Esperança

Este ano, que brevemente termina, será para os portugueses o mais revolucionário desde 1974. Quarenta anos depois do 25 de Abril, uma sucessão improvável de acontecimentos provocou um terramoto na ordem portuguesa. O poder económico, social e implícito de várias famílias (também para lá da acepção literal da palavra) foi abalado de forma impensável e, pelo menos enquanto não aparecem novos centros de decisão, boa parte da ordem instituída desapareceu para sempre.

Talvez isso não seja muito evidente para quem ande distraído nas suas vidas quotidianas, mas as grandes decisões políticas e empresariais já não são tomadas pelos mesmos e, provavelmente, até talvez já nem sejam tomadas em Portugal. No curto espaço de 12 meses, desapareceu o país que conhecíamos e atingimos como o ground zero de alguma coisa nova que ainda está para vir. Agora, e depois de termos assistido a este rápido mudar de página, só nos resta imaginar que o que aí vem será melhor. Precisamos de um regime político aberto aos cidadãos, e não fechado na partidocracia dominante.

Precisamos de uma economia menos dependente de dois ou três grupos de interesses, mais plural, livre e verdadeiramente concorrencial. Precisamos de uma sociedade menos acomodada e mais combativa e exigente. Precisamos de um país em que o crescimento económico seja instrumento da coesão social e não uma forma de uns enriquecerem muito, enquanto os outros se arrastam numa crescente miséria. Falta fazer muita coisa, em Portugal, para que isto tudo aconteça. Mas nenhum mundo novo pode nascer sem que primeiro morra o velho. Neste sentido, 2014 foi um excelente ano para os que querem uma sociedade mais inclusiva, livre e justa. Talvez o próximo ano possa trazer surpresas, pela positiva, no que toca ao nosso futuro colectivo. Portugal merece mais, muito mais, do que aquilo que conheceu nestas últimas décadas.

Escreve à sexta-feira

Por José Diogo Madeira
publicado em 5 Dez 2014 - 08:00