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“Factos alternativos” e a política económica dos EUA
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“Factos alternativos” e a política económica dos EUA
O número de pessoas que participou na tomada de posse pode facilmente ser inferido pelas provas disponíveis. Mas a discussão está agora centrada numa questão mais séria que é se milhões de pessoas votaram ilegalmente, como Trump insiste desde as eleições.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem um problema óbvio com os dados de que não gosta, como mostrou no seu primeiro dia completo como presidente, ao atacar os órgãos de comunicação social por noticiarem com precisão o tamanho da multidão que marcou presença na sua tomada de posse. Deve ser igualmente óbvio que os "factos alternativos" são uma ameaça séria no domínio da política económica.
Trump reconheceu implicitamente que perdeu o voto popular de quase três milhões de eleitores, mas manteve, apesar de todas as provas em contrário, que uma elevada fraude eleitoral aconteceu.
Trump está a pedir uma investigação completa, e os Democratas devem receber bem qualquer oportunidade de ter especialistas a analisarem as provas com cuidado. Mas o perigo real tem de ser devidamente apreciado: Trump não está sozinho a ignorar a realidade. Outros Republicanos proeminentes, incluindo na Câmara dos Representantes, têm estado a viver no seu próprio mundo há algum tempo.
O exemplo mais óbvio são as mudanças climáticas. A esmagadora maioria dos cientistas concorda que o clima está a mudar e que a actividade humana, incluindo as emissões de dióxido de carbono, desempenha um papel importante nisso. Em qualquer investigação científica ou de outro tipo, há sempre uma margem de erro ou espaço para um desacordo razoável. Mas a estratégia dos Republicanos há muito que tem sido alegar que o clima não está a mudar ou que qualquer mudança não tem nada a ver com as pessoas nem com os seus carros, fábricas e centrais eléctricas.
Aqueles que acreditam nisto agora têm poder nos Estados Unidos. Exactamente o que é que eles vão fazer com a Agência de Protecção Ambiental federal ainda está por ver, mas os sinais iniciais são que os investigadores científicos vão ser amordaçados ou as suas actividades encerradas. De forma semelhante, as iniciativas importantes no âmbito das ciências da terra da NASA podem ser desviadas para outras agências governamentais – onde podem ser deixadas a morrer.
Esta é a estratégia que começa a emergir como forma de governo: negar que há um problema (apesar dos factos), cortar o financiamento a uma investigação politicamente inadequada e alegar que todos esses desfechos são rosas.
A primeira aplicação desta abordagem à política económica foi rápida e deu-se quando o secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer, se recusou a dizer qual é a taxa de desemprego – evitando uma questão que exigia que ele desse um número. A taxa de desemprego oficial, medida pelo Gabinete de Estatísticas do Trabalho (BLS na sigla em inglês), está actualmente nos 4,7%. Mas Trump alegou repetidamente que o desemprego verdadeiro é de 42% - um número que tem por base que todas as pessoas que não têm um emprego, incluindo reformados e estudantes, gostariam de estar a trabalhar.
Podemos esperar que o BLS enfrente alguns problemas de financiamento assim como vários tipos de pressões políticas. Por exemplo, sob a administração do antigo presidente George W. Bush, o acesso a documentos da biblioteca da Agência de Protecção Ambiental foi – pelo menos numa certa altura – restringido. E o Gabinete do Orçamento do Congresso já foi instruído pelos parlamentares Republicanos a mudar a forma como calculam os efeitos dos cortes nos impostos, de forma a parecerem mais benéficos para a economia do que os programas de despesa do Governo.
Estas questões vão atingir o seu auge quando Trump começar a nomear pessoas para o Conselho de Governadores da Reserva Federal. Há actualmente duas vagas no conselho que conta com sete membros – e mais posições podem ficar livres em breve (o mandato tanto da presidente como do vice-presidente expiram no início do próximo ano).
Parece totalmente plausível que Trump prefira as pessoas que pensam que a "verdadeira" taxa de desemprego é de 42% do que aquelas que partilham da visão que é de 4,7%. Esta e outras crenças estranhas podem ter um grande efeito sobre a política monetária – por exemplo, tendo tendência para reforçar a mão daqueles que querem manter as taxas de juro baixas por mais tempo.
Os Estados Unidos tiveram uma recuperação lenta e difícil da crise financeira de 2008; todos concordam com isso. Mas queremos uma Fed que olhe para os factos para decidir quando e qual a proporção da subida das taxas de juro? Ou queremos funcionários para quem os "factos" estão em total desacordo com o estado real da economia? Se os Estados Unidos escolherem esta última, o resultado vai ser uma inflação mais elevada – o que não é um bom desfecho para a maioria dos americanos. A última vez que isto aconteceu, na década de 1970, as pessoas com baixos rendimentos sofreram as consequências.
Se Trump insistir em tomar decisões que não são baseadas nos factos, um desfecho semelhante pode acontecer. E muitos daqueles que votaram nele podem esperar o pior.
Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor do livro "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You".
Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
Simon Johnson
08 de Fevereiro de 2017 às 20:00
Negócios
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem um problema óbvio com os dados de que não gosta, como mostrou no seu primeiro dia completo como presidente, ao atacar os órgãos de comunicação social por noticiarem com precisão o tamanho da multidão que marcou presença na sua tomada de posse. Deve ser igualmente óbvio que os "factos alternativos" são uma ameaça séria no domínio da política económica.
Trump reconheceu implicitamente que perdeu o voto popular de quase três milhões de eleitores, mas manteve, apesar de todas as provas em contrário, que uma elevada fraude eleitoral aconteceu.
Trump está a pedir uma investigação completa, e os Democratas devem receber bem qualquer oportunidade de ter especialistas a analisarem as provas com cuidado. Mas o perigo real tem de ser devidamente apreciado: Trump não está sozinho a ignorar a realidade. Outros Republicanos proeminentes, incluindo na Câmara dos Representantes, têm estado a viver no seu próprio mundo há algum tempo.
O exemplo mais óbvio são as mudanças climáticas. A esmagadora maioria dos cientistas concorda que o clima está a mudar e que a actividade humana, incluindo as emissões de dióxido de carbono, desempenha um papel importante nisso. Em qualquer investigação científica ou de outro tipo, há sempre uma margem de erro ou espaço para um desacordo razoável. Mas a estratégia dos Republicanos há muito que tem sido alegar que o clima não está a mudar ou que qualquer mudança não tem nada a ver com as pessoas nem com os seus carros, fábricas e centrais eléctricas.
Aqueles que acreditam nisto agora têm poder nos Estados Unidos. Exactamente o que é que eles vão fazer com a Agência de Protecção Ambiental federal ainda está por ver, mas os sinais iniciais são que os investigadores científicos vão ser amordaçados ou as suas actividades encerradas. De forma semelhante, as iniciativas importantes no âmbito das ciências da terra da NASA podem ser desviadas para outras agências governamentais – onde podem ser deixadas a morrer.
Esta é a estratégia que começa a emergir como forma de governo: negar que há um problema (apesar dos factos), cortar o financiamento a uma investigação politicamente inadequada e alegar que todos esses desfechos são rosas.
A primeira aplicação desta abordagem à política económica foi rápida e deu-se quando o secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer, se recusou a dizer qual é a taxa de desemprego – evitando uma questão que exigia que ele desse um número. A taxa de desemprego oficial, medida pelo Gabinete de Estatísticas do Trabalho (BLS na sigla em inglês), está actualmente nos 4,7%. Mas Trump alegou repetidamente que o desemprego verdadeiro é de 42% - um número que tem por base que todas as pessoas que não têm um emprego, incluindo reformados e estudantes, gostariam de estar a trabalhar.
Podemos esperar que o BLS enfrente alguns problemas de financiamento assim como vários tipos de pressões políticas. Por exemplo, sob a administração do antigo presidente George W. Bush, o acesso a documentos da biblioteca da Agência de Protecção Ambiental foi – pelo menos numa certa altura – restringido. E o Gabinete do Orçamento do Congresso já foi instruído pelos parlamentares Republicanos a mudar a forma como calculam os efeitos dos cortes nos impostos, de forma a parecerem mais benéficos para a economia do que os programas de despesa do Governo.
Estas questões vão atingir o seu auge quando Trump começar a nomear pessoas para o Conselho de Governadores da Reserva Federal. Há actualmente duas vagas no conselho que conta com sete membros – e mais posições podem ficar livres em breve (o mandato tanto da presidente como do vice-presidente expiram no início do próximo ano).
Parece totalmente plausível que Trump prefira as pessoas que pensam que a "verdadeira" taxa de desemprego é de 42% do que aquelas que partilham da visão que é de 4,7%. Esta e outras crenças estranhas podem ter um grande efeito sobre a política monetária – por exemplo, tendo tendência para reforçar a mão daqueles que querem manter as taxas de juro baixas por mais tempo.
Os Estados Unidos tiveram uma recuperação lenta e difícil da crise financeira de 2008; todos concordam com isso. Mas queremos uma Fed que olhe para os factos para decidir quando e qual a proporção da subida das taxas de juro? Ou queremos funcionários para quem os "factos" estão em total desacordo com o estado real da economia? Se os Estados Unidos escolherem esta última, o resultado vai ser uma inflação mais elevada – o que não é um bom desfecho para a maioria dos americanos. A última vez que isto aconteceu, na década de 1970, as pessoas com baixos rendimentos sofreram as consequências.
Se Trump insistir em tomar decisões que não são baseadas nos factos, um desfecho semelhante pode acontecer. E muitos daqueles que votaram nele podem esperar o pior.
Simon Johnson é professor na Sloan School of Management do MIT e co-autor do livro "White House Burning: The Founding Fathers, Our National Debt, and Why It Matters to You".
Copyright: Project Syndicate, 2017.
www.project-syndicate.org
Tradução: Ana Laranjeiro
Simon Johnson
08 de Fevereiro de 2017 às 20:00
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