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O que nos revolta?
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O que nos revolta?
Quem vive na realidade virtual estranha a morte e confunde mensageiros com terroristas
Assinalamos na semana passada, sem grandes festas, nem parangonas, um “episódio marcante” na nossa história colectiva, um momento que alegadamente potencia os ideais autonomistas, por vezes adormecidos, ou tacitamente conformados, seja com a mercearia eleitoral ou com o conforto do lugar que a cunha ofereceu, com as baldas ou com o destino.
A comemoração da ‘Revolta da Madeira’ tende a ser sempre igual e é pena. Há tanto problema comum susceptível de gerar reparo e intervenção, atrevimento que o calculismo doentio e o carreirismo assumido castra, sem pejo de envergonhar gestos com 86 anos.
Revolta-nos ver partir os mais capazes para a incerteza, deixando-nos à mercê daqueles que chumbaram na excelência. Revolta-nos perceber que quem defende o indefensável tem pacto com a permissividade. Revolta-nos sentir a fragilidade de uma multidão, confundida com a reles tentativa de anestesiar reacções ou com as falsidades dos poderes, quase sempre refém de sumidades e das justificações infundadas que vão dando para as falhas em sectores nucleares, e que surgem com carácter mais urgente do que a solução capaz da viragem em tudo aquilo que limita liberdades, adia sonhos e mata vidas. Revolta-nos que muitas das estruturas sociais não consigam dar respostas às necessidades das pessoas e que, não raras vezes, na missão de informar, tenhamos que acudir dramas humanos antes de dar notícias. Revolta-nos que mesmo assim, haja quem se demore na rede e resuma o mundo à realidade virtual.
Não admira que aquilo que hoje mobiliza as massas na crítica seja trivial. É muito mais o defeito e o feitio do que a dedicação e o saber, mais a falha de arbitragem do que o primor técnico de um talentoso jogador e mais o busto do que o embuste. É bem mais a recente renomeação do aeroporto do que a inoperacionalidade de uma pista que adopta limites do anos 60, logo, anteriores à ampliação que custou uma pipa de massa. É mais o espalhafato político desprovido de consequências dos que as barbaridades que se praticam a coberto da imunidade parlamentar; mais os caprichos dos ricos ou tudo o que desperta inveja do que o comodismo social que permite que a negligência e a incoerência seja um posto; mais a hipócrita declaração de amor do que as atrocidades que semeiam o ódio; mais do mesmo.
RICARDO MIGUEL OLIVEIRA , DIRECTOR / 09 ABR 2017 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira
Assinalamos na semana passada, sem grandes festas, nem parangonas, um “episódio marcante” na nossa história colectiva, um momento que alegadamente potencia os ideais autonomistas, por vezes adormecidos, ou tacitamente conformados, seja com a mercearia eleitoral ou com o conforto do lugar que a cunha ofereceu, com as baldas ou com o destino.
A comemoração da ‘Revolta da Madeira’ tende a ser sempre igual e é pena. Há tanto problema comum susceptível de gerar reparo e intervenção, atrevimento que o calculismo doentio e o carreirismo assumido castra, sem pejo de envergonhar gestos com 86 anos.
Revolta-nos ver partir os mais capazes para a incerteza, deixando-nos à mercê daqueles que chumbaram na excelência. Revolta-nos perceber que quem defende o indefensável tem pacto com a permissividade. Revolta-nos sentir a fragilidade de uma multidão, confundida com a reles tentativa de anestesiar reacções ou com as falsidades dos poderes, quase sempre refém de sumidades e das justificações infundadas que vão dando para as falhas em sectores nucleares, e que surgem com carácter mais urgente do que a solução capaz da viragem em tudo aquilo que limita liberdades, adia sonhos e mata vidas. Revolta-nos que muitas das estruturas sociais não consigam dar respostas às necessidades das pessoas e que, não raras vezes, na missão de informar, tenhamos que acudir dramas humanos antes de dar notícias. Revolta-nos que mesmo assim, haja quem se demore na rede e resuma o mundo à realidade virtual.
Não admira que aquilo que hoje mobiliza as massas na crítica seja trivial. É muito mais o defeito e o feitio do que a dedicação e o saber, mais a falha de arbitragem do que o primor técnico de um talentoso jogador e mais o busto do que o embuste. É bem mais a recente renomeação do aeroporto do que a inoperacionalidade de uma pista que adopta limites do anos 60, logo, anteriores à ampliação que custou uma pipa de massa. É mais o espalhafato político desprovido de consequências dos que as barbaridades que se praticam a coberto da imunidade parlamentar; mais os caprichos dos ricos ou tudo o que desperta inveja do que o comodismo social que permite que a negligência e a incoerência seja um posto; mais a hipócrita declaração de amor do que as atrocidades que semeiam o ódio; mais do mesmo.
RICARDO MIGUEL OLIVEIRA , DIRECTOR / 09 ABR 2017 / 02:00 H.
Diário de Notícias da Madeira
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