Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 452 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 452 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
Quando a esmola é grande, o pobre desconfia
Página 1 de 1
Quando a esmola é grande, o pobre desconfia
Quando comecei a escrever regularmente sobre política, não tinha qualquer apetência pelas questões económicas.
Os tempos conturbados que se seguiram ao 25 de Abril também não convidavam a isso: a política ocupava tudo, absorvia tudo, monopolizava tudo.
E assim foi até ao fim dos loucos anos 70 e nos princípios de 80.
Muitos portugueses abriram pela primeira vez os olhos para as questões económicas em 1983, com a chamada do FMI a Portugal, quando Mário Soares proferiu a célebre frase: «Os problemas económicos em Portugal são fáceis de explicar e a única coisa a fazer é apertar o cinto».
Mas logo em 1985 a política recuperou a hegemonia no palco mediático, com a conquista do poder por Cavaco Silva.
Apesar de ser economista, Cavaco dramatizou ao máximo as questões políticas, acabando por conquistar em 1987 a maioria absoluta.
A preocupação com a economia voltou na fase final do cavaquismo e nos primeiros tempos de Guterres, que foi acusado de não aproveitar as condições favoráveis.
Assim, ouvimos Durão Barroso dizer em 2002 que o país estava «de tanga».
E, após o curto consulado de Santana Lopes, José Sócrates ganhou as eleições e aumentou os impostos, depois de ter prometido baixá-los.
Até que, em 2011, com os juros da dívida a atingirem valores incomportáveis, Sócrates chama a troika e negoceia medidas de austeridade – que o Governo PSD/CDS irá aplicar.
É óbvio que, com esta evolução do país – progressivamente dominado pelas questões económicas –, os comentadores políticos tiveram de se ocupar cada vez mais do assunto.
Perceber só de política deixou de chegar para fazer análise política ajustada à realidade.
Entre o fogo de artifício de propostas e promessas lançadas pelo PS nas últimas semanas, o debate vai centrar-se sobretudo nas medidas de carácter económico.
E, como já se percebeu, um dos principais motores do crescimento da economia será, para o Partido Socialista, o aumento do consumo.
Ora, tenho muita dificuldade em entender esta opção – que só será compreensível numa perspectiva de querer agradar aos eleitores.
No fundo, o PS diz o seguinte: nós vamos distribuir mais dinheiro às pessoas, portanto o consumo vai aumentar, o PIB vai subir e a economia vai animar-se.
Acontece que as políticas de estímulo ao consumo não servem a países como Portugal.
Isso está sobejamente demonstrado.
Aliás, Teodora Cardoso, embora recusando-se a analisar as propostas socialistas, já lançou um alerta sério para os riscos de uma política deste tipo.
A questão explica-se de uma forma muito simples.
A classe média é a que mais consome; e do que a classe média consome, 60 a 70% é importado – dos carros à alimentação, passando pelas tecnologias.
Assim, o aumento do consumo provoca sempre o aumento das importações e o desequilíbrio da balança comercial, agravando o défice externo.
A dependência em relação ao exterior cresce, e a dívida externa também.
Esta situação começou a assumir graves proporções no tempo de Guterres, levando Durão a dizer a tal frase sobre o país ‘de tanga’.
Mas há outras consequências negativas do aumento do consumo das famílias.
Ele virá contrariar a tendência verificada nos últimos três anos, em que a retracção do consumo interno levou muitas empresas nacionais a virarem-se para o estrangeiro, provocando o crescimento das exportações.
Como resultado disso, a balança comercial equilibrou-se e a dívida externa diminuiu.
Mas, se o consumo voltar a subir, a situação tornará a inverter-se.
E há mais.
Como os últimos três anos também provaram, os períodos de austeridade correspondem a uma maior poupança.
Com medo da crise, as famílias gastam menos e poupam mais – o que é bom para a liquidez dos bancos.
Em conclusão, uma política de estímulo ao mercado interno poderá ser boa para países como a Alemanha, com uma grande indústria, em que o aumento do consumo da classe média faz mexer as empresas nacionais.
Em países como Portugal, em que a indústria é fraca, o crescimento do consumo vai beneficiar essencialmente as empresas estrangeiras.
Vai promover o emprego nos países dos quais Portugal importa.
E vai provocar hemorragia de capitais.
Esta é uma das principais razões para considerar altamente perigosas as propostas económicas do PS.
E os que as fizeram sabem-no.
Mas quiseram ser populares.
Dizendo que vão distribuir mais dinheiro às pessoas para elas poderem comprar mais, acham que estão a ganhar votos.
Mas será assim?
Depois de tantas dificuldades, muitos eleitores podem desconfiar das promessas de facilidades: quando a esmola é grande, o pobre desconfia.
E gato escaldado de água fria tem medo.
José António Saraiva | 01/06/2015 13:09:05
SOL
Tópicos semelhantes
» Quando ser pobre é correr por uma peça de roupa que não faz falta.
» O sacrifício do pobre
» Pobre campanha
» O sacrifício do pobre
» Pobre campanha
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin