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A revolta dos pastéis de nata

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Mensagem por Admin Qui Set 04, 2014 11:14 am

Quando Álvaro Santos Pereira usou os pastéis de nata como exemplo de um produto nacional forte e com potencial para a internacionalização, a sugestão foi recebida entre risotas e chacotas.

Considerar que um dos artigos nobres da confeitaria portuguesa seria tão vendável no estrangeiro como um hambúrguer da McDonald's, um churrasco do Nando's ou um donut da Dunkin Donuts - o que justificaria a criação de uma rede de franchising dos pastéis de nata - foi uma ideia tão achincalhada que acabou por desviar a atenção da mensagem que realmente interessava: a de que Portugal tem produtos nobres, marcas fortes e competências únicas. E isso, só por si, é um ponto de partida precioso para iniciar um projecto de internacionalização que dinamize a economia, revitalize as exportações e reforce o peso do ‘made in' Portugal nos mercados internacionais. Até aqui, nada de novo. O que o ministro da Economia de então se limitou a recordar, já lá vão mais de dois anos, foi o óbvio: falta mudar mentalidades, investir mais em inovação, correr mais riscos, ser mais competitivo. Seja com um software revolucionário, um medicamento único, um vinho premium ou - por que não? - um franchising de pastéis de nata ou de bolas de Berlim.

Não é expectável que a pastelaria consiga algum dia fazer mexer o ponteiro das exportações ou do crescimento económico. Mas o certo é que os últimos anos de crise forçaram investidores e empresas a procurar alternativas, soluções, novas ideias de negócio A necessidade, uma vez mais, aguçou o engenho. E uma larga maioria acabou por descobrir o inevitável: sobreviver e crescer passa pela inovação e novos mercados. Aos poucos, esses movimentos começam a traduzir-se em indicadores: mais empresas criadas, mais exportações, mais investimento fora de portas. A esta tendência de crescimento, ainda que tímido, junta-se agora o Relatório de Competitividade 2014-2015, do Fórum Económico Mundial: a economia portuguesa sobe 15 degraus no ‘ranking' global, depois de nove anos de queda e estagnação. Sim, é uma boa notícia. Quer dizer que algumas reformas tiveram um efeito positivo, que houve investimentos com bom retorno, que muitas apostas foram acertadas, que o ambiente económico se tornou mais favorável, que a criação de negócios é agora mais fácil.

Sim, são boas notícias, mesmo que seja preciso recordar o que ainda falta: mais reformas estruturais, um sector financeiro mais fortalecido, maior facilidade no acesso a crédito e apoio a pequenas e médias empresas, melhor educação - e, claro, mais capacidade de inovação. É preciso ainda mais engenho. O ministro que sucedeu a Álvaro, não fala em pastéis de nata. Pires de Lima prefere antes usar a expressão "braço-de-ferro" para traduzir o duelo entre quem puxa pela economia e quem anda a deprimi-la, entre os gestores que dinamizam empresas e aqueles que as têm desvalorizado. Independentemente dos alvos a quem Pires de Lima dirigiu estas farpas, a verdade é que, apesar de tudo o que ainda corre mal, o país começa a reconstruir a sua economia e a recuperar pontos na competitividade. E, apesar de todas as incertezas no caminho, é fácil de perceber quem está a ganhar este braço-de-ferro.

Helena Cristina Coelho
00.05 h
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