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Mensagem por Admin Qua Jul 27, 2016 10:18 am

Como dizia, ontem, Miguel Esteves Cardoso, "Há aquele tempo em que se diz que nunca mais chega o calor. E depois o calor chega. E fica. E cresce. Até ao dia em que dizemos que queríamos calor - mas não tanto". Isto é assim sobre o clima, mas a lógica é quase sempre a mesma para uma série de outros assuntos, mesmo os mais sérios e ricos, como são os casos da governação do país, da execução orçamental e do procedimento de défices excessivos. Com o anterior governo também houve aquele tempo em que nunca mais chegava o alívio na austeridade. E depois ele chegou. E ficou. Mas, afinal, descobriu-se que era isso que a maioria queria - mas não tanto. E é, assim, ao sabor das execuções orçamentais, divulgadas, mensalmente, pelas Finanças, bem como ao ritmo de Bruxelas, que já disse tudo e mais um par de botas sobre a economia portuguesa, que se vive mais uma época estival, que arranca bem, com calor, com a vitória do Euro 2016 e, claro, com um Presidente brilhantemente otimista. Apetece dizer enjoy it. Não só porque a bonança não deverá durar muito mais tempo, mas, sobretudo, porque, até ao momento, não aconteceu nada de verdadeiramente dramático. A execução orçamental de junho tem aspetos positivos e outros preocupantes. Não se pode concluir que os 971,2 milhões de euros a menos no défice das Administrações Públicas (calculado na ótica da contabilidade pública, que não é utilizado para os reportes a Bruxelas) são o princípio do fim dos desequilíbrios orçamentais nacionais. Mas também não se pode concluir que estes primeiros seis meses farão a segunda metade de 2016. Há dúvidas, pontos de tensão, riscos, como em qualquer execução de um orçamento. A redução do défice é atingida através de uma importante contenção da despesa, nomeadamente do investimento público. Até ao final de junho, a queda nesta rubrica foi de 19,5% face ao ano passado; o valor inscrito no orçamento apontava para uma subida de 14,8%. A receita fiscal também não se portou bem, com os principais impostos, como o IRS e o IRC, a darem sinais de abrandamento. E virão os bancos. Isso poderá significar que a economia portuguesa está estagnada, como acusa o PSD? Não se sabe. E porquê? Porque falta meio ano de orçamento, este documento viveu de duodécimos até abril, o valor das cativações desbloqueadas pelo governo é francamente baixo e ainda há muita economia para andar. Portanto, não confie e não duvide, ou se decidir fazê-lo, faça-o - mas não tanto. Acredite em Marcelo, não há milagres, mas também não há crises à vista. Volte no final deste trimestre.

PS. À hora que escrevo, não há ainda decisão sobre eventuais sanções a Portugal e Espanha. E acredito que, a existirem, serão simbólicas e inofensivas. Se assim não for, como disse ontem Fernando Ulrich, tudo muda, e "tornar-se-á mais difícil que as pessoas percebam a Europa e todo o seu projeto".

27 DE JULHO DE 2016
00:00
Sílvia Oliveira
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