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Primeiro vão atrás dos ricos...
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Primeiro vão atrás dos ricos...
Queria partilhar uma coisa que me atormenta: suspeito de pessoas com chapéu de coco. Talvez seja por causa do assustador Malcolm Mcdowell/Alex DeLarge de Stanley Kubrick/Anthony Burgess ou talvez por causa de me parecer evidente que por baixo daquela abóbada sobra espaço para guardar alguma ferramenta de malfeitoria. A verdade é que pessoas de chapéu de coco têm qualquer coisa de sinistro e deveriam ser alvo de maior atenção por parte das autoridades. Gostaria por isso de propor que se permitisse que um portador de chapéu de coco pudesse ser revistado pela polícia, à discrição do agente, na via pública. Repare, caro leitor, não há assim tantos portadores de chapéu de coco e até isso indica que há qualquer coisa de estranho nessas pessoas. Permitindo-se que a polícia mantivesse rédea curta sobre estas pessoas estava-se a garantir a segurança dos demais cidadãos afetando-se um número ridiculamente baixo de pessoas que assim como assim andam a pedi-las, de chapéu de coco e tudo.
O que parece um parágrafo de alguém “ligeiramente” obcecado pela Laranja Mecânica podia ler-se também sobre a mais recente tirada do nosso governo geringonça no que diz respeito aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Aparentemente o lema é “quem não deve não teme” (frase atribuída a Goebbels ainda que não seja verdade – mas plausível, daí a omnipresença da atribuição) e como tal os portugueses podem-se preparar para, caso calhem de ter um determinado valor de dinheiro no banco (digo já que o limite me é perfeitamente irrelevante, vamos dizer que é o valor do PIB) terem os funcionários do governo a poder olhar-lhes para as contas bancárias (saldos, movimentos e tudo) só porque sim. Em rigor não é “porque sim”, é porque nas cabeças dos nossos legisladores antes de algum senhor do estado olhar para as nossas contas bancárias todos somos suspeitos. De quê? Eles depois logo veem.
Dir-me-ão que os valores de que se fala são tão altos que ninguém normal será apanhado a ter um senhor do governo a ver a sua conta bancária. Isso é como os homens de chapéu de coco, não é? “Então se uma medida só afeta uma pequena parte da população, porque nos há de preocupar, a nós comuns mortais, que seja instituída?” Porque exatamente o mesmo princípio que se aplica para dizer que são contas acima dum determinado valor, se aplica a fazer-se o mesmo a contas de menor valor: o valor é arbitrário e a razão é “porque sim”. Não estamos a falar de pessoas sobre a qual se levantou uma suspeita, de cidadãos aos quais um juiz autorizou que se investigasse mais a fundo um indício de crime. Não estamos sequer a falar duma coisa completamente diferente que é a situação de quem precisa de comprovar que se encontra numa situação patrimonial tal que precisa de apoio do estado. Estamos a falar de pessoas, como disse Clara Ferreira Alves recentemente e muito bem, que não têm nenhum contrato com o estado a permitir que o estado disponha da sua vida.
Há claro uma visão retorcida da economia no meio disto. A ideia de que para uns enriquecerem outros têm de empobrecer e que portanto é preciso ir atrás de quem anda a acumular, como dizia Mariana Mortágua, para combater a pobreza. A ignorância económica por trás desta ideia é enorme mas permitir que ela se transforme num ataque ao direito à presunção da inocência é um caminho muito íngreme. É a certeza aliás de que as ideias comuno-fascistas tomaram conta do espaço político e são apresentadas como sendo respeitáveis. É a ideia de que se os objetivos são a justiça e a igualdade não interessa muito que estejamos a colocar nos governantes ferramentas e meios absolutistas e clássicas dos piores regimes do séc. XXI. Alguém reedita as ideias de Marx de Goebbels e determina o fim da privacidade face ao estado a favor dum bem comum determinado pelo mesmo alguém.
