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A raiva contra os jornalistas e comentadores
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A raiva contra os jornalistas e comentadores
A raiva latente, que leva ao triunfo do populismo e da demagogia às raias do absurdo, tem saltado para a rejeição cada vez maior também do jornalismo e dos comentadores.
Nunca o mundo teve tanta informação e, paradoxalmente, nunca houve tantos ignorantes. A internet dá informação, não dá conhecimento, mas a fúria e a raiva das multidões sem rosto tem oprimido a razão, a irracionalidade está a destruir a moderação.
A classe política, não é só em Portugal, tem patamares de reputação próximos do zero. As pessoas não se sentem representadas pelos que se sentam em Parlamentos ou ocupam cargos executivos e têm nojo dos que se servem da política – uma nobre e importante profissão – para fazerem negociatas ou que dali se promovem para saltar para empresas com opíparos salários que nunca alcançariam se não se servissem da mesma.
Mas a raiva latente, que leva ao triunfo do populismo e da demagogia às raias do absurdo, tem saltado para a rejeição cada vez maior também da imprensa e do jornalismo, e para uma classe de comentadores que não dizem nada a ninguém, dos quais as pessoas não gostam e que em muitos casos comentam sem preparação e sem nada saberem sobre aquilo que dizem.
O mundo está a ruir nas suas referências, traves-mestras indispensáveis para uma sociedade livre e justa. É a política, a Justiça, os gestores, as elites (coisa que nunca por cá tivemos de jeito), o jornalismo, os comentadores. É nestes escombros que lavra o ódio de quem se sente enganado.
Maus políticos, maus gestores, maus jornalistas, maus comentadores estão a levar as democracias para o seu “hara-kiri” à vista de todos. Um editorial, hoje, vale menos que um post, um comentador televisivo tem menos influência e notoriedade que alguns que escrevem com verdade nas redes sociais. Mas a culpa é de quem promove a mentira e de quem escreve ou fala uma montanha de “pós-verdades”. De quem na sua mediocridade tece uma teia de protecção aos medíocres da sua igualha que, assim, vão sobrevivendo numa sociedade que nada tem a ver com a do século XX e que clama contra as fraudes e os vendedores de banha da cobra.
A mentira tem-se imposto à verdade. E uma comunidade mentirosa e pouco escrupulosa, onde a opacidade se sobrepõe à transparência, é o lugar onde grassam o pior das emoções e sentimentos humanos. E tem de se reafirmar que um grunho nunca substituirá um bom jornalista, um troglodita nunca será um bom político e um ignorante nunca terá o valor de um grande comentador.
Agora, é tempo, e ainda vamos a tempo, de quem decide perceber este diagnóstico. Escolher os melhores e romper com a nata do entulho, com coragem, sem tergiversações. Há muito que percebi, e escrevi, sobre o que se está a passar. O meu diagnóstico é pessimista mas com espaço para a esperança dar a volta a uma crise de valores que gradualmente se vem instalando. Se isto não acontecer, que depois não chorem sobre leite derramado. A verdade está em perigo, a qualidade da democracia também. Ou nos salvamos ou que seja o que Deus quiser.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
Rui Calafate
Colunista
10:32
Eco - Economia Online
Nunca o mundo teve tanta informação e, paradoxalmente, nunca houve tantos ignorantes. A internet dá informação, não dá conhecimento, mas a fúria e a raiva das multidões sem rosto tem oprimido a razão, a irracionalidade está a destruir a moderação.
A classe política, não é só em Portugal, tem patamares de reputação próximos do zero. As pessoas não se sentem representadas pelos que se sentam em Parlamentos ou ocupam cargos executivos e têm nojo dos que se servem da política – uma nobre e importante profissão – para fazerem negociatas ou que dali se promovem para saltar para empresas com opíparos salários que nunca alcançariam se não se servissem da mesma.
Mas a raiva latente, que leva ao triunfo do populismo e da demagogia às raias do absurdo, tem saltado para a rejeição cada vez maior também da imprensa e do jornalismo, e para uma classe de comentadores que não dizem nada a ninguém, dos quais as pessoas não gostam e que em muitos casos comentam sem preparação e sem nada saberem sobre aquilo que dizem.
O mundo está a ruir nas suas referências, traves-mestras indispensáveis para uma sociedade livre e justa. É a política, a Justiça, os gestores, as elites (coisa que nunca por cá tivemos de jeito), o jornalismo, os comentadores. É nestes escombros que lavra o ódio de quem se sente enganado.
Maus políticos, maus gestores, maus jornalistas, maus comentadores estão a levar as democracias para o seu “hara-kiri” à vista de todos. Um editorial, hoje, vale menos que um post, um comentador televisivo tem menos influência e notoriedade que alguns que escrevem com verdade nas redes sociais. Mas a culpa é de quem promove a mentira e de quem escreve ou fala uma montanha de “pós-verdades”. De quem na sua mediocridade tece uma teia de protecção aos medíocres da sua igualha que, assim, vão sobrevivendo numa sociedade que nada tem a ver com a do século XX e que clama contra as fraudes e os vendedores de banha da cobra.
A mentira tem-se imposto à verdade. E uma comunidade mentirosa e pouco escrupulosa, onde a opacidade se sobrepõe à transparência, é o lugar onde grassam o pior das emoções e sentimentos humanos. E tem de se reafirmar que um grunho nunca substituirá um bom jornalista, um troglodita nunca será um bom político e um ignorante nunca terá o valor de um grande comentador.
Agora, é tempo, e ainda vamos a tempo, de quem decide perceber este diagnóstico. Escolher os melhores e romper com a nata do entulho, com coragem, sem tergiversações. Há muito que percebi, e escrevi, sobre o que se está a passar. O meu diagnóstico é pessimista mas com espaço para a esperança dar a volta a uma crise de valores que gradualmente se vem instalando. Se isto não acontecer, que depois não chorem sobre leite derramado. A verdade está em perigo, a qualidade da democracia também. Ou nos salvamos ou que seja o que Deus quiser.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
Rui Calafate
Colunista
10:32
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