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Dizer que
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Dizer que
O tique do momento, que está em todo o lado, é atributo dos bons falantes, é de bom tom... É: dizer que...
Na oralidade há tiques e truques muito interessantes, intencionais por vezes, difíceis de esconder noutros casos. Em ambas as situações a mensagem transmite-se de forma diferente, dependendo do emissor.
Há casos em que os tiques obedecem a modas, outros que refletem a condição social, outros que identificam a “tribo” a que pertence determinado individuo e outros em que são meras muletas do discurso.
Por exemplo falar cool é um tique identificativo de quem está noutra, de quem é critico em relação a muitas coisas (às vezes não definindo exatamente o quê) e curtir bué de música é uma cena obrigatória, principalmente se for hip hop, ou algo parecido desde que seja falado.
O que muitos teenagers de hoje desconhecem é que já nos anos 70/80, na sequência da vinda dos portugueses das colónias, outros teenagers adotavam as mesmas palavras, muito estranhas aos ouvidos de quem sempre viveu no Portugal fechado do antigo regime. No tempo em que alguns de nós andávamos no liceu já se curtia tótil acreditem. Yah meu! Essas palavras, as mesmas, eram na altura importadas das antigas colónias e vinham através dos adolescentes apelidados de retornados que tinham tido contacto com a população de Angola e Moçambique. Isto porque alguns destes vocábulos são oriundos dos dialetos locais.
No Portugal pós revolucionário os tiques do discurso de qualquer elemento da esquerda progressista que se prezasse eram por demais evidentes. Colega era uma coisa absolutamente reacionária e definitivamente substituída por camarada. Também não se falava da melhoria das condições de vida das famílias, como se diz no discurso político atual, mas sim dos direitos dos trabalhadores, como se os patrões não fossem eles próprios trabalhadores também!
Os intelectuais tudo faziam para se confundirem com os operários e não havia frase que não incluísse interjeições muito próprias e por demais repetidas. Não é pá?
Eram os tempos daquilo a que se convencionou chamar a cassete e que consistia na quase obrigatoriedade de adotar os mesmos tiques de linguagem dos líderes políticos da altura.
Também existem os tiques do discurso politicamente correto. Se baterem à porta de um advogado famoso ou de um diplomata de carreira e perguntarem - posso entrar? É provável que a resposta seja um - absolutamente - em vez de um simples sim. Faz parte de uma forma de estar, reflete um estatuto. Percebe-se.
No futebol é mais divertido, muito mais! De alguns anos para cá, fruto da ida de alguns jogadores portugueses para Espanha (presumo) começou-se a falar com um certo balanço castelhano, mesmo que nunca se tivesse lá vivido ou jogado.
Por exemplo a resposta a uma pergunta do género – que acha da derrota que a sua equipa acabou de sofrer? O entrevistado franze a testa e diz: Como eu já disse... – embora obviamente não tivesse dito nada antes – esta derrota é... é... normal e... não significa nada... Agora é... é levantar a cabeça e... - muito engraçado e incrivelmente padronizado!
Mas o tique da moda, o tique do momento, que está em todo o lado, é atributo dos bons falantes, é de bom tom, é adotado por políticos, comentadores e outros. É: dizer que...
A quantidade de gente que começa as frases por - dizer que... (!) Liguem a TV e aprendam a empregar este tique, estejam atentos. É o tique do momento e o truque que está a dar. “Um must”!
Eduardo Guardado
Diário de Notícias da Madeira
Sexta, 6 de Maio de 2016
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