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O pior são os fins de semana
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O pior são os fins de semana
À volta desta mesa, neste cenário rodeado de picos altíssimos, ravinas profundas, árvores ancestrais e rochas de formas estranhas, com a monja e o seu permanente sorriso por companhia, juntamo-nos para uma conversa improvável.
Na China já várias vezes me têm convidado para subir montanhas, mas nunca para passar tempo e conversar num templo taoista. Até agora. Neste fim de tarde do princípio da primavera, com um resto de frio a trespassar-nos os ossos, sentamo-nos em frente de uma monja que nos serve o chá e nos fala de três princípios que me esforçarei por nunca esquecer até ao fim da vida. O primeiro é que só o presente existe; o segundo é que é preciso aceitar a realidade; e o terceiro é que a nossa função na vida é sermos humanos e é isso que devemos procurar ser, bons humanos. A filosofia chinesa é mais uma coleção de observações empíricas sobre o mundo do que um sistema teórico de ideias e valores, mas para mim estes ensinamentos são tão profundos que os escrevo para não me esquecer, porque a memória já não anda boa.
Esta é a montanha de Qingcheng um dos locais onde nasceu o taoismo e já ilustrou o filme Kung Fu Panda 2. À volta desta mesa, neste cenário rodeado de picos altíssimos, ravinas profundas, árvores ancestrais e rochas de formas estranhas, com a monja e o seu permanente sorriso por companhia, juntamo-nos para uma conversa improvável: falar de Portugal. Os meus companheiros são três expatriados chineses com uma permanência de tempo variável em Lisboa, ali juntos por circunstâncias fortuitas. Uma professora, dois quadros de empresas. Como se sentem em Portugal? Quais as diferenças em relação à China?
"Os portugueses são um pouco teimosos e, no princípio, isso fazia-me sentir triste algumas vezes. Além disso, poucos falam inglês e os que o fazem têm uma pronúncia muito acentuada, difícil de entender". Outro discorda: "Teimosos não direi, mas não têm nenhuma noção do tempo; quando acontece algum problema na empresa dizem 'logo se resolve' e deixam sempre para outro dia. É um facto que a vida pessoal é mais importante do que o trabalho, o que é diferente da China".
Para todos os meus companheiros de conversa, o pior são os fins de semana. "Em Portugal não existe tanto entretenimento, nem tantas coisas para ver ou fazer como na China, as escolhas são muito limitadas. No princípio aproveitava os fins de semana para visitar as aldeias à volta de Lisboa, mas agora que já as vi todas, chego a sentir-me deprimido"; "em Portugal tenho mais tempo pessoal, mas os fins de semana são muito aborrecidos". Um dos quadros de empresa recomenda: "Quando vivemos num país diferente devemos procurar saber do que é que as pessoas gostam. Em Portugal gostam muito de futebol e de ver os jogos em restaurantes. Todos os fins de semana eu vou a um restaurante ver futebol. As pessoas à minha volta esquecem-se que eu sou chinês e gritamos em conjunto. Fico mais animado".
Todos reconhecem que Portugal tem alguns fatores em comum com a China. "Comem mais arroz do que noutros países europeus, comem favas secas e sementes de girassol tal como nós, chineses"; "para eles a família também é muito importante e têm muitas festas de família"; "respeitam muito o patrão e a hierarquia".
A conversa foi secando e, olhando em volta, a professora refere que o taoismo, a mais antiga tradição filosófica de raiz inteiramente chinesa, está a perder seguidores em favor do budismo não por causa da sua mensagem, mas devido a um modelo de negócio arcaico e incapaz de se adaptar aos tempos modernos. Os monges taoistas, diz ela, teimam em manter-se escondidos nas montanhas enquanto os budistas se integram nas cidades ou em paisagens lúdicas de fácil acesso. E, no entanto, é difícil imaginar como é bela esta montanha na China, um cenário perfeito, de uma tranquilidade absoluta. Uma beleza nem sempre óbvia ou evidente, que muda com o tempo, com as variações da luz, entre sol e sombra e as árvores jubilantes com um cheiro a primavera. A esta hora, lá em cima, uma lua em quarto crescente, curvada como a ponta duma unha, anuncia que terminou mais um fim de semana.
