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Os sábios chineses caem das nuvens
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Os sábios chineses caem das nuvens
A bússola foi inventada na China. Mas, numa curiosa reviravolta, tem sido quase impossível perceber o rumo da segunda maior economia do Mundo. O produto interno bruto (PIB) do país cresceu 6,9% no terceiro trimestre deste ano, a taxa de crescimento mais baixo dos últimos seis anos. O que investidores, executivos de topo e outros interessados querem realmente saber é de que forma a China está a enfrentar um alarmante abrandamento. Os sinais não são muito encorajadores.
O nevoeiro da incerteza instalou-se neste Verão. O colapso do mercado de valores de Xangai assustou os investidores estrangeiros, apesar de eles quase não estarem expostos aos seus efeitos. Até mesmo a inesperada desvalorização da moeda em 2 por cento face ao dólar norte-americano, a 11 de Agosto, não devia ter causado tanta preocupação. Em valores efectivos de “trade-weight” [índice de comparação do dólar norte-americano com as principais divisas a nível mundial], ainda assim continua a estar quase 12% mais forte do que um ano antes.
Mas à medida que os mercados ocidentais caíam, ficou claro que as percepções se tinham alterado. Os tecnocratas chineses, supostamente tão espertos, e que eram tão entusiastas a gerar activos e a conseguir milhões a partir da escassez, tinham chumbado em dois grandes testes. As suas tentativas de aumentar o preço das acções não tiveram sucesso. O vacilante iuan tornou os mercados mais instáveis, e não mais estáveis.
O facto de os líderes chineses serem meros mortais é muito importante, porque a transição económica que estão a tentar implantar é sobre-humana. A República Popular está a tentar passar de um crescimento muito rápido baseado em investimentos na indústria, para uma expansão mais lenta e apoiada no consumo e nos serviços. Isto envolve o redireccionamento de milhões de pessoas e de biliões de dólares em capital. Nunca antes se tentou algo desta envergadura.
Essa transição está ficar mais difícil devido ao facto de a velha economia estar em profunda desaceleração. Os lucros nas grandes indústrias chinesas diminuíram 8,8% em Agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O transporte de mercadorias por via-férrea regrediu 15%. Os investimentos imobiliários, que tinham suportado os preços de produtos como o cobre e o ferro a nível mundial, recuaram 1%, em comparação com uma década inteira com um nível de crescimento médio de 21%.
A visão mais optimista é a de que o sector dos serviços pode absorver os postos de trabalho em excesso e os restantes prejuízos. Os defensores dos serviços chineses, como o professor Nicholas Lardy, do Peterson Institute, salientam o facto de que o sector dos serviços já constitui metade de toda a actividade económica. Nos primeiros nove meses de 2015, estas indústrias “terciárias” representaram 54,1% do PIB, e no terceiro trimestre cresceram 8,4%, ou seja, mais rapidamente do que a economia em geral. A venda de bilhetes de cinema, por exemplo, está a crescer a uma taxa de quase 50%.
Mas muitas das estatísticas enganam e têm que ser melhor escrutinadas. Os dados oficiais avançados pela China afirmam que foram criados 17 milhões de postos de trabalhos no sector dos serviços em 2014, mais do que 2010, 2011 e 2012 somados. Olhemos com mais atenção, e notamos que alguns cargos, como em “serviços agrícolas”, sofreram apenas uma alteração de nomenclatura. Os investidores acabam por ter que adivinhar qual é o panorama real recorrendo a dados demasiado genéricos das vendas a retalho, ou relatórios financeiros e fiscais demasiado restritos de companhias como o grupo de comércio electrónico Alibaba.
A outra grande esperança é o mercado. Há três anos o presidente Xi Jinping prometeu conceder às forças da oferta e da procura um papel decisivo na economia, o que poderia ajudar a redistribuir a riqueza do Estado para os consumidores. O mercado deverá estar em destaque no próximo plano quinquenal, que em princípio será definido pelo Governo do Partido Comunista numa reunião que terá início a 26 de Outubro.
No entanto, até agora a promessa de Xi Jinping não foi cumprida. A China é excelente a delinear planos e ligações, como a Zona Franca de Xangai, a junção das Bolsas de Hong-Kong e Xangai e as tentativas de internacionalização do yuan. Mas as funções do mercado real têm sido menosprezadas. As grandes empresas não podem ir à falência, nem podem ser compradas. O sector do aço na China apresenta um excesso de capacidade à volta dos 300 milhões de toneladas, mais do triplo da produção anual dos Estados Unidos. A dívida já alcançou os 280% do PIB, de acordo com a firma de consultoria McKinsey, mas quase não se conhece casos de grande incumprimento.
À medida que a transição se torna mais complicada, será cada vez mais difícil perceber como está efectivamente a portar-se a China. Aqueles que perscrutam nos dados aleatoriamente espalhados à procura de descobrir padrões normalmente revelam mais sobre os seus próprios preconceitos e ideias feitas do que acerca da China.
O problema é que a falta de rumo piora à medida que o mundo presta mais atenção. Cada vez mais parece que não existe um plano definido e coerente para lidar com uma retracção mais rápida. A mais importante lição não é que os mandarins chineses falharam, mas sim que estão a fazer o melhor que se pode esperar de um grupo de seres humanos inteligentes mas falíveis.
