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Mensagem por Admin Sex Dez 16, 2016 11:14 am

Não há discussão acerca do futuro, nem de estratégias, nem sequer sobre como conciliar os interesses dos europeus num mundo que claramente não quer uma Europa unida e forte.

Desde 2001 que não era celebrado um acordo para a redução da produção mundial de petróleo e, como tal, reveste-se de especial importância. Numa primeira fase, o acordo entre países da OPEP visou acomodar a nova posição do Irão e, numa segunda fase, teve como objectivo a extensão deste acordo a países fora da OPEP, como a Rússia. A redução anunciada em Novembro teve implicações no preço do petróleo, que registou uma subida de 15%. Mas este acordo dá que pensar.

Ouvem-se queixas relativamente à inexistência de concorrência no sector petrolífero, assentes na prática do mesmo preço entre diferentes empresas que vendem combustível. Ora, se os países produtores de petróleo fazem cartel entre si, não escondem que o fazem e não são multados, porque o seriam as empresas que têm de comprar petróleo a esses países?

A hipocrisia e a ilusão reinam. Por um lado o cartel é uma prática anticoncorrencial, por outro tudo é permitido, mas apenas para alguns. Aliás, gostaria muito de saber quem irá multar a Rússia ou a Arábia Saudita sabendo que precisa de petróleo para a sua economia. A subida dos preços entretanto verificada beneficia países como Angola, Brasil e Venezuela, dando-lhes uma segunda oportunidade. Com esta receita adicional poderão pagar dívidas em atraso, dinamizar e diversificar as suas economias.

Um dos perdedores é o bloco europeu. Enquanto importador desta matéria-prima vai ter de pagar mais euros. Está de regresso a transferência de riqueza para o Médio Oriente e para a Rússia, que voltarão a reinvestir o produto da venda em aquisições de activos europeus. Para os cidadãos europeus, esta é a altura de pagar sem perceberem porquê. O aumento dos combustíveis, associado a uma desvalorização do euro, irá gerar inflação, ou seja, um imposto que paulatinamente diminui o poder de compra. As empresas, em face do aumento de custos de produção, não vão ter margem suficiente para aumentar salários. A este respeito voltará a discussão acerca da diminuição da TSU para as empresas e trabalhadores, como forma de aumentar salários.

Trump não está preocupado. A nova política externa dos EUA irá anuir que a Rússia cobre à Europa o custo das sanções. Internamente, o petróleo de xisto volta a ser rentável, pelo que os EUA, sem grandes preocupações ambientalistas, voltam a ser auto-suficientes e a criar postos de trabalho nesta área.

A Europa encontra-se perante desafios nunca vistos desde a criação da Comunidade Económica do Carvão e do Aço (CECA). Vivemos, contudo, num registo de “normalidade”. Não há discussão acerca do futuro, nem de estratégias, nem sequer sobre como conciliar os interesses dos europeus num mundo que claramente não quer uma Europa unida e forte. Por ora interessa que, com o apoio do BCE, o ano de 2017 não tenha grandes sobressaltos, uma vez que é ano de eleições em França e na Alemanha. Será que a Europa vai ter de apagar a luz, fechar a porta e ainda pagar a conta? A do petróleo, pelo menos, chega já em Janeiro.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.

Pedro Lino, Economista
 00:13
Jornal Económico
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