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Uma Espanha pouco exemplar
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Uma Espanha pouco exemplar
Há dias, numa reunião com os correspondentes estrangeiros em Lisboa, o primeiro-ministro, António Costa, expressou o seu desejo de que haja rapidamente um novo governo estável em Espanha, seja de que cor for. É uma declaração que é preciso agradecer e interpretar no tom protocolar em que se produziu, mas que temos de ver com uma certa ironia, porque o executivo português, que é essencialmente precário desde que nasceu, livrou-se da multa de Bruxelas por incumprimento do défice público indo à boleia de Espanha, que era o peixe mais gordo que não convinha sancionar, e porque ainda há uma diferença notável entre Portugal e Espanha, muito desagradável para Costa. A economia portuguesa continua praticamente estagnada, enquanto a espanhola cresce a um ritmo de 3% gerando abundante emprego apesar de ter um governo em funções. Portugal evitou por agora a troika graças a Espanha e deverá esforçar-se ao máximo para reduzir os gastos para não voltar a sofrer uma intervenção, dada a frágil saúde do seu orçamento público e a comatosa situação do seu sistema financeiro. Dito isto, concordo com Costa que seria muito desejável que Espanha tivesse um novo governo o mais rapidamente possível. Mas não é possível. O meu país é muito pouco exemplar. Temos uma esquerda que odeia geneticamente a direita e que está a fazer o possível para a expulsar do poder. Nisto não é muito diferente da portuguesa. Com uma exceção. Em Portugal, a esquerda somou os deputados necessários para formar governo. Em Espanha, as contas não o permitem, mas dão-lhe os números suficientes para impedir de momento que Rajoy continue na Moncloa.
Rajoy fracassou na sua tentativa de investidura e é muito provável que terminemos numas novas eleições, caindo numa situação à beira do ridículo. O fracasso de Rajoy ocorreu apesar de ter feito concessões aberrantes para ser eleito. Abraçou as teses socialistas sem pudor, o que não surpreende dada a falta de princípios liberais de que padece. No meu país, para ter alguma opção eleitoral, é preciso ir ao social. É preciso mostrar que se é bom. É preciso prometer gastar mais nos sistemas de proteção e no reforço do Estado social. Os cidadãos interiorizaram, por causa da eficaz propaganda da esquerda, que houve cortes monumentais por causa da crise, algo completamente falso, e por isso estão mais atentos a quem propõe recuperar um padrão de vida impossível.
O Ciudadanos, que é um partido vago - não se sabe se é de direita ou de esquerda - com o qual o PP se aliou para tentar que Rajoy fosse investido primeiro-ministro, conseguiu que fossem aceites várias medidas disparatadas: um complemento de rendimento para os salários baixos, um plano contra a pobreza infantil, um programa contra o fracasso escolar, uma ampliação das licenças de paternidade e maternidade e uma melhoria da educação dos 0 aos 3 anos. As propostas obscenas do Ciudadanos, com o objetivo de facilitar a investidura de Rajoy, excediam os sete mil milhões num contexto em que a União Europeia, como contrapartida por nos ter perdoado a multa pelo incumprimento do nosso compromisso de redução do défice, nos exige um ajuste de dez mil milhões em dois anos.
Naturalmente, estava prevista uma forma de financiar esta explosão do gasto público para não parecerem incompetentes, mas as vias escolhidas eram absurdas: lutando mais contra a fraude fiscal, uma mostra de voluntarismo político inaceitável, e subindo os impostos sobre as empresas, que só serviria para drenar o crescimento económico sem produzir rendimentos adicionais em termos líquidos. Apesar destas cedências, destinadas claramente a obter a imprescindível abstenção do Partido Socialista para que Rajoy ganhasse a investidura, o senhor Sánchez votou contra.
Rajoy fracassou como consequência do ódio genético à direita que é a palavra de ordem da esquerda do meu país. Mas não é algo que me perturbe. As propostas que se fazem em economia com a melhor das intenções têm consequências indesejadas e quase sempre nocivas. Um complemento salarial para os rendimentos baixos como quer a esquerda espanhola instalaria quem ganha pouco na armadilha da pobreza. Acabaria com qualquer tipo de estímulo para que as pessoas em situação precária se esforcem até conseguir uma maior remuneração ou encontrem um trabalho melhor com um salário mais elevado. É uma medida que estaria além disso, caso fosse aprovada, a gerar abusos e estimular a picardia.
