Os “novos” pais não caem do céu…

No passado dia 19 o i traçou o retrato dos pais modernos: estão mais afectuosos e conscientes dos benefícios de uma paternidade activa e próxima. É verdade, mas poderiam ser muitos mais estes pais… E se, desde cedo, os rapazes fossem socializados para a valorização do cuidar? A alteração dos valores, das atitudes e das práticas sociais passa, também, pelo acesso a brinquedos diversificados e não estereotipados em função do género. Deste modo, não só se incutiria o sentimento de co-responsabilização e de partilha como se contribuiria para uma formação pessoal aberta e abrangente. Num dos seus estudos, Isabel M. André recordou que um brinquedo não é um objecto neutro, mas sim um veículo de simulação e de aprendizagem da vida adulta, que orienta os comportamentos e as práticas sociais, os lugares que mais tarde os homens e as mulheres ocupam na família, no emprego e na sociedade em geral.

No entanto, hoje, tanto os brinquedos como os livros infantis ou os manuais escolares continuam (muitos deles…) a “construir” o género através dos conteúdos escritos e das ilustrações incorporadas. Os diagnósticos são claros: fazem falta modelos igualitários de partilha de responsabilidades, afazeres, cuidados, afectos… Aguarda-se que todos os agentes de socialização assumam a sua responsabilidade pela veiculação de uma cultura de igualdade. Quando assim for, os percursos individuais (as opções familiares escolares, profissionais…), em vez de condicionados e formatados pelas tradicionais ideologias de género, serão finalmente reflexo das vocações e dos desejos genuínos de cada um/uma.

Professora no Instituto Superior de Economia e Gestão – U. Lisboa. Escreve à quarta-feira

Por Sara Falcão Casaca
publicado em 25 Mar 2015 - 08:00
Jornal i