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Muros: Património da Humanidade
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Muros: Património da Humanidade
A nossa cidade está a ficar descaracterizada, com cheiro demasiado forte a betão
Durante muito tempo falou-se numa série de coisas para concorrerem a património Mundial da Humanidade: Floresta Laurisilva, Levadas, “Poios” e Ilhas Selvagens. De todas, até agora, só conseguimos a primeira, nossa autêntica fábrica de água, que é recolhida a Norte para alimentar, lavar e irrigar grande parte da Costa Sul. Os ventos que sopram do mar carregados de humidade, ao encontrarem as folhas das Laureaceas, principal família daquela floresta, condensa-se e cai no solo, quantidades que chegam a atingir os dez litros/m2/dia. As Levadas do Norte e da Calheta que começam no Seixal, a dos Tornos com o seu começo na Boaventura, a Levada do Faial e a Levada da Portela, para só falar nas principais, que como se vê, têm o seu início no Norte, nem sempre compensado por esse facto, nem reconhecido por quem manda….Voltemos às primeiras linhas com maior incidência nas paredes que suportam os nossos” poios”, designação dada aos socalcos madeirenses que permitiram a criação de solo arável. Foram construídos durante gerações com muito sacrifício das populações numa conjugação : Poios/levadas para produzir a base da nossa alimentação/industria. Só quem anda nos terrenos e que de vez em quando pára para apreciar essa maravilha da engenharia popular, que juntamente com a sua arte permitiu erguer muros de pedra seca altíssimos, muitas vezes em que a superfície vertical é maior do que a horizontal!!!! Tudo feito à mão, não existiam máquinas e muitas vezes tinham que recorrer a essa tal engenharia popular e à sua arte para conseguir erguer e deslocar pedras que pesam muitas toneladas. Grande trabalho dos nossos antepassados.
Nos tempos actuais, os agricultores, através das chamadas ajudas agro/ambientais recebem apoios comunitários para conservar essa rede de paredes, obrigando a mantê-la por ciclos de cinco anos, mas se, uma Camara Municipal ou o Governo Regional, alargar uma estrada, ou construir uma estrada nova, por exemplo, já a reconstrói em betão, ciclópico ou armado, o dono do terreno perde os referidos apoios.
Tudo isto vem a propósito do crime que se está a cometer nas ribeiras que atravessam a cidade do Funchal. Paredes feitas por madeirenses coordenadas por Oudinot, em pedra, autênticas obras de arte, assim como as pontes que as ligam e que muitas vezes passavam despercebidas à maior parte das pessoas a partir de agora escondidas pelo betão. Contudo após a fusão das fozes de duas dessas ribeiras e o seu arranjo, nomeadamente na Ribeira de João Gomes, e também na Ribeira de São João com paredes em betão a substituíram até à ponte do mercado, e dos bombeiros Municipais até ao mar, permite-nos ter uma ideia de quão estranho ficará o Funchal. E já agora, permitam-me que fale nas bouganvileas que cobrem (cobriam nalguns casos) que davam um lindo colorido à cidade e que plantaram junto a essas novas muralhas, esquecendo-se que para viverem precisam de várias coisas, entre as quais: terra, água e alimento. Já fizemos referência noutro artigo a este caso (sobre a Praça do Povo). Tememos que as que existem na Ribeira de Santa Luzia acabem por desaparecer, porque têm sobrevivido à sua custa e à benignidade do nosso clima.
A largura das ribeiras será encolhida e mesmo que aprofundem não resolverá o problema, principalmente se vierem troncos de árvores de grande porte, que acabarão por entulhar a própria ribeira, fazendo tudo transbordar. Dizem que o fundo será tipo “tubogan” mas se vierem árvores e “fincarem” as extremidades nas paredes laterais, o que acontecerá?
O Transito está um caos em toda a zona de intervenção, com engarrafamentos em cima de engarrafamentos, a que os madeirenses não estavam habituados. Será que a obra não poderia ser faseada, de maneira a causar o mínimo de transtorno e num respeito por quem paga os seus impostos? Não será possível uma afinação, às novas circunstâncias, dos semáforos?
A nossa cidade está a ficar descaracterizada, com cheiro demasiado forte a betão. Obras que o Governo não ouviu a Camara Municipal do Funchal, demonstrando claramente a lei do mais forte, tal como aconteceu nos tempos da colonia, em que o mais forte explorava os mais fracos. É de lamentar que em tempos “novos” se continue com “manhas” antigas.
Não consiguimos perceber como se pensa em candidatar os muros de pedra seca a Património da Humanidade, como é atribuído um prémio aos agricultores para manter os seus muros e comete-se o crime de tapar os muros de pedra das nossas ribeiras?
Duarte Caldeira Ferreira
Diário de Notícias da Madeira
Sexta, 24 de Junho de 2016
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