Pobreza infantil não há em Espanha, como não há em Portugal, por muito que diga o Ciudadanos, o Partido Socialista ou qualquer ONG estúpida que se deixe usar. Pobreza infantil há - e muito menos que antes - em África, Ásia, América do Sul, onde todos sabemos. Não existe em nenhum país desenvolvido nem em Espanha. Como também não há pobreza energética porque o preço da eletricidade para os lares é perfeitamente aceitável para qualquer família, a menos que esteja na miséria completa. Em Espanha existem os problemas próprios de um país rico. O da obesidade, porque há algumas famílias que em vez de fazerem uma sopa de legumes para as crianças preferem alimentá-las com donuts, ou o da bulimia digital, que leva algumas pessoas com poucos recursos a usar os subsídios que recebem para comprar aos filhos um telemóvel de última geração em vez de algo para comer. Pobreza infantil, como a que estudámos na escola, não existe.
O fracasso escolar, que se quer combater com a melhor das intenções em Espanha, também não se resolverá gastando mais dinheiro no ensino, mas desenhando um sistema educativo mais eficiente, que premeie o esforço e a excelência. Não como o atual, que favorece a abulia, a mediocridade e o parasitismo. E em relação ao aumento das licenças de paternidade e maternidade para favorecer a conciliação familiar, parece-me uma proposta obscena, dado o estado geral da economia. Eu não precisei disso, os meus pais muito menos, e aqui continuamos sem nos dar por vencidos. É uma proposta completamente viciosa... e caríssima.
As pessoas nasceram para trabalhar, para construir, para edificar, para deixar marcas da nossa passagem pelo mundo. Para ter filhos que permitam a sobrevivência da espécie e melhorem a vida em comum. É claro também para amar e desfrutar a vida. Mas não para receber ajudas e subsídios que a única coisa que fazem é fomentar a comodidade, entontecer as pessoas e apagar a sua capacidade de gerar riqueza. As pessoas crescem, amadurecem e tornam--se alguém lutando contra as dificuldades, não brincando num jacuzzi, que é o modelo da esquerda. O Estado social é nocivo não só porque é financeiramente impossível, mas porque é culturalmente nocivo. Porque nos acostuma a viver do Estado desde o berço até ao caixão e vai acabando com todas as nossas destrezas e capacidades, convertendo a natureza humana, que é por si só viva e combativa, em pueril e entregue à vitimização, reivindicativa de direitos em vez de honrada com as obrigações que temos para connosco e para com os outros.
O gasto extra de mais sete mil milhões que propunha o Ciudadanos para facilitar a investidura de Rajoy era um disparate. Teria obrigado a subir os impostos e isso é a última coisa que queremos os liberais e qualquer pessoa com sentido comum, que aspira a conservar o maior fruto possível do seu trabalho. Infelizmente, aos socialistas ainda lhes parecia pouco. Por isso, não só não temos ainda um governo em Espanha, como desejava Costa, mas, dadas as pretensões da esquerda, tenho a certeza absoluta de que o próximo irá na pior direção possível.
09 DE SETEMBRO DE 2016
00:01
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
Rajoy fracassou na sua tentativa de investidura e é muito provável que terminemos numas novas eleições, caindo numa situação à beira do ridículo. O fracasso de Rajoy ocorreu apesar de ter feito concessões aberrantes para ser eleito. Abraçou as teses socialistas sem pudor, o que não surpreende dada a falta de princípios liberais de que padece. No meu país, para ter alguma opção eleitoral, é preciso ir ao social. É preciso mostrar que se é bom. É preciso prometer gastar mais nos sistemas de proteção e no reforço do Estado social. Os cidadãos interiorizaram, por causa da eficaz propaganda da esquerda, que houve cortes monumentais por causa da crise, algo completamente falso, e por isso estão mais atentos a quem propõe recuperar um padrão de vida impossível.
O Ciudadanos, que é um partido vago - não se sabe se é de direita ou de esquerda - com o qual o PP se aliou para tentar que Rajoy fosse investido primeiro-ministro, conseguiu que fossem aceites várias medidas disparatadas: um complemento de rendimento para os salários baixos, um plano contra a pobreza infantil, um programa contra o fracasso escolar, uma ampliação das licenças de paternidade e maternidade e uma melhoria da educação dos 0 aos 3 anos. As propostas obscenas do Ciudadanos, com o objetivo de facilitar a investidura de Rajoy, excediam os sete mil milhões num contexto em que a União Europeia, como contrapartida por nos ter perdoado a multa pelo incumprimento do nosso compromisso de redução do défice, nos exige um ajuste de dez mil milhões em dois anos.
Naturalmente, estava prevista uma forma de financiar esta explosão do gasto público para não parecerem incompetentes, mas as vias escolhidas eram absurdas: lutando mais contra a fraude fiscal, uma mostra de voluntarismo político inaceitável, e subindo os impostos sobre as empresas, que só serviria para drenar o crescimento económico sem produzir rendimentos adicionais em termos líquidos. Apesar destas cedências, destinadas claramente a obter a imprescindível abstenção do Partido Socialista para que Rajoy ganhasse a investidura, o senhor Sánchez votou contra.
Rajoy fracassou como consequência do ódio genético à direita que é a palavra de ordem da esquerda do meu país. Mas não é algo que me perturbe. As propostas que se fazem em economia com a melhor das intenções têm consequências indesejadas e quase sempre nocivas. Um complemento salarial para os rendimentos baixos como quer a esquerda espanhola instalaria quem ganha pouco na armadilha da pobreza. Acabaria com qualquer tipo de estímulo para que as pessoas em situação precária se esforcem até conseguir uma maior remuneração ou encontrem um trabalho melhor com um salário mais elevado. É uma medida que estaria além disso, caso fosse aprovada, a gerar abusos e estimular a picardia.
Pobreza infantil não há em Espanha, como não há em Portugal, por muito que diga o Ciudadanos, o Partido Socialista ou qualquer ONG estúpida que se deixe usar. Pobreza infantil há - e muito menos que antes - em África, Ásia, América do Sul, onde todos sabemos. Não existe em nenhum país desenvolvido nem em Espanha. Como também não há pobreza energética porque o preço da eletricidade para os lares é perfeitamente aceitável para qualquer família, a menos que esteja na miséria completa. Em Espanha existem os problemas próprios de um país rico. O da obesidade, porque há algumas famílias que em vez de fazerem uma sopa de legumes para as crianças preferem alimentá-las com donuts, ou o da bulimia digital, que leva algumas pessoas com poucos recursos a usar os subsídios que recebem para comprar aos filhos um telemóvel de última geração em vez de algo para comer. Pobreza infantil, como a que estudámos na escola, não existe.
O fracasso escolar, que se quer combater com a melhor das intenções em Espanha, também não se resolverá gastando mais dinheiro no ensino, mas desenhando um sistema educativo mais eficiente, que premeie o esforço e a excelência. Não como o atual, que favorece a abulia, a mediocridade e o parasitismo. E em relação ao aumento das licenças de paternidade e maternidade para favorecer a conciliação familiar, parece-me uma proposta obscena, dado o estado geral da economia. Eu não precisei disso, os meus pais muito menos, e aqui continuamos sem nos dar por vencidos. É uma proposta completamente viciosa... e caríssima.
As pessoas nasceram para trabalhar, para construir, para edificar, para deixar marcas da nossa passagem pelo mundo. Para ter filhos que permitam a sobrevivência da espécie e melhorem a vida em comum. É claro também para amar e desfrutar a vida. Mas não para receber ajudas e subsídios que a única coisa que fazem é fomentar a comodidade, entontecer as pessoas e apagar a sua capacidade de gerar riqueza. As pessoas crescem, amadurecem e tornam--se alguém lutando contra as dificuldades, não brincando num jacuzzi, que é o modelo da esquerda. O Estado social é nocivo não só porque é financeiramente impossível, mas porque é culturalmente nocivo. Porque nos acostuma a viver do Estado desde o berço até ao caixão e vai acabando com todas as nossas destrezas e capacidades, convertendo a natureza humana, que é por si só viva e combativa, em pueril e entregue à vitimização, reivindicativa de direitos em vez de honrada com as obrigações que temos para connosco e para com os outros.
O gasto extra de mais sete mil milhões que propunha o Ciudadanos para facilitar a investidura de Rajoy era um disparate. Teria obrigado a subir os impostos e isso é a última coisa que queremos os liberais e qualquer pessoa com sentido comum, que aspira a conservar o maior fruto possível do seu trabalho. Infelizmente, aos socialistas ainda lhes parecia pouco. Por isso, não só não temos ainda um governo em Espanha, como desejava Costa, mas, dadas as pretensões da esquerda, tenho a certeza absoluta de que o próximo irá na pior direção possível.
09 DE SETEMBRO DE 2016
00:01
Miguel Angel Belloso
Diário de Notícias
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