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Mensagem por Admin Ter Jan 06, 2015 1:04 pm

Politicamente o novo ano deve começar com estrondo, pois já em Janeiro as eleições na Grécia prometem agitar, e muito, as águas da política europeia, obrigando uma definição político-ideológica importante para entendermos onde se posicionam as diversas famílias partidárias europeias em relação à necessidade de se manter o ferro da austeridade.


Isto porque a possibilidade (espero que provável) de um governo liderado pelo Syriza tem motivado, da parte da elite europeia, uma reacção esdrúxula que nos poderia levar a pensar estarmos perante uma extensa ameaça promovida por um bando de bárbaros provenientes de um espaço político alienígena, quando na realidade não só se encontram as suas principais propostas totalmente alinhadas com a tradição e matriz da social democracia europeia (antes desta ter sido capturada pela narrativa liberal), como de acordo com a história recente, que soube - no passado - entender que excessivas preocupações com as dividas dos Estados poderiam levar o continente à ruína social, ao nacionalismo exacerbado, à inflação e inactividade económica. 

Neste ponto, não entendo como invés de aceitarmos acriticamente a narrativa imposta pela Alemanha da senhora Merkel, não nos lembramos que a mesma Alemanha (ou em mais rigor a então RFA) foi alvo de um importante (e decisivo) perdão parcial das reparações impostas no final das guerras (a I e a II) em 1953 quando o Acordo de Londres sobre as dívidas alemãs não só reduziu os montantes a liquidar em 50% como estendeu os prazos para o seu pagamento em 30 anos (razões que juntamente com os investimentos do Plano Marshall possibilitariam o "milagre alemão" nas décadas subsequentes ). Curiosamente na altura, antes ainda da institucionalização do modelo de solidariedade intra-europeia que hoje conhecemos como UE, entre os países credores que assinaram o acordo encontravam-se a Grécia, a Espanha e a Irlanda, ponto importante frequentemente recordado pelo Syriza para justificar a proposta de renegociação da dívida grega. 


Para mais, que pretende o Syriza assim de tão revolucionário? Afinal as propostas de repensar a dívida e abandonar a obsessão por um excedente orçamental (construído para pagar juros exorbitantes aos credores), reforçar os serviços sociais do Estado, repor o salário mínimo (ao nível antes de 2008), fornecer eletricidade e cuidados de saúde gratuita aos necessitados, atacar o desemprego através de políticas de investimento público não aparentam nada de radical ou revolucionário, antes pelo contrario, encontram-se bem dentro da tradição e matriz social-democrata europeia. Neste sentido 2015 promete ser decisivo para a esquerda moderada europeia, pois da reacção às eleições na Grécia (e do congresso electivo do PES em junho) sairá a resposta sobre de que lado da barricada da austeridade se encontra: se apoiante de quem entende a acção política apenas como um exercício de macro-economia (fantasiosa), cujas preocupações se centram na necessidade de equilibrar cegamente as contas públicas para distribuir lucros pelos credores do Estado; ou se do lado de quem entende que a actividade política deve ser praticada de forma crítica, prospectiva, solidária e sempre centrada na persecução da melhoria da qualidade de vida das pessoas sobre quem se exerce governo.

José Reis Santos 
00.05 h
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