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A ditadura do "canudo"
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A ditadura do "canudo"
Não é para ter lugares no Governo que os chefes de gabinete e outros assessores mentem no currículo. Os cargos de nomeação para o Governo não carecem de instrução académica, apenas de confiança política, e essa, está bom de ver, não depende do mérito curricular.
Qualquer um pode ser assessor, político e até primeiro ministro sem qualquer canudo. Por isto, não deixa de ser um mistério que, vezes sem conta, volta não volta, figuras públicas ligadas à política mintam nos seus currículos académicos, ou, pior ainda, que às vezes os fabriquem, para poderem chegar a lugares onde, verdadeiramente, ter ou não ter canudo é irrelevante. Então, por que será?
Por uma razão simples. Por causa de um sentimento, antigo e arcaico que atravessa ainda a sociedade portuguesa, e que cava um fosso entre o povo e a elite.
Foi ainda há muito pouco tempo que a nossa sociedade se partia literalmente em duas partes muito assimétricas. De um lado, o mais pequeno, aqueles que iam para a faculdade e se tornavam doutores. Do outro, a grande maioria, os que não tinham acesso ao único elevador social que durante décadas existiu em Portugal. De um lado, aqueles a quem a vida iria sorrir; do outro, aqueles a quem, por questões culturais, mas sobretudo por causa da pobreza, não teriam acesso a uma vida melhor.
Em todos os patamares da sociedade portuguesa, ainda hoje - e basta dar uma volta pelos meios mais rurais para o perceber - ser ou não doutor, ter ou não ter canudo, é uma causa de grande diferenciação social. O doutor, o filho dele, o neto do engenheiro, a mulher do médico são os protagonistas sociais com maior sucesso. Por isso, não é de estranhar que alguns, sobretudo oriundos da ruralidade ou da província, como nós portugueses dizemos, mesmo que não precisem de ter curso, quando chegam aos círculos do poder, mesmo sem o ter, mesmo sem dele precisarem, não resistem a querer exibi-lo. E então, parvamente, mentem. E mentem em situações onde o mais provável é serem apanhados, e onde ser apanhados os vai cobrir de vergonha.
Mas como mentiram durante todo o seu percurso, quando chega a "hora da verdade" já não podem emendar a sua história. Porque é mais vergonhoso confessar aos pais que afinal nunca tirámos o curso, que eles nos pagaram com sacrifício, do que sermos apanhados a mentir pelos jornais.
Os políticos mentem sobre as suas habilitações por causa de um sentimento, antigo e arcaico, que atravessa ainda hoje a sociedade portuguesa.
* ESPECIALISTA EM MEDIA INTELLIGENCE
José Manuel Diogo
Hoje às 00:00
Jornal de Notícias
Qualquer um pode ser assessor, político e até primeiro ministro sem qualquer canudo. Por isto, não deixa de ser um mistério que, vezes sem conta, volta não volta, figuras públicas ligadas à política mintam nos seus currículos académicos, ou, pior ainda, que às vezes os fabriquem, para poderem chegar a lugares onde, verdadeiramente, ter ou não ter canudo é irrelevante. Então, por que será?
Por uma razão simples. Por causa de um sentimento, antigo e arcaico que atravessa ainda a sociedade portuguesa, e que cava um fosso entre o povo e a elite.
Foi ainda há muito pouco tempo que a nossa sociedade se partia literalmente em duas partes muito assimétricas. De um lado, o mais pequeno, aqueles que iam para a faculdade e se tornavam doutores. Do outro, a grande maioria, os que não tinham acesso ao único elevador social que durante décadas existiu em Portugal. De um lado, aqueles a quem a vida iria sorrir; do outro, aqueles a quem, por questões culturais, mas sobretudo por causa da pobreza, não teriam acesso a uma vida melhor.
Em todos os patamares da sociedade portuguesa, ainda hoje - e basta dar uma volta pelos meios mais rurais para o perceber - ser ou não doutor, ter ou não ter canudo, é uma causa de grande diferenciação social. O doutor, o filho dele, o neto do engenheiro, a mulher do médico são os protagonistas sociais com maior sucesso. Por isso, não é de estranhar que alguns, sobretudo oriundos da ruralidade ou da província, como nós portugueses dizemos, mesmo que não precisem de ter curso, quando chegam aos círculos do poder, mesmo sem o ter, mesmo sem dele precisarem, não resistem a querer exibi-lo. E então, parvamente, mentem. E mentem em situações onde o mais provável é serem apanhados, e onde ser apanhados os vai cobrir de vergonha.
Mas como mentiram durante todo o seu percurso, quando chega a "hora da verdade" já não podem emendar a sua história. Porque é mais vergonhoso confessar aos pais que afinal nunca tirámos o curso, que eles nos pagaram com sacrifício, do que sermos apanhados a mentir pelos jornais.
Os políticos mentem sobre as suas habilitações por causa de um sentimento, antigo e arcaico, que atravessa ainda hoje a sociedade portuguesa.
* ESPECIALISTA EM MEDIA INTELLIGENCE
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