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Reis de Espanha? Miró
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Reis de Espanha? Miró
O nosso presidente da República vai levar os reis de Espanha a visitar a exposição da coleção de quadros de Miró que estão à guarda da Câmara e depositados em Serralves.
Coisa extraordinária! Os soberanos, vindos do país natal do pintor, vão ser obrigados a extasiar-se perante uma ínfima amostra da prolixa obra do mestre catalão, profusamente representada no seu próprio país.
Sucede que, por estes dias, está patente no Museu Soares dos Reis uma excelente exposição de Amadeo de Souza Cardoso. São mais de 70% das 114 obras que originalmente expôs, há cem anos, nos Jardins de Passos Manuel, situados no que é hoje o Coliseu do Porto.
A exposição original teve uma empenhadíssima dedicação do autor que selecionou as obras, criou o seu próprio catálogo e guiou, interpretando, grande parte das visitas que foram, para a época, multitudinárias.
Claro que levar suas majestades a visitar Amadeo nas Carrancas obrigaria a explicar o modernismo português, o papel que no movimento teve o Porto e as suas elites, o vanguardismo de Amadeo e a reação entusiasmada de Almada que considera a exposição mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a índia!
Poderia ainda obrigar a que se convidasse Germano Silva, a quem nós aqui no Porto acabamos de fazer Doutor, para explicar o papel dos Jardins de Passos Manuel na divulgação cultural da cidade e, de caminho, celebrar a figura de Passos Manuel.
Mas não! Parece que temos de ficar gratos porque o poder central se lembrou de exportar o controverso investimento do BPN para o Porto. E parece que, para além disso, temos de o alardear como se fosse, de facto, o que de melhor temos para mostrar.
Entendamo-nos! A Câmara do Porto e a Fundação de Serralves fizeram muito bem em aceitar ficar com a coleção em depósito e exibi-la ao público. É, sem dúvida, uma mais-valia interessante, para a cidade e para a Fundação.
Não é, no entanto, nenhum favor especial que nos fazem nem as salas da casa de Serralves onde se abriga passaram a ser o farol que nos alumia.
Assumi-lo nesses termos seria redutor e a roçar o centralismo parolo.
Os soberanos, vindos do país natal do pintor, vão ser obrigados a extasiar-se perante uma ínfima amostra da prolixa obra do mestre catalão, profusamente representada no seu próprio país.
*ANALISTA FINANCEIRA
Cristina Azevedo
Hoje às 00:00
Jornal de Notícias
Coisa extraordinária! Os soberanos, vindos do país natal do pintor, vão ser obrigados a extasiar-se perante uma ínfima amostra da prolixa obra do mestre catalão, profusamente representada no seu próprio país.
Sucede que, por estes dias, está patente no Museu Soares dos Reis uma excelente exposição de Amadeo de Souza Cardoso. São mais de 70% das 114 obras que originalmente expôs, há cem anos, nos Jardins de Passos Manuel, situados no que é hoje o Coliseu do Porto.
A exposição original teve uma empenhadíssima dedicação do autor que selecionou as obras, criou o seu próprio catálogo e guiou, interpretando, grande parte das visitas que foram, para a época, multitudinárias.
Claro que levar suas majestades a visitar Amadeo nas Carrancas obrigaria a explicar o modernismo português, o papel que no movimento teve o Porto e as suas elites, o vanguardismo de Amadeo e a reação entusiasmada de Almada que considera a exposição mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a índia!
Poderia ainda obrigar a que se convidasse Germano Silva, a quem nós aqui no Porto acabamos de fazer Doutor, para explicar o papel dos Jardins de Passos Manuel na divulgação cultural da cidade e, de caminho, celebrar a figura de Passos Manuel.
Mas não! Parece que temos de ficar gratos porque o poder central se lembrou de exportar o controverso investimento do BPN para o Porto. E parece que, para além disso, temos de o alardear como se fosse, de facto, o que de melhor temos para mostrar.
Entendamo-nos! A Câmara do Porto e a Fundação de Serralves fizeram muito bem em aceitar ficar com a coleção em depósito e exibi-la ao público. É, sem dúvida, uma mais-valia interessante, para a cidade e para a Fundação.
Não é, no entanto, nenhum favor especial que nos fazem nem as salas da casa de Serralves onde se abriga passaram a ser o farol que nos alumia.
Assumi-lo nesses termos seria redutor e a roçar o centralismo parolo.
Os soberanos, vindos do país natal do pintor, vão ser obrigados a extasiar-se perante uma ínfima amostra da prolixa obra do mestre catalão, profusamente representada no seu próprio país.
*ANALISTA FINANCEIRA
Cristina Azevedo
Hoje às 00:00
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