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O Alentejo fora dos carris
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O Alentejo fora dos carris
Vou mais depressa a Lisboa do que a Beja. Quando vou à consulta, apanho o Intercidades de manhã e às quatro da tarde já cá estou. Mas para ir a Beja tenho de ir a Ourique apanhar a camioneta e demoro um dia inteiro”.
O desabafo, ouvido à dona de um café na aldeia de Garvão, é partilhado pelos clientes que contam como agora a capital do distrito ficou mais longe depois de ter fechado a linha férrea em janeiro de 2011.
Em rigor, esta foi a única linha que o governo de Passos Coelho mandou encerrar no âmbito do Plano Estratégico dos Transportes (PET), apresentado ao País como forma de promover a “mobilidade sustentável”, mas cujo objetivo era, afinal, reduzir custos.
É certo que também nessa altura se confirmou o encerramento da linha Figueira da Foz – Pampilhosa, do Corgo (Régua – Vila Real) e do Tâmega (Livração – Amarante), mas estas já tinham sido fechados durante o governo Sócrates, com o pretexto de que não tinham condições de segurança. A então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, prometera a sua modernização, que nunca arrancou.
E também é certo que em janeiro desse ano também fechou a linha do Leste entre Abrantes e Elvas, mas apenas para o serviço de passageiros. Os comboios de mercadorias continuaram a passar por lá.
Com esta decisão, Beja ficou assim ainda mais periférica na geografia ferroviária nacional. É a extremidade de um pequeno ramal vindo de Casa Branca, onde “passam a ferro” umas automotoras que dão ligação aos Intercidades de Évora. Para sul, ficaram os carris a enferrujar.
A decisão pode ser contestada por duas vias: uma, mais técnica, pela necessidade de uma redundância à linha do Sul, e outra, que tem a ver com importância do caminho de ferro como ferramenta para a coesão social e combate à desertificação.
Vejamos ambas:
Basta que ocorra um acidente entre a Funcheira e Águas de Moura (concelho de Marateca), que danifique a via durante vários dias, para que o Sul fique sem ligações ferroviárias com o resto do País. É o Algarve que fica isolado, sem Alfas nem Intercidades para Lisboa, e é Sines que fica sem poder expedir e receber comboios de contentores. Os prejuízos económicos do segundo são, claramente, muito superiores.
Daí que seja um erro o encerramento da linha entre a Funcheira e Beja pois este poderia ser o caminho alternativo.
No mínimo, a Refer (agora designada Infraestruturas de Portugal depois de ter sido absorvida pelas Estradas de Portugal) deveria fazer uma manutenção mínima deste troço de 62 quilómetros para estar preparado para qualquer emergência.
E isso encaixa no segundo argumento. Manter a linha em patamares mínimos de manutenção é compatível e desejável com a retoma do serviço ferroviário. As automotoras poderiam e deveriam voltar a fazer a ligação de Beja à linha do Sul, servindo assim o escasso tráfego regional, mas também o longo curso na Funcheira.
É certo que há pouca gente e que a procura potencialmente existente é mais adequada aos autocarros (ou táxis) do que aos comboios.
Mas as linhas já existem, as estações também (e bem precisam de estar guarnecidas porque a vandalização deste património acentua-se quando deixado ao abandono) e há serviços de longo curso, como o Lisboa-Algarve, que podem ser alimentados também a partir desta linha. Hoje ninguém vai de comboio de Beja para o Algarve porque é preciso apanhar um mínimo de três comboios (quatro se for para Lagos ou Portimão). Mas através da Funcheira basta um único transbordo (ou dois para Barlavento).
De resto, o ideal mesmo é que Beja voltasse a ser uma “estação de passagem” com comboios diretos de Casa Branca a Faro (por forma a criar uma oferta mais agregadora) do que a gestão de vistas curtas que caracterizou a CP nas últimas décadas com automotoras a “passar a ferro” em pequenos percursos entre Casa Branca e Beja e de Beja à Funcheira. Se é certo que o modo ferroviário tem vocação para muitos passageiros e para grandes distâncias, então tudo esteve errado quando, sistematicamente, se foi cortando serviços e encerrando linhas, deixando apenas umas automotoras velhas na região a fazer de conta que há comboios.
Carlos Cipriano
Jornalista especializado em questões ferroviárias
28-10-2016 9:44:33
Diário do Alentejo
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