Professora no ISCTE Business School
Artigo escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
07 Junho 2015, 19:20 por Virgínia Trigo
Negócios
Na China já várias vezes me têm convidado para subir montanhas, mas nunca para passar tempo e conversar num templo taoista. Até agora. Neste fim de tarde do princípio da primavera, com um resto de frio a trespassar-nos os ossos, sentamo-nos em frente de uma monja que nos serve o chá e nos fala de três princípios que me esforçarei por nunca esquecer até ao fim da vida. O primeiro é que só o presente existe; o segundo é que é preciso aceitar a realidade; e o terceiro é que a nossa função na vida é sermos humanos e é isso que devemos procurar ser, bons humanos. A filosofia chinesa é mais uma coleção de observações empíricas sobre o mundo do que um sistema teórico de ideias e valores, mas para mim estes ensinamentos são tão profundos que os escrevo para não me esquecer, porque a memória já não anda boa.
Esta é a montanha de Qingcheng um dos locais onde nasceu o taoismo e já ilustrou o filme Kung Fu Panda 2. À volta desta mesa, neste cenário rodeado de picos altíssimos, ravinas profundas, árvores ancestrais e rochas de formas estranhas, com a monja e o seu permanente sorriso por companhia, juntamo-nos para uma conversa improvável: falar de Portugal. Os meus companheiros são três expatriados chineses com uma permanência de tempo variável em Lisboa, ali juntos por circunstâncias fortuitas. Uma professora, dois quadros de empresas. Como se sentem em Portugal? Quais as diferenças em relação à China?
"Os portugueses são um pouco teimosos e, no princípio, isso fazia-me sentir triste algumas vezes. Além disso, poucos falam inglês e os que o fazem têm uma pronúncia muito acentuada, difícil de entender". Outro discorda: "Teimosos não direi, mas não têm nenhuma noção do tempo; quando acontece algum problema na empresa dizem 'logo se resolve' e deixam sempre para outro dia. É um facto que a vida pessoal é mais importante do que o trabalho, o que é diferente da China".
Para todos os meus companheiros de conversa, o pior são os fins de semana. "Em Portugal não existe tanto entretenimento, nem tantas coisas para ver ou fazer como na China, as escolhas são muito limitadas. No princípio aproveitava os fins de semana para visitar as aldeias à volta de Lisboa, mas agora que já as vi todas, chego a sentir-me deprimido"; "em Portugal tenho mais tempo pessoal, mas os fins de semana são muito aborrecidos". Um dos quadros de empresa recomenda: "Quando vivemos num país diferente devemos procurar saber do que é que as pessoas gostam. Em Portugal gostam muito de futebol e de ver os jogos em restaurantes. Todos os fins de semana eu vou a um restaurante ver futebol. As pessoas à minha volta esquecem-se que eu sou chinês e gritamos em conjunto. Fico mais animado".
Todos reconhecem que Portugal tem alguns fatores em comum com a China. "Comem mais arroz do que noutros países europeus, comem favas secas e sementes de girassol tal como nós, chineses"; "para eles a família também é muito importante e têm muitas festas de família"; "respeitam muito o patrão e a hierarquia".
A conversa foi secando e, olhando em volta, a professora refere que o taoismo, a mais antiga tradição filosófica de raiz inteiramente chinesa, está a perder seguidores em favor do budismo não por causa da sua mensagem, mas devido a um modelo de negócio arcaico e incapaz de se adaptar aos tempos modernos. Os monges taoistas, diz ela, teimam em manter-se escondidos nas montanhas enquanto os budistas se integram nas cidades ou em paisagens lúdicas de fácil acesso. E, no entanto, é difícil imaginar como é bela esta montanha na China, um cenário perfeito, de uma tranquilidade absoluta. Uma beleza nem sempre óbvia ou evidente, que muda com o tempo, com as variações da luz, entre sol e sombra e as árvores jubilantes com um cheiro a primavera. A esta hora, lá em cima, uma lua em quarto crescente, curvada como a ponta duma unha, anuncia que terminou mais um fim de semana.
Professora no ISCTE Business School
Artigo escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
07 Junho 2015, 19:20 por Virgínia Trigo
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