As questões

Existe, em boa verdade, uma importante diferença entre quem pensa que a automaticidade dos mecanismos reequilibradores de mercado funciona sempre e quem considera que tal nem sempre acontece.

Como existe uma diferença entre quem reconduz a análise do bem-estar à obtenção de preços competitivos (e, por conseguinte, tendencialmente mais baixos) e quem adopta uma perspectiva integrada do bem-estar social, compreendendo o nível de emprego e a evolução da restrição orçamental aplicada às famílias. 

Como importa, ainda, saber distinguir aqueles que entendem que não faz sentido falar-se em sectores estratégicos e em estratégia de internacionalização de uma economia dos que pensam de forma diferente.

Ou os que pensam, em termos fundamentalistas, que tudo o que é gerido por privados é, necessariamente, bem gerido e que, pelo contrário, tudo o que se integra no sector empresarial do Estado é, necessariamente, mal gerido.

Existe, portanto, uma diferença relevante entre o pensamento liberal-conservador e o pensamento social-democrata ou socialista democrático.

Mas, há questões que não devem, nem podem, ser, hoje em dia, iludidas.

Os recursos não são ilimitados e importa proceder à sua gestão com rigor, fazendo, sempre que necessário, alguns sacrifícios.

Não se apresenta possível proceder a acréscimos significativos no rendimento disponível das famílias se, porventura, não se registarem acréscimos substanciais na produtividade e no nível de actividade económica.

Mais, não faz sentido falar-se em Estado Social sem se atender a um conceito mais amplo de segurança humana, incorporando, entre outras, a segurança alimentar, a segurança no acesso à educação, a segurança na saúde, a segurança ambiental e a segurança política e física.

De nada vale dispormos de um bom serviço nacional de saúde na Europa do futuro se não existir segurança política e física.

E estas questões não podem ser iludidas pela esquerda democrática.

Caso contrário, a esquerda democrática não será tida como uma alternativa credível ao liberal-conservadorismo.

Pessimismo excessivo? Não creio que seja excessivo. E, quanto ao pessimismo, diria, como Fernando Pessoa, que "o pessimismo é bom quando é fonte de energia".

Nem mais, nem menos...

00:05 h
António Rebelo de Sousa
Económico