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Não dizer é não existir
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Não dizer é não existir
Lonnie Carpenter vivia em Nagasaki quando as bombas caíram. Depois veio o horror e o silêncio imposto, o apagar de registos durante décadas. Num jornal do fim de semana, ouço o sussurro da sua voz perante o vazio monstruoso na década de 60: "em breve todas as vítimas morrerão. O problema desaparecerá" - "se não falarmos do assunto ele não existe".
Obama foi a Hiroshima: abraçou um sobrevivente, apelou a um Mundo sem armas nucleares e falou das decisões difíceis que se colocam a quem governa. Entre as palavras ditas, sentidas, e a ação fica o hiato necessário à salvaguarda da gestão dos interesses americanos no Pacífico e seus aliados, segundo os ditames da geopolítica mundial com os seus compromissos estratégicos (comerciais, financeiros) e cumplicidades conjunturais. O reforço ao armento nuclear - como o que ocorre atualmente nos EUA, China, Coreia do Norte, Rússia - é-nos sempre legitimado na lógica primária do jogo do empurra em que cada um tem a "decisão difícil" de fazer face ao poderio do outro. Será assim tão básica a real politics? O que levou, de facto, ao lançamento das bombas em agosto de 1945, a um mês do fim da guerra?
Vi há muitos anos um filme, cujas referências esqueci, mas não as imagens: nas orlas de África com a Europa, uma multidão de esfarrapados tentava saltar o muro da fome. Dados demográficos sobre a população mundial dizem-nos que até 2050 a população de África, onde o El Niño, o mais intenso dos últimos 35 anos, colocou 32 milhões de pessoas, no Sul, em situação de insegurança alimentar (podendo passar a 49 milhões, segundo a ONU) e outros mais 20 milhões na África Oriental, duplicará. Para além da guerra, da escravidão, das condições sub-humanas, a fome é um impulso verdadeiramente básico que não espera.
Que vamos fazer quando nos baterem à porta? Caberão na Turquia em outro local onde um acordo de remediação possa ter serventia? Ergueremos muros ainda mais altos, salvaguardando a circulação de matérias-primas e outros bens que nos são necessários? Reuniremos as hostes para construirmos um novo tratado enquadrador do problema, definindo regras e normas enquanto os barcos afundam num cemitério sem fim? Talvez nada, porque "em breve todas as vítimas morrerão. O problema desaparecerá". Mas, nessa altura, os que sobreviverem também terão desaparecido no silêncio.
Rosário Gambôa
03 Junho 2016 às 00:01
Jornal de Notícias
Obama foi a Hiroshima: abraçou um sobrevivente, apelou a um Mundo sem armas nucleares e falou das decisões difíceis que se colocam a quem governa. Entre as palavras ditas, sentidas, e a ação fica o hiato necessário à salvaguarda da gestão dos interesses americanos no Pacífico e seus aliados, segundo os ditames da geopolítica mundial com os seus compromissos estratégicos (comerciais, financeiros) e cumplicidades conjunturais. O reforço ao armento nuclear - como o que ocorre atualmente nos EUA, China, Coreia do Norte, Rússia - é-nos sempre legitimado na lógica primária do jogo do empurra em que cada um tem a "decisão difícil" de fazer face ao poderio do outro. Será assim tão básica a real politics? O que levou, de facto, ao lançamento das bombas em agosto de 1945, a um mês do fim da guerra?
Vi há muitos anos um filme, cujas referências esqueci, mas não as imagens: nas orlas de África com a Europa, uma multidão de esfarrapados tentava saltar o muro da fome. Dados demográficos sobre a população mundial dizem-nos que até 2050 a população de África, onde o El Niño, o mais intenso dos últimos 35 anos, colocou 32 milhões de pessoas, no Sul, em situação de insegurança alimentar (podendo passar a 49 milhões, segundo a ONU) e outros mais 20 milhões na África Oriental, duplicará. Para além da guerra, da escravidão, das condições sub-humanas, a fome é um impulso verdadeiramente básico que não espera.
Que vamos fazer quando nos baterem à porta? Caberão na Turquia em outro local onde um acordo de remediação possa ter serventia? Ergueremos muros ainda mais altos, salvaguardando a circulação de matérias-primas e outros bens que nos são necessários? Reuniremos as hostes para construirmos um novo tratado enquadrador do problema, definindo regras e normas enquanto os barcos afundam num cemitério sem fim? Talvez nada, porque "em breve todas as vítimas morrerão. O problema desaparecerá". Mas, nessa altura, os que sobreviverem também terão desaparecido no silêncio.
Rosário Gambôa
03 Junho 2016 às 00:01
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