Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 79 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 79 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Os populistas centristas não são de forma alguma isentos de riscos
Página 1 de 1
Os populistas centristas não são de forma alguma isentos de riscos
Quando pensamos em populistas, pensamos em nacionalistas, xenófobos, antieuropeus e protecionistas. Mas há outra categoria de populistas, menos repulsivos e menos extremistas nos seus pontos de vista, mas possivelmente de igual forma perigosos a longo prazo - o populista centrista.
Vejamos o exemplo de Silvio Berlusconi. Aqueles que veem a ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA como algo sem precedentes devem pensar na política italiana na década de 1990 e na primeira década deste século que foi dominada por Berlusconi. Os dois homens têm muito em comum. Berlusconi é um empresário bilionário, que conduziu a política no interesse das suas próprias empresas. Ele não tinha um plano estratégico para além de alguns slogans folclóricos pró-empresariais. A sua linguagem era direta, as suas maneiras grosseiras, o seu discurso político pouco sofisticado - tudo o que necessitou para agradar a uma grande quantidade de eleitores. Quem se consegue esquecer da forma como ele descartou o impacto da crise financeira global com o argumento de que os restaurantes continuavam cheios? Quando foi destituído de primeiro-ministro em 2011, responsabilizou as elites pró-União Europeia de Bruxelas e de Roma pela sua queda. O seu partido transformou-se desde então numa força de teóricos da conspiração antieuropeus.
Ele deixou um legado de devastação económica. O crescimento económico de Itália é anémico, a sua dívida muito alta e o sistema bancário muito fraco. O país será incapaz de permanecer na zona euro a menos que encontre uma maneira de aumentar a sua taxa de crescimento estrutural ou não pague a sua dívida. Pode ter de fazer as duas coisas.
Embora o perigo dos populistas de direita como Marine Le Pen em França ou Geert Wilders na Holanda seja evidente, o que poderá vir daqueles do género de Berlusconi é menos óbvio. No entanto, os danos que causou ao seu país foram profundos. Eles alastrarão também ao resto da Europa, se e quando a Itália entrar em incumprimento das suas dívidas.
Uma das características dos populistas centristas é que eles se multiplicam. Berlusconi gerou uma nova geração de populistas. Um deles é Matteo Renzi, primeiro-ministro de Itália de 2014 até dezembro do ano passado. Ele é um exemplo clássico de um jogador político de grandes apostas. Renzi apostou tudo num referendo de reformas constitucionais que teria cimentado o seu próprio poder e perdeu. Agora está a seguir impiedosamente um plano para recuperar o poder, dividindo o seu partido no processo.
Renzi fala sem parar sobre a necessidade de modernizar a Itália. Na semana passada, ele visitou a Califórnia para aprimorar as suas credenciais de tecnologia. No entanto, durante os dois anos e meio que esteve no poder, pouco fez para avançar com reformas económicas além de algumas mudanças relativamente menores no mercado de trabalho. A sua grande ideia política agora é formar uma grande coligação ao estilo alemão, nem mais nem menos do que com o senhor Berlusconi, dando origem à perspetiva de uma dose dupla de populismo centrista. A escolha alternativa italiana é o Movimento Cinco Estrelas, outro movimento populista, mais ou menos centrista, que também desafia a classificação usual de esquerda e direita. Beppe Grillo, o seu líder, é um populista, assim como Luigi Di Maio, o vice-presidente do Parlamento italiano, com 30 anos, e que é o candidato mais provável a primeiro-ministro se o Movimento Cinco Estrelas vencer umas eleições.
Há uma geração mais velha de políticos italianos com uma visão estratégica. Mas esses estão agora lentamente a sair da ribalta. Entre a geração mais jovem, dificilmente há alguém que não seja populista. O perigo é que o seu fracasso final e inevitável levará à ascensão de um verdadeiro extremista, do tipo que já não vemos há muitas décadas. Para os partidários da ordem económica liberal, os populistas do centro não deveriam ser de modo algum preferíveis aos populistas à direita.
A tendência para o populismo centrista é um desastre para a União Europeia e para a zona euro. Estas construções de soft power dependem de planeamento estratégico, coordenação, cooperação e moderação. A zona euro carece de um governo conjunto e tem como premissa a convergência económica e a governança baseada em regras. A sua sobrevivência depende da ausência de populismo.
O populismo pode assumir diferentes formas. Gerhard Schröder, o ex-chanceler social-democrata da Alemanha, poderia, talvez surpreendentemente, ser visto como um populista. Isso vale para o seu estilo de campanha, o mais bem-sucedido na política alemã moderna, a sua forma transacional de governança, a sua aliança sem princípios com o presidente Vladimir Putin da Rússia, bem como as suas políticas. As suas reformas no mercado de trabalho foram saudadas por estimularem o reavivamento económico da Alemanha e a sua força subsequente. Mas a sua natureza não coordenada é também a causa profunda dos desequilíbrios que surgiram na zona euro desde que ele deixou o poder, em 2005. Foi uma reforma do tipo protecionista.
Schröder e Berlusconi podem estar nos extremos opostos do espectro populista centrista. Um aumentou a competitividade do seu país em detrimento dos outros. O outro explorou o simples facto de o seu país ser demasiado grande para falir. Os estilos eram diferentes. Ambos foram populares por uns tempos. Nenhum deles é sustentável.
