A liderança e o género

Nos dias 8, 9 e 10 de setembro, realizou-se no Funchal uma iniciativa entusiasticamente preparada pelo Departamento Nacional de Mulheres Socialistas. Para além da presidente do departamento, Elza Pais, o evento contou com a participação de membros do governo da República, nomeadamente a Secretária de Estado, Fernanda Rollo e o Ministro Adjunto do Primeiro Ministro, Eduardo Cabrita, com elementos de anteriores governos, deputados da AR, incluindo o presidente do PS Madeira, Carlos Pereira, a UMAR e especialistas na área da igualdade de género. Não tendo sido reservada a mulheres, a Escola de Verão para as Lideranças teve na base das diversas apresentações e reflexões feitas o binómio género/liderança.

Ali se reafirmou a importância da Educação como instrumento para o reconhecimento, a dignidade humana, a mudança de mentalidades e para a mobilidade social. Esse desiderato poderá ser alcançado se se promover o acesso a níveis de ensino superior, combatendo as desigualdades sociais no acesso ao ensino, garantindo que os jovens não sejam impedidos de prosseguir os seus estudos por falta de recursos económicos e criando condições para os adultos adquirirem outras habilitações.

A maioria da população empregada tem o ensino básico apenas, sendo que qualificados com o ensino superior a taxa é de 19% de homens e 31% de mulheres ativas no setor profissional. Temos verificado nos últimos anos uma tendência subtil de crescimento do número de mulheres no mercado de trabalho, em sentido inverso nos homens. A taxa de atividade nas mulheres passou de 13% em 1960 para 60% em 2015.

Estes dados refletem uma realidade que terá consequências no quadro de emprego no país, naturalmente. O crescente aumento de habilitações escolares entre o sexo feminino vai ter reflexos nas profissões qualificadas. Neste momento, e apesar do nível de qualificações, existe uma grande assimetria entre géneros nos cargos de direção e de responsabilidade. Das empresas cotadas na Bolsa e na Banca não há nenhuma mulher a assumir um cargo de presidente de direção. O mesmo se verifica na administração pública, onde há mais mulheres, mas menos nos cargos de chefia e direção. Até mesmo no setor da Educação, onde claramente predomina o sexo feminino, quando nos aproximamos das estruturas de direção, poucas são as mulheres a ocupar esses cargos.

Este quadro deverá fazer-nos refletir sobre os paradigmas de liderança e a importância de encontrar novos modelos que permitam a participação de todos, independentemente do género, na vida pública e política e a conciliação entre a esfera pública e a privada.  Parafraseando o ministro Eduardo Cabrita, não há uma lei natural para repor a igualdade entre todos. Há quem ache que não devemos impor regras administrativas que condicionem a participação política e cívica e que a realidade se encarregará de mudar o mundo. Experiências comparativas demonstram que é preciso vontade política forte, uma posição ativa das políticas públicas para que a realidade mude em relação à participação das mulheres na política e nos órgãos de decisão.

Sofia Canha Deputada do PS-M
Diário de Notícias da Madeira 
Sábado, 24 de Setembro de 2016