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A ordem internacional do novo mundo
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A ordem internacional do novo mundo
Vivemos numa ordem internacional onde o poder continua a ter horror ao vazio e o recuo norte-americano, a par da impotência europeia, criarão as condições ideais para o reforço e a emergência do poder russo em partes cada vez mais distantes do globo.
O mundo tem olhado estupefacto para os últimos acontecimentos que têm tido Alepo por palco, no quadro da sangrenta e terrível guerra civil que assola a Síria há meia dúzia de anos. Na sequência das tragédias que se têm sucedido, os factos ocorridos em Alepo marcaram de forma indelével o curso deste conflito sórdido e desumano. As imagens com que somos diariamente confrontados não nos podem deixar indiferentes nem podem deixar de interpelar as nossas consciências.
Como já tive oportunidade de escrever, o grau de destruição material aproxima-se do completo e absoluto; as infraestruturas estão totalmente destruídas; os serviços médicos são um eufemismo; o grau de sofrimento humano que as imagens nos reportam é completamente intolerável e impossível de imaginar. Todas essas análises já se encontram suficientemente feitas e escalpelizadas. Interessa-me, neste momento, evidenciar uma situação a partir do que se verifica em Alepo.
O drama que ocorre na segunda maior cidade síria pode, à sua dimensão, ilustrar uma ordem internacional nascente nos tempos que correm – com um novo reposicionamento de alianças, uma nova correlação de forças, o nascimento de novas solidariedades, a afirmação de novos e emergentes poderes e o apagamento de outros que se julgava poderem ter uma palavra a dizer na ordem internacional.
Na última batalha pelo controlo da cidade de Alepo, tivemos oportunidade de constatar o triunfo das tropas de Assad bem apoiadas e acolitadas pelas tropas de Putin, com o apoio fundamental do Irão e dos libaneses do Hezbollah. Do outro lado, os ditos rebeldes maioritariamente associados ao Estado Livre da Síria, que não conseguem ilidir completamente a presunção de suspeitas simpatias para com os partidários do Estado Livre do Iraque e do Levante, vulgo Daesh, ao lado de quem se identifica o envolvimento ambíguo de uma Turquia cada vez menos confiável, de uma França errante ao sabor dos caprichos de Hollande, de uns EUA que patrocinam mas não intervêm nem colocam tropas no terreno, talvez porque os exemplos do Iraque e do Afeganistão ainda estão bem presentes na memória de todos.
Para complicar o panorama, nos dias críticos da batalha pela tomada de Alepo, assistíamos, incrédulos, à mais completa confissão de incapacidade e impotência da UE que, reunida em Conselho Europeu, reconhecia a sua impossibilidade e incapacidade em intervir no conflito ou de exercer no mesmo um papel de mediação. Ora, à escala da guerra civil síria, o panorama acabado de descrever de forma necessariamente simplificada e breve pode vir a constituir o retrato, pintado a cores impressivas e trágicas, de uma eventual nova ordem internacional nascente e em fase embrionária.
Uma ordem internacional pautada por uns EUA em recuo e centrados fundamentalmente nas suas questões internas, sob a liderança sempre imprevisível de um Donald Trump a quem não se conhece qualquer aptidão em matéria de relações internacionais e a orientação de um secretário de Estado de quem, em matéria de política externa, o máximo que se consegue saber é que foi CEO de uma das maiores petrolíferas do mundo, para além de ser particularmente estimado por Vladimir Putin.
Uma ordem internacional onde a UE, pese embora as proclamações em sentido contrário, mais parece estar em fase de acentuada dissolução do que disposta a desempenhar um papel ativo e interventivo em nome do Velho Continente.
Uma ordem internacional onde o poder continua a ter horror ao vazio e o recuo norte-americano, a par da impotência europeia, criarão as condições ideais para o reforço e a emergência do poder russo em partes cada vez mais distantes do globo, recuperando métodos e princípios que foram os da União Soviética – e que Putin tão bem conhecia e demonstra não ter esquecido.
Serão estes, tudo o indica, traços constantes da ordem internacional nascente para um mundo novo – a ordem internacional do mundo do pós-verdade, o que quer que isso signifique. A ordem internacional nascente que, a partir do próximo dia 1 de janeiro, irá ter à cabeça da sua organização mais global António Guterres, o português que Portugal deu ao mundo, em momento difícil, sem paralelo nem igual, para tentar introduzir um pouco de lógica, racionalidade, bom-senso e humanismo onde parece que tudo isso falta de forma incontestável. Não vai ser fácil a sua tarefa – mas por alguma razão demos ao mundo um dos nossos melhores.
E se, na esteira do que um dia terá afirmado Viriato, somos um povo que não se governa nem se deixa governar, talvez desta feita possamos ter um dos nossos melhores a tentar instaurar princípios mínimos de governação à escala internacional, num quadro de referência sem muitos elementos de comparação. Que os deuses – para os crentes – e a sorte – para os demais – permitam que tenha sucesso numa tarefa que terá tanto de ingrato quanto de difícil.
Para os que regularmente leem esta nossa coluna quinzenal, votos de um Santo Natal e de um excelente ano de 2017!
Post-scriptum: o terror voltou à Europa. Desta feita a Berlim, ao coração e à capital da Alemanha de Merkel, o país que mais tolerância demonstrou para com os refugiados migrantes islâmicos. Se se vier a confirmar a origem islâmica da carnificina, já não é só de um choque de culturas e civilizações que estamos a falar. É de estupidez pura e de barbárie refinada. E essa só pode ser combatida, no respeito pela legalidade democrática, sem contemplações nem tergiversações.