7 DE FEVEREIRO DE 2017
00:00
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
Vejamos o exemplo de Silvio Berlusconi. Aqueles que veem a ascensão de Donald Trump à presidência dos EUA como algo sem precedentes devem pensar na política italiana na década de 1990 e na primeira década deste século que foi dominada por Berlusconi. Os dois homens têm muito em comum. Berlusconi é um empresário bilionário, que conduziu a política no interesse das suas próprias empresas. Ele não tinha um plano estratégico para além de alguns slogans folclóricos pró-empresariais. A sua linguagem era direta, as suas maneiras grosseiras, o seu discurso político pouco sofisticado - tudo o que necessitou para agradar a uma grande quantidade de eleitores. Quem se consegue esquecer da forma como ele descartou o impacto da crise financeira global com o argumento de que os restaurantes continuavam cheios? Quando foi destituído de primeiro-ministro em 2011, responsabilizou as elites pró-União Europeia de Bruxelas e de Roma pela sua queda. O seu partido transformou-se desde então numa força de teóricos da conspiração antieuropeus.
Ele deixou um legado de devastação económica. O crescimento económico de Itália é anémico, a sua dívida muito alta e o sistema bancário muito fraco. O país será incapaz de permanecer na zona euro a menos que encontre uma maneira de aumentar a sua taxa de crescimento estrutural ou não pague a sua dívida. Pode ter de fazer as duas coisas.
Embora o perigo dos populistas de direita como Marine Le Pen em França ou Geert Wilders na Holanda seja evidente, o que poderá vir daqueles do género de Berlusconi é menos óbvio. No entanto, os danos que causou ao seu país foram profundos. Eles alastrarão também ao resto da Europa, se e quando a Itália entrar em incumprimento das suas dívidas.
Uma das características dos populistas centristas é que eles se multiplicam. Berlusconi gerou uma nova geração de populistas. Um deles é Matteo Renzi, primeiro-ministro de Itália de 2014 até dezembro do ano passado. Ele é um exemplo clássico de um jogador político de grandes apostas. Renzi apostou tudo num referendo de reformas constitucionais que teria cimentado o seu próprio poder e perdeu. Agora está a seguir impiedosamente um plano para recuperar o poder, dividindo o seu partido no processo.
Renzi fala sem parar sobre a necessidade de modernizar a Itália. Na semana passada, ele visitou a Califórnia para aprimorar as suas credenciais de tecnologia. No entanto, durante os dois anos e meio que esteve no poder, pouco fez para avançar com reformas económicas além de algumas mudanças relativamente menores no mercado de trabalho. A sua grande ideia política agora é formar uma grande coligação ao estilo alemão, nem mais nem menos do que com o senhor Berlusconi, dando origem à perspetiva de uma dose dupla de populismo centrista. A escolha alternativa italiana é o Movimento Cinco Estrelas, outro movimento populista, mais ou menos centrista, que também desafia a classificação usual de esquerda e direita. Beppe Grillo, o seu líder, é um populista, assim como Luigi Di Maio, o vice-presidente do Parlamento italiano, com 30 anos, e que é o candidato mais provável a primeiro-ministro se o Movimento Cinco Estrelas vencer umas eleições.
Há uma geração mais velha de políticos italianos com uma visão estratégica. Mas esses estão agora lentamente a sair da ribalta. Entre a geração mais jovem, dificilmente há alguém que não seja populista. O perigo é que o seu fracasso final e inevitável levará à ascensão de um verdadeiro extremista, do tipo que já não vemos há muitas décadas. Para os partidários da ordem económica liberal, os populistas do centro não deveriam ser de modo algum preferíveis aos populistas à direita.
A tendência para o populismo centrista é um desastre para a União Europeia e para a zona euro. Estas construções de soft power dependem de planeamento estratégico, coordenação, cooperação e moderação. A zona euro carece de um governo conjunto e tem como premissa a convergência económica e a governança baseada em regras. A sua sobrevivência depende da ausência de populismo.
O populismo pode assumir diferentes formas. Gerhard Schröder, o ex-chanceler social-democrata da Alemanha, poderia, talvez surpreendentemente, ser visto como um populista. Isso vale para o seu estilo de campanha, o mais bem-sucedido na política alemã moderna, a sua forma transacional de governança, a sua aliança sem princípios com o presidente Vladimir Putin da Rússia, bem como as suas políticas. As suas reformas no mercado de trabalho foram saudadas por estimularem o reavivamento económico da Alemanha e a sua força subsequente. Mas a sua natureza não coordenada é também a causa profunda dos desequilíbrios que surgiram na zona euro desde que ele deixou o poder, em 2005. Foi uma reforma do tipo protecionista.
Schröder e Berlusconi podem estar nos extremos opostos do espectro populista centrista. Um aumentou a competitividade do seu país em detrimento dos outros. O outro explorou o simples facto de o seu país ser demasiado grande para falir. Os estilos eram diferentes. Ambos foram populares por uns tempos. Nenhum deles é sustentável.
7 DE FEVEREIRO DE 2017
00:00
Wolfgang Münchau
Diário de Notícias
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin