PSD, PCP e Bloco, a mesma luta

O DN conta hoje a história de uma coligação negativa em formação na Assembleia da República. Um improvável consenso está formado, entre PSD, PCP e Bloco de Esquerda, e deverá revelar-se em forma de voto já nesta sexta-feira. E qual é o tema? Qual é o cimento que cola o PSD aos partidos que costuma tratar como "a esquerda radical"? A reposição de direitos e rendimentos a trabalhadores das autarquias.

Sim, leu bem. O PSD está ao lado de PCP e Bloco em matéria de legislação laboral. Aliás, em matéria de legislação laboral no setor público! É isso mesmo, sendo que a palavra-chave aqui parece ser "autarquias". Não é que esteja em causa a bondade da medida, que visa clarificar um imbróglio legislativo que dura há anos e que merece, de facto, ser resolvido, mas basta lembrarmo-nos de que em outubro há eleições autárquicas para que as intenções de uns e de outros fiquem a descoberto.

Em declarações ao DN, uma deputada do PSD afirma que a medida "irá possibilitar o fim das dúvidas interpretativas, com efeitos retroativos, permitindo aos municípios manter as suas decisões e aos trabalhadores receber as verbas a que têm direito sem terem de recorrer aos tribunais". Vamos ver se nos entendemos, o PSD defende agora que os trabalhadores das autarquias em questão recuperem aquilo a que não tiveram direito durante o governo liderado pelo... PSD. Viva as eleições autárquicas e que seja bem-vindo o Partido Social Democrata às vagas de reposição de direitos e rendimentos que tanto tem criticado, e que levariam o país ao encontro do diabo.

Ele esconde-se nos detalhes, ou em pedaços de legislação aprovados na Assembleia da República. Esconde-se também em respostas, ou na falta delas. Ao trabalharmos este tema, questionámos o óbvio: "Qual o impacto orçamental desta medida?" Recebemos nada, zero respostas. Que PCP e Bloco não se preocupem com isso não será muito estranho, estão habituados a pedir o impossível. Quanto ao PSD, em ano eleitoral autárquico, parece estar a lixar-se para contas.

30 DE MARÇO DE 2017
00:02
Paulo Tavares
Diário de Notícias