João Pedro Dias, Investigador em Assuntos Europeus
00:08
Jornal Económico
O mundo tem olhado estupefacto para os últimos acontecimentos que têm tido Alepo por palco, no quadro da sangrenta e terrível guerra civil que assola a Síria há meia dúzia de anos. Na sequência das tragédias que se têm sucedido, os factos ocorridos em Alepo marcaram de forma indelével o curso deste conflito sórdido e desumano. As imagens com que somos diariamente confrontados não nos podem deixar indiferentes nem podem deixar de interpelar as nossas consciências.
Como já tive oportunidade de escrever, o grau de destruição material aproxima-se do completo e absoluto; as infraestruturas estão totalmente destruídas; os serviços médicos são um eufemismo; o grau de sofrimento humano que as imagens nos reportam é completamente intolerável e impossível de imaginar. Todas essas análises já se encontram suficientemente feitas e escalpelizadas. Interessa-me, neste momento, evidenciar uma situação a partir do que se verifica em Alepo.
O drama que ocorre na segunda maior cidade síria pode, à sua dimensão, ilustrar uma ordem internacional nascente nos tempos que correm – com um novo reposicionamento de alianças, uma nova correlação de forças, o nascimento de novas solidariedades, a afirmação de novos e emergentes poderes e o apagamento de outros que se julgava poderem ter uma palavra a dizer na ordem internacional.
Na última batalha pelo controlo da cidade de Alepo, tivemos oportunidade de constatar o triunfo das tropas de Assad bem apoiadas e acolitadas pelas tropas de Putin, com o apoio fundamental do Irão e dos libaneses do Hezbollah. Do outro lado, os ditos rebeldes maioritariamente associados ao Estado Livre da Síria, que não conseguem ilidir completamente a presunção de suspeitas simpatias para com os partidários do Estado Livre do Iraque e do Levante, vulgo Daesh, ao lado de quem se identifica o envolvimento ambíguo de uma Turquia cada vez menos confiável, de uma França errante ao sabor dos caprichos de Hollande, de uns EUA que patrocinam mas não intervêm nem colocam tropas no terreno, talvez porque os exemplos do Iraque e do Afeganistão ainda estão bem presentes na memória de todos.
Para complicar o panorama, nos dias críticos da batalha pela tomada de Alepo, assistíamos, incrédulos, à mais completa confissão de incapacidade e impotência da UE que, reunida em Conselho Europeu, reconhecia a sua impossibilidade e incapacidade em intervir no conflito ou de exercer no mesmo um papel de mediação. Ora, à escala da guerra civil síria, o panorama acabado de descrever de forma necessariamente simplificada e breve pode vir a constituir o retrato, pintado a cores impressivas e trágicas, de uma eventual nova ordem internacional nascente e em fase embrionária.
Uma ordem internacional pautada por uns EUA em recuo e centrados fundamentalmente nas suas questões internas, sob a liderança sempre imprevisível de um Donald Trump a quem não se conhece qualquer aptidão em matéria de relações internacionais e a orientação de um secretário de Estado de quem, em matéria de política externa, o máximo que se consegue saber é que foi CEO de uma das maiores petrolíferas do mundo, para além de ser particularmente estimado por Vladimir Putin.
Uma ordem internacional onde a UE, pese embora as proclamações em sentido contrário, mais parece estar em fase de acentuada dissolução do que disposta a desempenhar um papel ativo e interventivo em nome do Velho Continente.
Uma ordem internacional onde o poder continua a ter horror ao vazio e o recuo norte-americano, a par da impotência europeia, criarão as condições ideais para o reforço e a emergência do poder russo em partes cada vez mais distantes do globo, recuperando métodos e princípios que foram os da União Soviética – e que Putin tão bem conhecia e demonstra não ter esquecido.
Serão estes, tudo o indica, traços constantes da ordem internacional nascente para um mundo novo – a ordem internacional do mundo do pós-verdade, o que quer que isso signifique. A ordem internacional nascente que, a partir do próximo dia 1 de janeiro, irá ter à cabeça da sua organização mais global António Guterres, o português que Portugal deu ao mundo, em momento difícil, sem paralelo nem igual, para tentar introduzir um pouco de lógica, racionalidade, bom-senso e humanismo onde parece que tudo isso falta de forma incontestável. Não vai ser fácil a sua tarefa – mas por alguma razão demos ao mundo um dos nossos melhores.
E se, na esteira do que um dia terá afirmado Viriato, somos um povo que não se governa nem se deixa governar, talvez desta feita possamos ter um dos nossos melhores a tentar instaurar princípios mínimos de governação à escala internacional, num quadro de referência sem muitos elementos de comparação. Que os deuses – para os crentes – e a sorte – para os demais – permitam que tenha sucesso numa tarefa que terá tanto de ingrato quanto de difícil.
Para os que regularmente leem esta nossa coluna quinzenal, votos de um Santo Natal e de um excelente ano de 2017!
Post-scriptum: o terror voltou à Europa. Desta feita a Berlim, ao coração e à capital da Alemanha de Merkel, o país que mais tolerância demonstrou para com os refugiados migrantes islâmicos. Se se vier a confirmar a origem islâmica da carnificina, já não é só de um choque de culturas e civilizações que estamos a falar. É de estupidez pura e de barbárie refinada. E essa só pode ser combatida, no respeito pela legalidade democrática, sem contemplações nem tergiversações.
João Pedro Dias, Investigador em Assuntos Europeus
00:08
Jornal Económico
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