E tudo acontece ao mesmo tempo que se decreta que é preciso ir às poupanças dos portugueses buscar mais para encher os bolsos da máquina do estado. Os portugueses terão assim em breve um estado não só com vontade de ir buscar uma fatia das poupanças dos portugueses mas também com a ferramenta de saber quem – qualquer cidadão - tem quanto dinheiro guardado no banco. É dar um talher afiado ao lobo antes de o fazer entrar na capoeira. A sorte é que é só com os ricos...
29.09.2016 às 7h00
MICHAEL SEUFERT
Expresso
O que parece um parágrafo de alguém “ligeiramente” obcecado pela Laranja Mecânica podia ler-se também sobre a mais recente tirada do nosso governo geringonça no que diz respeito aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Aparentemente o lema é “quem não deve não teme” (frase atribuída a Goebbels ainda que não seja verdade – mas plausível, daí a omnipresença da atribuição) e como tal os portugueses podem-se preparar para, caso calhem de ter um determinado valor de dinheiro no banco (digo já que o limite me é perfeitamente irrelevante, vamos dizer que é o valor do PIB) terem os funcionários do governo a poder olhar-lhes para as contas bancárias (saldos, movimentos e tudo) só porque sim. Em rigor não é “porque sim”, é porque nas cabeças dos nossos legisladores antes de algum senhor do estado olhar para as nossas contas bancárias todos somos suspeitos. De quê? Eles depois logo veem.
Dir-me-ão que os valores de que se fala são tão altos que ninguém normal será apanhado a ter um senhor do governo a ver a sua conta bancária. Isso é como os homens de chapéu de coco, não é? “Então se uma medida só afeta uma pequena parte da população, porque nos há de preocupar, a nós comuns mortais, que seja instituída?” Porque exatamente o mesmo princípio que se aplica para dizer que são contas acima dum determinado valor, se aplica a fazer-se o mesmo a contas de menor valor: o valor é arbitrário e a razão é “porque sim”. Não estamos a falar de pessoas sobre a qual se levantou uma suspeita, de cidadãos aos quais um juiz autorizou que se investigasse mais a fundo um indício de crime. Não estamos sequer a falar duma coisa completamente diferente que é a situação de quem precisa de comprovar que se encontra numa situação patrimonial tal que precisa de apoio do estado. Estamos a falar de pessoas, como disse Clara Ferreira Alves recentemente e muito bem, que não têm nenhum contrato com o estado a permitir que o estado disponha da sua vida.
Há claro uma visão retorcida da economia no meio disto. A ideia de que para uns enriquecerem outros têm de empobrecer e que portanto é preciso ir atrás de quem anda a acumular, como dizia Mariana Mortágua, para combater a pobreza. A ignorância económica por trás desta ideia é enorme mas permitir que ela se transforme num ataque ao direito à presunção da inocência é um caminho muito íngreme. É a certeza aliás de que as ideias comuno-fascistas tomaram conta do espaço político e são apresentadas como sendo respeitáveis. É a ideia de que se os objetivos são a justiça e a igualdade não interessa muito que estejamos a colocar nos governantes ferramentas e meios absolutistas e clássicas dos piores regimes do séc. XXI. Alguém reedita as ideias de Marx de Goebbels e determina o fim da privacidade face ao estado a favor dum bem comum determinado pelo mesmo alguém.
E tudo acontece ao mesmo tempo que se decreta que é preciso ir às poupanças dos portugueses buscar mais para encher os bolsos da máquina do estado. Os portugueses terão assim em breve um estado não só com vontade de ir buscar uma fatia das poupanças dos portugueses mas também com a ferramenta de saber quem – qualquer cidadão - tem quanto dinheiro guardado no banco. É dar um talher afiado ao lobo antes de o fazer entrar na capoeira. A sorte é que é só com os ricos...
29.09.2016 às 7h00
MICHAEL SEUFERT
Expresso
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