Reuters / John Foley é ditor no Reuters Breakingviews
JOHN FOLEY
25/10/2015 - 13:24 (actualizado às 15:38)
Público
O nevoeiro da incerteza instalou-se neste Verão. O colapso do mercado de valores de Xangai assustou os investidores estrangeiros, apesar de eles quase não estarem expostos aos seus efeitos. Até mesmo a inesperada desvalorização da moeda em 2 por cento face ao dólar norte-americano, a 11 de Agosto, não devia ter causado tanta preocupação. Em valores efectivos de “trade-weight” [índice de comparação do dólar norte-americano com as principais divisas a nível mundial], ainda assim continua a estar quase 12% mais forte do que um ano antes.
Mas à medida que os mercados ocidentais caíam, ficou claro que as percepções se tinham alterado. Os tecnocratas chineses, supostamente tão espertos, e que eram tão entusiastas a gerar activos e a conseguir milhões a partir da escassez, tinham chumbado em dois grandes testes. As suas tentativas de aumentar o preço das acções não tiveram sucesso. O vacilante iuan tornou os mercados mais instáveis, e não mais estáveis.
O facto de os líderes chineses serem meros mortais é muito importante, porque a transição económica que estão a tentar implantar é sobre-humana. A República Popular está a tentar passar de um crescimento muito rápido baseado em investimentos na indústria, para uma expansão mais lenta e apoiada no consumo e nos serviços. Isto envolve o redireccionamento de milhões de pessoas e de biliões de dólares em capital. Nunca antes se tentou algo desta envergadura.
Essa transição está ficar mais difícil devido ao facto de a velha economia estar em profunda desaceleração. Os lucros nas grandes indústrias chinesas diminuíram 8,8% em Agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O transporte de mercadorias por via-férrea regrediu 15%. Os investimentos imobiliários, que tinham suportado os preços de produtos como o cobre e o ferro a nível mundial, recuaram 1%, em comparação com uma década inteira com um nível de crescimento médio de 21%.
A visão mais optimista é a de que o sector dos serviços pode absorver os postos de trabalho em excesso e os restantes prejuízos. Os defensores dos serviços chineses, como o professor Nicholas Lardy, do Peterson Institute, salientam o facto de que o sector dos serviços já constitui metade de toda a actividade económica. Nos primeiros nove meses de 2015, estas indústrias “terciárias” representaram 54,1% do PIB, e no terceiro trimestre cresceram 8,4%, ou seja, mais rapidamente do que a economia em geral. A venda de bilhetes de cinema, por exemplo, está a crescer a uma taxa de quase 50%.
Mas muitas das estatísticas enganam e têm que ser melhor escrutinadas. Os dados oficiais avançados pela China afirmam que foram criados 17 milhões de postos de trabalhos no sector dos serviços em 2014, mais do que 2010, 2011 e 2012 somados. Olhemos com mais atenção, e notamos que alguns cargos, como em “serviços agrícolas”, sofreram apenas uma alteração de nomenclatura. Os investidores acabam por ter que adivinhar qual é o panorama real recorrendo a dados demasiado genéricos das vendas a retalho, ou relatórios financeiros e fiscais demasiado restritos de companhias como o grupo de comércio electrónico Alibaba.
A outra grande esperança é o mercado. Há três anos o presidente Xi Jinping prometeu conceder às forças da oferta e da procura um papel decisivo na economia, o que poderia ajudar a redistribuir a riqueza do Estado para os consumidores. O mercado deverá estar em destaque no próximo plano quinquenal, que em princípio será definido pelo Governo do Partido Comunista numa reunião que terá início a 26 de Outubro.
No entanto, até agora a promessa de Xi Jinping não foi cumprida. A China é excelente a delinear planos e ligações, como a Zona Franca de Xangai, a junção das Bolsas de Hong-Kong e Xangai e as tentativas de internacionalização do yuan. Mas as funções do mercado real têm sido menosprezadas. As grandes empresas não podem ir à falência, nem podem ser compradas. O sector do aço na China apresenta um excesso de capacidade à volta dos 300 milhões de toneladas, mais do triplo da produção anual dos Estados Unidos. A dívida já alcançou os 280% do PIB, de acordo com a firma de consultoria McKinsey, mas quase não se conhece casos de grande incumprimento.
À medida que a transição se torna mais complicada, será cada vez mais difícil perceber como está efectivamente a portar-se a China. Aqueles que perscrutam nos dados aleatoriamente espalhados à procura de descobrir padrões normalmente revelam mais sobre os seus próprios preconceitos e ideias feitas do que acerca da China.
O problema é que a falta de rumo piora à medida que o mundo presta mais atenção. Cada vez mais parece que não existe um plano definido e coerente para lidar com uma retracção mais rápida. A mais importante lição não é que os mandarins chineses falharam, mas sim que estão a fazer o melhor que se pode esperar de um grupo de seres humanos inteligentes mas falíveis.
Reuters / John Foley é ditor no Reuters Breakingviews
JOHN FOLEY
25/10/2015 - 13:24 (actualizado às 15:38)
Público
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