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Dar a volta à crise do jornalismo
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Dar a volta à crise do jornalismo
Continuamos a precisar do jornalismo? E, em caso afirmativo, de que forma o podemos financiar?
Das respostas a estas duas questões depende o futuro do jornalismo tal como o conhecemos. Mas como se tem visto no debate público no seguimento do recente Congresso dos Jornalistas, uma grande parte da classe jornalística parece estar mais preocupada com lutas ideológicas e velhas rivalidades do que em encontrar soluções que assegurem a viabilidade económica do jornalismo, sem pôr em causa a sua independência.
Claro que continuamos a precisar de bom jornalismo. Todas as sociedades civilizadas precisam de alguém devidamente credenciado que sirva de mediador, que valide, selecione e hierarquize a informação. E de quem escrutine os diferentes poderes, para que haja boa governação, transparência e progresso.
Por outro lado, continua a existir procura pelos conteúdos jornalísticos. Não sou eu que o digo, mas sim os números das audiências dos meios de comunicação: mesmo em Portugal, país com fracos hábitos de literacia, os jornais em papel têm audiências médias que são 10, 15 ou mesmo 20 vezes superiores às vendas em banca. As audiências têm inclusive aumentado nos últimos anos. O mesmo sucede no online. Quer isto dizer que existe procura, mas que a mesma não se converte em receitas, porque as pessoas já não estão dispostas a pagar pela informação.
O que nos leva a outro aspeto relevante, que é a natureza da crise que enfrentamos e que vai muito além das dificuldades causadas pela adaptação à era digital. Tem precisamente que ver com o facto de sermos o único setor de atividade que oferece gratuitamente aquilo que produz. É uma espécie de haraquíri coletivo. Qualquer atividade onde isto aconteça está condenada, mesmo que entretanto o investimento publicitário milagrosamente recupere. E não vamos lá apenas com novos conteúdos digitais, newsletters e outras inovações, porque a publicidade no online ainda não é suficiente para pagar o tipo de jornalismo de que necessitamos enquanto sociedade. Uma andorinha ou outra não fazem a primavera.
Sem um modelo de financiamento sustentável, o jornalismo nunca sairá da crise que atravessa e terá cada vez mais dificuldade em cumprir o seu papel de quarto poder, aquele que tem como missão escrutinar todos os demais. Sem receitas que cubram as despesas, não há projetos sustentáveis. E sem isso não há futuro para o setor e os cidadãos passarão a dispor apenas da informação posta a circular na Internet, sem a mediação que apenas o jornalismo profissional assegura. Isto é tão simples quão trágico.
O que fazer então para salvar o jornalismo? Se tivesse a resposta a esta questão seria um homem rico. Mas atrevo-me a sugerir alguns caminhos.
Em primeiro lugar, servir o leitor, o que significa dar-lhe aquilo que precisa para que possa estar esclarecido e formar uma opinião, em vez de tentar “educá-lo”, como fazem alguns jornais que, não por acaso, estão em crise. Partir do pressuposto de que o leitor é estúpido é o primeiro passo para matar o jornalismo.
Em segundo lugar, encontrar novas fontes de receita, se necessário abdicando do modelo de negócio com fins lucrativos, nos casos em que este não é viável. Não me refiro a apoios públicos, mas sim a incentivos e benefícios fiscais ao mecenato nesta área. Se a maioria dos jornais portugueses dão prejuízo e ainda assim há quem invista neles, porque não apostar em fundações de imprensa, com benefícios fiscais? Teria a vantagem de tornar tudo mais claro.
Filipe Alves
00:31
Jornal Económico
Das respostas a estas duas questões depende o futuro do jornalismo tal como o conhecemos. Mas como se tem visto no debate público no seguimento do recente Congresso dos Jornalistas, uma grande parte da classe jornalística parece estar mais preocupada com lutas ideológicas e velhas rivalidades do que em encontrar soluções que assegurem a viabilidade económica do jornalismo, sem pôr em causa a sua independência.
Claro que continuamos a precisar de bom jornalismo. Todas as sociedades civilizadas precisam de alguém devidamente credenciado que sirva de mediador, que valide, selecione e hierarquize a informação. E de quem escrutine os diferentes poderes, para que haja boa governação, transparência e progresso.
Por outro lado, continua a existir procura pelos conteúdos jornalísticos. Não sou eu que o digo, mas sim os números das audiências dos meios de comunicação: mesmo em Portugal, país com fracos hábitos de literacia, os jornais em papel têm audiências médias que são 10, 15 ou mesmo 20 vezes superiores às vendas em banca. As audiências têm inclusive aumentado nos últimos anos. O mesmo sucede no online. Quer isto dizer que existe procura, mas que a mesma não se converte em receitas, porque as pessoas já não estão dispostas a pagar pela informação.
O que nos leva a outro aspeto relevante, que é a natureza da crise que enfrentamos e que vai muito além das dificuldades causadas pela adaptação à era digital. Tem precisamente que ver com o facto de sermos o único setor de atividade que oferece gratuitamente aquilo que produz. É uma espécie de haraquíri coletivo. Qualquer atividade onde isto aconteça está condenada, mesmo que entretanto o investimento publicitário milagrosamente recupere. E não vamos lá apenas com novos conteúdos digitais, newsletters e outras inovações, porque a publicidade no online ainda não é suficiente para pagar o tipo de jornalismo de que necessitamos enquanto sociedade. Uma andorinha ou outra não fazem a primavera.
Sem um modelo de financiamento sustentável, o jornalismo nunca sairá da crise que atravessa e terá cada vez mais dificuldade em cumprir o seu papel de quarto poder, aquele que tem como missão escrutinar todos os demais. Sem receitas que cubram as despesas, não há projetos sustentáveis. E sem isso não há futuro para o setor e os cidadãos passarão a dispor apenas da informação posta a circular na Internet, sem a mediação que apenas o jornalismo profissional assegura. Isto é tão simples quão trágico.
O que fazer então para salvar o jornalismo? Se tivesse a resposta a esta questão seria um homem rico. Mas atrevo-me a sugerir alguns caminhos.
Em primeiro lugar, servir o leitor, o que significa dar-lhe aquilo que precisa para que possa estar esclarecido e formar uma opinião, em vez de tentar “educá-lo”, como fazem alguns jornais que, não por acaso, estão em crise. Partir do pressuposto de que o leitor é estúpido é o primeiro passo para matar o jornalismo.
Em segundo lugar, encontrar novas fontes de receita, se necessário abdicando do modelo de negócio com fins lucrativos, nos casos em que este não é viável. Não me refiro a apoios públicos, mas sim a incentivos e benefícios fiscais ao mecenato nesta área. Se a maioria dos jornais portugueses dão prejuízo e ainda assim há quem invista neles, porque não apostar em fundações de imprensa, com benefícios fiscais? Teria a vantagem de tornar tudo mais claro.
Filipe Alves
00:31
Jornal Económico
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