Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 419 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 419 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
A Lógica Do Adepto
Página 1 de 1
A Lógica Do Adepto
Um polícia bate num cidadão desarmado, por, alegadamente, este último ter atirado palavras insultuosas contra a cara do agente da autoridade e que, supostamente, vinham acompanhadas de suor, perdigotos ou saliva. Como resultado, o cidadão foi espancado com uma barra de ferro, cujos golpes foram dados com a devida perícia policial, fruto de muito treino, e em zonas estratégicas do corpo do cidadão indefeso. Com o detalhe de tudo isto ter ocorrido à frente dos filhos menores. O que é feito de: “O senhor identifique-se, se faz favor?”. Não. É porrada logo. E já muita sorte temos nós em não estarmos na civilizada nação dos EUA, senão era um tiro no homem e pronto, estava feita a Justiça. A culpa do espancado, segundo a versão dada pelo próprio aos jornalistas, à saída do tribunal, fora a de ter ousado levar os filhos menores para um jogo de futebol. Pelo menos, terá sido esse o tema da troca de palavras que levou depois à ação policial. Percebo que um pai queira levar os filhos a assistir a um feito histórico. Percebo que sendo ele um benfiquista do Norte, de Matosinhos, queira levar os filhos vestidos com as camisolas do seu Benfica a assistir à primeira conquista de um “bi” dos encarnados em mais de três décadas. Ele, nos últimos anos, já devia estar farto de ouvir os vizinhos a gritar pelas vitórias do FC Porto, que teve já um “penta” e duas taças dos Campeões e mais não sei quantos títulos. Valia a pena o risco. O polícia, esse não o entendeu.
Contudo, como tenho esta obrigação jornalística de tentar perceber os dois lados da mesma história, percebo o polícia. Ele estava ali, num domingo, a trabalhar. Não era para se divertir e, de repente, apareceu-lhe ali um pai com dois filhos a achar que tinha mais direitos do que os pais de outros filhos que, precisamente para evitar os constrangimentos que ele estava a experimentar – que se baseava no calor e na falta de água para o filho que estava a desidratar -, não tinham ido ao jogo. O polícia ressentiu-se com tamanha irresponsabilidade paternal e decidiu dar-lhe um corretivo. No entanto, este mesmo polícia deveria ter atuado de outra forma e nada, mas mesmo nada, justifica a ação desproporcionada que as câmaras da CMTV captaram. Podia ter-lhe pedido a identificação e depois mandava-lhe uma multa para casa por desobediência à autoridade e por expor os filhos a situações de risco. Tudo dentro da mais perfeita legalidade. Eu, por exemplo, deixei de ir ao futebol com o meu pai quando, um dia, naquele mesmo estádio D. Afonso Henriques – que, caramba, até tem o nome do primeiro rei e acaba por ficar sempre associado a estas tristes cenas – fui agredido por ter expressado a minha liberdade de opinião.
Estava na bancada a comentar com o meu pai as jogadas do Boavista contra o Guimarães, quando, depois de uma jogada qualquer em que o Boavista fez um erro, apanhei uma forte pancada nas costas que quase me derrubou. Ao olhar para trás vi um individuo, de farto bigode e certamente adepto do Guimarães, pois para além da pancada nas costas começou a vociferar contra mim e a perguntar: “Então? E agora? Não dizes nada?”. Como jornalista, sei que há sempre dois lados, ou mais, da mesma história. Depende do ângulo e do interesse próprio com que se observam os factos. Como adepto de futebol, sei que só há um ângulo e não se fala mais nisso. Não há lógicas argumentativas, não há factos que possam destruir a convicção de um ser humano adepto de um clube de futebol. E temos de perceber que isso faz parte da natureza do homem. Na política, felizmente, é diferente. As pessoas podem votar hoje num partido e perceber que aquele não é o melhor e amanhã escolher outro. Exceto, quando olham para os partidos como se estes fossem equipas de futebol. Então, aí, é inútil. Vão defender o seu clube partidário independentemente dos erros cometidos e, sim, calam-se. Não dizem nada. E a seguir vão votar naqueles que lhe continuam a dar porrada com barras de ferro.
Frederico Duarte Carvalho
Jornalista e escritor
19 Maio, 2015 13:26
OJE.pt
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin