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Apagar a História
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Apagar a História
Tenho acompanhado com interesse, e grande desilusão pessoal, a obra que está a adulterar as ribeiras do Funchal.
Na verdade, desde o início que acho aquilo uma aberração, um desperdício, uma vergonha. Mas isso sou eu, que não percebo nada daquilo. Eu e muitos outros - cada vez mais, entre esses, alguns especialistas - que discordam deste desenvolvimento que o 'nosso senhor governo renovado' nos deparou.
Toda aquela azáfama feita de maquinaria pesada, dezenas de camiões, betoneiras, ferro aos molhos e paletes de cimento faz-me pensar em duas fases distintas da nossa desgovernação. Primeiro, parece que regressámos àquele pico do desenvolvimento alcançado em 2008, com a ilha a ser esventrada e cimentada à força toda a meses das eleições. Nesse ano, lembram-se? morreu a Madeira Nova, nasceu a Madeira Contemporânea. E com ela veio a crise, o desemprego, os impostos e o castigo com o Plano de Ajustamento Económico e Financeiro, que ainda mal começámos a pagar. O segundo pensamento reduz-se a uma simples e cruel constatação: não aprendemos nada. Mesmo nada!
E isso é que me assusta mais. Passados alguns anos, o caminho é o mesmo. O modelo de desenvolvimento que seguimos - se é que se pode chamar modelo e muito menos desenvolvimento a isto - leva-nos outra vez contra a parede. Literalmente.
E então é ver esta coisa triste e pacóvia de se derramar cimento onde durante 200 anos estiveram pedras cuidadosamente emparelhadas.
Dizem eles, os que pensam que mandam, que é por causa da segurança; os que mandam mesmo, sabem que assim ficam as suas contas mais seguras; e os que apenas são mandados, acreditam piamente no que lhes dizem os que pensam que mandam. E agradecem. E julgam que é desenvolvimento que cresce assim, de manhã à noite, pela ribeira acima. O que cresce, além do muro, é a factura que todos vamos ter de pagar mal acabem as obras. Outra e outra vez.
Admito que alguns troços precisam de intervenção, é normal em qualquer infra-estrutura. Chamam-lhes trabalhos de manutenção. O que já me parece claramente abusivo é este afã demolidor que tomou conta da cidade, que derruba pontes, tapa pedra com cimento e apaga a História como se fosse uma conta mal feita no quadro da primária. E não é!
Para quem ainda não percebeu, não quis perceber, ou não viu o que se passa dentro das ribeiras de Santa Luzia e São João atrevo-me a deixar uma sugestão e um exercício: vão lá ver com os próprios olhos. Mas sejam rápidos, porque dentro de dias estará tudo tapado com cimento. E convido-vos a pensar se fariam a mesma coisa se, por acaso, herdassem uma casa velha mas firme e toda em pedra. Estou certo que não.
E o mais curioso disto tudo é a incoerência: os que agora se apressam a forrar a cimento as paredes de pedra no centro da cidade, são praticamente os mesmos que mandaram forrar muros de cimento a pedra em lugares onde quase ninguém vê. Passem na mórbida cota 500 e admirem os paredões que lá, como em outros locais, se ergueram em nome da História. A mesma História que agora se apaga no centro da cidade.
Miguel Silva
Actualizado há 7 horas e 55 minutos
Diário de Notícias da Madeira
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