Feiticeiros do Panamá

Depois do canal, do alfaiate e dos papers, surgem agora os Feiticeiros do Panamá. Na antecâmara deste fenómeno esteve uma senhora que, ignorando a sua tremenda responsabilidade, resolve lesar uma região e o próprio país, com uma argumentação absurda e desprovida de qualquer fundamento, desencadeando uma série de perguntas e procedimentos sobre o Centro Internacional de Negócios da Madeira (CINM). Logo depois uma série de indignados, em bloco, a utilizar o seu tempo de antena para reforçar estratégias já antigas de políticas demagogas e populistas.

Num enredo tão fantasioso quanto irreal, o feitiço tentado na opinião pública baseia-se em ingredientes simples:

1) qualquer notícia sobre um offshore num qualquer canto do mundo demonstra que o CINM é um abrigo de todo o tipo de criminosos a larga escala, desde traficantes a corruptos;

2) qualquer nome indicado como estando envolvido no caso do Panamá prova que essa pessoa praticou actos ilícitos;

3) qualquer empresário, mesmo que não relacionado com o caso, ainda que crie emprego e riqueza, é também ele criminoso.

Ora bem, o CINM, além de ter criado milhares de postos de trabalho diretos e indiretos, é gerador de mais de 130 milhões de euros de receita fiscal para a RAM, estando devidamente regulamentado e supervisionado por entidades nacionais e internacionais, a exemplo de tantos outros centros internacionais de negócios na União Europeia.

O facto de um nome surgir envolvido não quer dizer o indivíduo não tenha atuado de forma perfeitamente legal e transparente, e quem cria riqueza e emprego são os empresários, com o seu trabalho e investimento, através das suas empresas. Qualquer modelo económico baseado em ignorar este último fator, falha redondamente, e nada como uma boa lição de História para o demonstrar e esclarecer aqueles que porventura andam mais distraídos, quiçá, por mera conveniência.

Recordando uma intervenção da Sra. Thatcher, há mais de 25 anos, que corre por estes dias nas redes sociais, quem defende a redução das desigualdades não se importa que os ricos sejam menos ricos ainda que os pobres sejam mais pobres. Podemos ir por diversos caminhos, tomar diferentes opções, mas nivelar por baixo nunca me pareceu ser a mais correta. Não quero com isto dizer que não acredito em políticas de extrema esquerda. Pura e simplesmente não acredito em políticas de qualquer extremidade, pois, como é sabido, os opostos atraem-se.

Aos Feiticeiros do Panamá, posso deixar uma sugestão: taxar a ignorância e a má-fé. Porque se estas pagassem imposto, acabávamos, de uma vez por todas, com a malfadada austeridade neste país.

Sérgio Gonçalves
Diário de Notícias da Madeira 
Terça, 19 de Abril de 2016