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A ditadura do turista
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A ditadura do turista
Das minhas visitas ao Louvre e à pitoresca cidade de Dubrovnik tenho uma pesada memória em comum: uma parede de turistas, sobretudo asiáticos, e as suas incansáveis máquinas fotográficas.
O resto é tudo muito interessante, sim, gostava era de ter visto alguma coisa. Portugal, e sobretudo Lisboa e Porto, estão a sofrer uma benigna (para já) invasão de turistas, o que está a ser acompanhado pelo aumento das estruturas desenhadas para os acolher, hoteleiras e outras. Portugal só tem a ganhar com isto, em termos de receitas e notoriedade, tirando partido das suas condições únicas para acolher o visitante estrangeiro.
No entanto, há um risco sério que começamos a correr, o da instauração de uma "ditadura do turista". A cidade de Lisboa é disto um bom exemplo. Tem sido privilegiada a aposta em estruturas mais viradas para o visitante, em detrimento de uma real melhoria das condições da cidade para quem lá habita e/ou trabalha.
Agora, temos a absurda proposta - já travada, e bem, pelo Governo - de uma tarifa única de 20 euros para os táxis que saiam do aeroporto, seja qual for o destino dentro da cidade. Uma espécie de "como os turistas são muitas vezes enganados e para eles 20 euros não é muito, tabela-se assim para toda a gente". Além da legalização do roubo (em vez da fiscalização e da penalização exemplar), seria impor ao nacional uma espécie de taxa turística. O que viria a seguir? O bitoque era tabelado a 30 euros para toda a gente porque alguns restaurantes "arredondam por cima" a conta aos turistas?
Lisboa, tal como o Porto e tantas outras localidades portuguesas, nunca precisaram de se transformar artificialmente no postalinho para serem apelativas ao estrangeiro. Não somos fortes em museus ou em monumentos mediáticos que rivalizem com Paris, Barcelona ou Nova Iorque. Somos fortes, muito fortes, naquilo que não se compra.
As pessoas, a forma de receber, a forma de viver, este relaxamento saudável que os turistas mais endinheirados tanto apreciam. Quem cá vem, e sobretudo quem cá volta, não o faz para ver os Jerónimos ou a Torre dos Clérigos. Vem para andar na rua, para tirar fotografias a essa via luminosa e vivida, para se sentir parte de algo que lhes é ao mesmo tempo estranho e agradavelmente confortável.
Desenhar a cidade para o turista, enchendo-a dos intermináveis tuk-tuk ou afastando os habitantes do centro, só serve para estragar aquilo que nos distingue, que mais nos valoriza, que mais é, em nós, apreciado.
Não é preciso muito mais do que deixar a pulsante vida fluir. Não perceber isto e cair na ditadura do turista é acabar com argumentos para que os turistas venham.
Não estamos lá. Ainda. E espero que haja o bom senso de nunca lá chegarmos.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
O resto é tudo muito interessante, sim, gostava era de ter visto alguma coisa. Portugal, e sobretudo Lisboa e Porto, estão a sofrer uma benigna (para já) invasão de turistas, o que está a ser acompanhado pelo aumento das estruturas desenhadas para os acolher, hoteleiras e outras. Portugal só tem a ganhar com isto, em termos de receitas e notoriedade, tirando partido das suas condições únicas para acolher o visitante estrangeiro.
No entanto, há um risco sério que começamos a correr, o da instauração de uma "ditadura do turista". A cidade de Lisboa é disto um bom exemplo. Tem sido privilegiada a aposta em estruturas mais viradas para o visitante, em detrimento de uma real melhoria das condições da cidade para quem lá habita e/ou trabalha.
Agora, temos a absurda proposta - já travada, e bem, pelo Governo - de uma tarifa única de 20 euros para os táxis que saiam do aeroporto, seja qual for o destino dentro da cidade. Uma espécie de "como os turistas são muitas vezes enganados e para eles 20 euros não é muito, tabela-se assim para toda a gente". Além da legalização do roubo (em vez da fiscalização e da penalização exemplar), seria impor ao nacional uma espécie de taxa turística. O que viria a seguir? O bitoque era tabelado a 30 euros para toda a gente porque alguns restaurantes "arredondam por cima" a conta aos turistas?
Lisboa, tal como o Porto e tantas outras localidades portuguesas, nunca precisaram de se transformar artificialmente no postalinho para serem apelativas ao estrangeiro. Não somos fortes em museus ou em monumentos mediáticos que rivalizem com Paris, Barcelona ou Nova Iorque. Somos fortes, muito fortes, naquilo que não se compra.
As pessoas, a forma de receber, a forma de viver, este relaxamento saudável que os turistas mais endinheirados tanto apreciam. Quem cá vem, e sobretudo quem cá volta, não o faz para ver os Jerónimos ou a Torre dos Clérigos. Vem para andar na rua, para tirar fotografias a essa via luminosa e vivida, para se sentir parte de algo que lhes é ao mesmo tempo estranho e agradavelmente confortável.
Desenhar a cidade para o turista, enchendo-a dos intermináveis tuk-tuk ou afastando os habitantes do centro, só serve para estragar aquilo que nos distingue, que mais nos valoriza, que mais é, em nós, apreciado.
Não é preciso muito mais do que deixar a pulsante vida fluir. Não perceber isto e cair na ditadura do turista é acabar com argumentos para que os turistas venham.
Não estamos lá. Ainda. E espero que haja o bom senso de nunca lá chegarmos.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
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