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Mensagem por Admin Seg Abr 11, 2016 10:46 am

Todos os dias Fernando Gonçalves, 48 anos, acorda sozinho numa das casas de granito medievais de Vale de Poldros, a norte do Gerês. É assim desde que virou o milénio, quando decidiu regressar à aldeia e abrir um restaurante - que hoje gere, além de tomar conta das restantes casinhas que ainda por ali resistem, muito depois de os que as habitavam terem seguido para a cidade ou para outro país, e de um pequeno hotel, o único na zona. Mais de 650 quilómetros a sul, aos 70 anos, Marcelino Vicente tem menos que fazer em Barbelote, uma aldeia de Monchique com 13 casas típicas algarvias - todas vazias à exceção da sua -, comprada em 2003 por um grupo de amigos para fazer um turismo local que nunca saiu do papel. São quadros extremos mas que se encontram um pouco por todo o interior do país. Cenários de abandono, mais ou menos dramático, de carência de coisas tão básicas como o acesso a cuidados de saúde, a emprego, a educação. Locais onde o nascimento de 13 bebés num ano é razão para celebrar, como aconteceu no ano passado em Alcoutim, freguesia onde não chegam a viver três mil pessoas - um quarto dos habitantes que ali moravam há 60 anos -, apesar de ficar apenas a meia hora do Algarve que transborda de turistas mal o sol aquece. A grande fuga para as cidades, que deixou para trás dezenas de aldeias abandonadas, não é de hoje. Mas tem de ser travada sob pena de se intensificar para além de qualquer esperança de recuperação o fosso entre o litoral e o interior. E para isso é preciso garantir serviços, emprego e criar condições que chamem novas famílias, que atraiam jovens, que assegurem que não chegaremos ao futuro antecipado num estudo da Universidade de Aveiro, que indica que nos próximos 25 anos ali resistirá apenas um terço dos que hoje ainda vão ficando: menos de 80 mil pessoas para toda a faixa interior do país; espalhadas de norte a sul, cerca de metade dos habitantes de Mafra.

Editorial
11 DE ABRIL DE 2016
00:00
Joana Petiz
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