A política e os negócios

A fronteira entre a política dos negócios e os negócios da política foi sempre ténue. O problema não é novo e a verdadeira separação entre os dois mundos dependerá da atitude e da consciência, de quantos neles se movem. Podem existir leis definindo regras e comportamentos, esclarecendo o que pode ou não pode ser feito, mas no final tudo se resumirá a duas coisas muito simples: sentido ético e eficaz aplicação da justiça. No primeiro caso isso implica honra e rigor, quer da parte dos políticos, quer da parte dos homens de negócios e, no segundo, implica que a lei seja respeitada e aplicada. Mas para que estas duas coisas possam verificar-se, ou até coexistir, não bastam discursos.

De nada servirá defender a separação entre a política e os negócios, como fez o primeiro-ministro no Pontal, se, por exemplo, permitimos a nomeação de gestores para a Parvalorem, cujo comportamento no BPN foi de duvidosa lisura. E de nada servirá defender a separação entre a política e os negócios, quando ao nosso lado continuam aqueles que fazem da sua união um exercício constante de vida. Quero com isto dizer, que se à ética das palavras não corresponder a ética dos factos, pouca esperança pode existir na alteração das situações que permanentemente corroem a credibilidade do nosso sistema político. Porque um sistema que destrói a transparência e permite a instalação da dúvida é um sistema que perde, por completo, a autoridade. E um sistema baseado no poder sem autoridade é um sistema condenado a morrer, independentemente das declarações de circunstância, independentemente dos discursos dos governantes ou dos líderes da oposição.   

Escreve à quarta-feira

Por Manuel Monteiro
publicado em 20 Ago 2014 - 05:00