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O meu Partido é Lisboa
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O meu Partido é Lisboa
Que temos nós que ver, se não pertencemos nem a um Partido Político nem nos movimentamos nas brumas das Sociedades Secretas, com os problemas internos de um Partido Político na escolha de um líder?
As indispensáveis características daqueles que buscam e questionam mentalmente e que transformaram essa tendência natural em actividade principal, os “Intelectuais”, são sem dúvida a Independência e a Autonomia.
É a salvaguarda destas fronteiras que permite garantir a não conspurcação da fonte essencial do discernimento crítico, e assim a capacidade, quando necessário de divergir, de provocar, enfim, de exercer a dissidência sem inibição e com autenticidade.
Sócrates, com o exercício permanente da sua dialéctica através do discurso/diálogo directo, ilustra na História das Ideias a busca permanente desta Verdade, talvez inatingível, mas obrigatória.
Ora, nós sabemos através dos testemunhos de Platão, diálogos estes sim compostos “intelectualmente” através da retórica escrita, como esta Independência acabou.
No seu confronto com a Democracia Ateniense, Sócrates foi considerado pelo Estado subversivo e perigoso na sua actividade. Capaz de corromper a juventude através do seu método e ensinamentos.
Sócrates tinha de desaparecer. Tinha de ser eliminado. De forma “limpa”, mas efectiva.
É no seguimento da obra de Platão, seu discípulo e de Aristóteles por sua vez discípulo de Platão, que o “triângulo sagrado” se constitui, onde as referências fundamentais do Pensamento Ocidental se desenvolvem. Hoje, os “Akademus” e os “Lycaeum” onde os “Intelectuais” meditam e leccionam estão na herança directa deste legado.
Tudo isto vem a propósito de um dos acontecimentos mais deprimentes e fortuitos que tivemos oportunidade de presenciar. Um acto de vassalagem de toda uma geração de centenas de “Intelectuais” perante as promessas vagas, murmuradas matreiramente em operação charmosa, de futuras “multiplicações de pães”.
J. D. Quintela, felinamente habituado a estes “fedores”, classificou a promessa como “prato de lentilhas”, eu chamei-lhe de “sopa dos pobres” para manter o simbolismo dentro do novo contexto gastronómico da Ribeira.
Que temos nós que ver, se não pertencemos nem a um Partido Político nem nos movimentamos nas brumas das Sociedades Secretas, com os problemas internos de um Partido Político na escolha de um líder?
Este é um problema que devia ser resolvido internamente, independentemente se um líder é Tó-Tó ou o outro é esperto, ou se um é matreiro e o outro é sério. Tirem as vossas conclusões internamente, e só depois, apresentem publicamente os resultados na forma de um Programa Político com Líder definido.
A única coisa que eu tive oportunidade de verificar (ver " Corpo Presente, Mente Ausente ", da minha autoria, já em 26/08/2012, aqui no PÚBLICO) é que este “Caminho” de António Costa estava, há muito tempo, mais que “aberto” e a sua predefinição foi preparada minuciosamente ao milímetro, mesmo antes da candidatura ao presente mandato.
Portanto, houve uma deserção premeditada do seu compromisso com Lisboa, e só consigo reconhecer acrobacias em trampolim num projecto pessoal de ambição política.
E é precisamente esta “personalização” com o álibi de reforma política, arrastando a opinião pública e obrigando-nos a pronunciarmo-nos com o argumento de participação na liberdade de escolha, que eu rejeito como falacioso e enganador.
António Costa foi eleito para presidir aos destinos de Lisboa. Nesse sentido, a “personalização” que eu pretendia ver em Costa até ao fim do seu mandato era: O Meu Partido É Lisboa.
Que vão fazer os ditos “Intelectuais” no Futuro? Quando se sentirem enganados e utilizados, porque comeram a “sopa” e não leram o “Menu”? Envenenar-se com uns “empregozitos”?
Historiador de Arquitectura
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO 06/08/2014 - 01:30
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