Boas notícias

Todos os dias, desde que Edward Jenner começou a triturar as crostas de feridas provocadas pela varíola e a soprar esse pó pelas narinas das crianças, nove milhões de vidas foram salvas. O médico britânico percebeu que a presença do vírus morto gerava uma reação do sistema imunológico que lhe permitia aprender a defender-se quando posto em contacto com o vírus vivo. E em pouco tempo inventava a primeira vacina. Hoje, só uma das 16 doenças para as quais existe inoculação realmente desapareceu - precisamente a varíola. Mas os números da Unicef não deixam margem para dúvidas. A vacinação é um sucesso que permitiu controlar - em alguns casos, quase erradicar, mesmo que em certas partes do mundo os vírus se mantenham ativos - o sarampo, a rubéola, a poliomielite, a difteria, o tétano e a tosse convulsa. Com os programas de vacinação a chegar finalmente aos países em desenvolvimento, o caminho para o fim de doenças que ali ainda fazem vítimas pode ganhar velocidade. Hoje, em Portugal, também há boas notícias. A tuberculose, segunda doença infecciosa que mais mata no mundo (1,5 milhões, sobretudo em África e na Ásia), e que aqui se mantinha teimosamente acima da linha vermelha - no resto da Europa Ocidental está há anos abaixo dos 20 novos casos por cada 100 mil habitantes -, deixou de ser um risco iminente. A partir de janeiro só as crianças de grupos de risco vão levar a BCG. O que leva ao outro lado positivo nesta notícia. A fatia dedicada à BCG, de 30 milhões de euros orçamentados no Programa Nacional de Vacinação, vai poder ser gasta noutras inoculações. Como a da meningite B - doença rara mas grave, que em um terço dos casos resulta em morte ou deixa sequelas. Ou a do vírus do papiloma humano, que provoca cancro do colo do útero, e que em apenas dez anos de aplicação fez reduzir-se em 85% o número de casos de pré-cancro cervical. Os estudos são cautelosos - uma década não chega para atestar o êxito para além de qualquer dúvida -, mas revelam que vale bem a pena prosseguir e melhorar o trabalho que Jenner começou há 200 anos

Editorial
17 DE JUNHO DE 2016
00:27
Joana Petiz
Diário de Notícias