certo os céus sem poiso do que a terra por mudar. E assim, como a eles, morre-me a paisagem nos olhos, desvanecendo como a espuma do mar, ao som de milhares de gritos estridentes das bolhas de ar agrilhoadas entre a água e os rochedos. Choro sempre que te deixo, Alentejo. Morro sempre que não te vejo. E não morrerei em paz, se não tiver na morte o teu beijo.
É mais libertadora a Saudade de te ter, mergulhada nos sabores e nas emoções, de um mundo deslumbrante por conhecer, vivendo desse amor melancólico na almofada, que a paspalhice exacerbada de qualquer outro interior patusco. Devemos ser imateriais, com certeza, pois só assim se explica a beleza de ti, que mim o teu calor carrega.
João M. Pereirinha
Fotógrafo, escritor e poeta
12 Fevereiro 2016 01:49
tribunal Alentejo.pt
Não são malandros, não são maus, não são tristes. Alguns são, sim, pobres e educados a ser pobres e sem mundo. E alguns, infelizmente, conformados. E a maioria, quando perdeu a terra, perdeu também a identidade. Os seus donos, cuja criação tornou burgueses, herdeiros e sem quase nada de camponês ou agricultor, não fazem ideia do que se sofreu quando ainda não havia cercas a dividir as quintas e a rasgar o campo, do que se aprendeu e do que se improvisou nessas terras fora...
Coitados de nós, Alentejanos. Coitados não! Coitada da terra, e do país, que se vê abandonada do melhor que poderia ter. Não há quem possa apontar dedo na vastidão dos sobreiros, azinheiras, oliveiras, vinhas, enfim, que não encontre um motivo de orgulho. É este orgulho que somos obrigados a levar em duas malas, à conquista do país, de qualquer outra cidade, do mundo e das pessoas. É genuíno.
Assim como os navegadores empoçados em Évora tiveram como horizonte melhor as incertas águas atlânticas com terra por achar, também nos é mais certo os céus sem poiso do que a terra por mudar. E assim, como a eles, morre-me a paisagem nos olhos, desvanecendo como a espuma do mar, ao som de milhares de gritos estridentes das bolhas de ar agrilhoadas entre a água e os rochedos. Choro sempre que te deixo, Alentejo. Morro sempre que não te vejo. E não morrerei em paz, se não tiver na morte o teu beijo.
É mais libertadora a Saudade de te ter, mergulhada nos sabores e nas emoções, de um mundo deslumbrante por conhecer, vivendo desse amor melancólico na almofada, que a paspalhice exacerbada de qualquer outro interior patusco. Devemos ser imateriais, com certeza, pois só assim se explica a beleza de ti, que mim o teu calor carrega.
João M. Pereirinha
Fotógrafo, escritor e poeta
12 Fevereiro 2016 01:49
tribunal Alentejo.pt
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