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Mensagem por Admin Qua Jul 06, 2016 10:59 am

O Estado da Nação não é o estado da governação. A não ser quando a conversa chega ao Parlamento, onde o país passa a preto e branco, só há bons e maus, na história que apenas pertence a bandidos e heróis. Se a nação está como está, para o bem ou para o mal, não é a política nem os políticos que determinam o essencial do seu curso. O contexto internacional é decisivo. A economia. As bolhas que rebentam. As pulsões dos mercados. As decisões alheias também.

1. Contexto internacional. O país não está melhor que há um ano. A Europa é que ficou um sítio ainda mais mal frequentado do que já estava. E isso não é culpa de Costa nem de Centeno. Mas também não é desculpa para os seus próprios erros. A Europa perdeu pujança económica, o que condiciona a nossa retoma. A Europa não tem sequer uma história de futuro, porque ficou bloqueada no presente. A autoexclusão do Reino Unido é uma metáfora terrível da União que deixou de entusiasmar. Meio caminho para deixar de fazer sentido. Pior só nas geografias onde diversificávamos mercados e investimentos: Angola sob resgate, Brasil em colapso. Até a China se virou para dentro e a Venezuela que entretanto implodiu. A conjuntura internacional sempre foi usada para alijar responsabilidades ou atenuar méritos, consoante o vento que sopra desde fora. À geringonça faltam peças. E sorte.

2. Confiança. Aqui não há álibis. A crise de confiança objetivamente aumentou e as razões são todas de natureza interna. Há algo de louvável nisto: António Costa ousou uma solução de governo sui generis, procurou apoio em quem ataca o sistema, teve a coragem (ou a inevitabilidade...) de desafiar a cartilha instituída. Mas o país paga um preço quando a política: desafia a lei e reverte privatizações consumadas; compromete a sua credibilidade externa quando escalda fundos globais na "esdrúxula" solução para os obrigacionistas do Novo Banco; ameaça credores internacionais quando reverte reformas. Portugal não tem poupança interna, depende, portanto, de investimento estrangeiro. Que deixou de chegar, até ver...

3. Situação económica. O Estado da Nação é um estado de negação. Todo o projeto económico que o Dr. Centeno andou meses a fio a desenhar com um grupo de economistas assentava numa política que fomentava o crescimento. A política é a que temos, a economia é que não fomentou. Não é o regresso à recessão. Mas as contas não vão bater certo. E com Bruxelas em cima, haverá, sim, plano B. B de bis: mais impostos, mais aperto na procura interna, menos crescimento. Pior do que o bis, pior do que o já visto, porque a banca é a bomba que não rebentou completamente. E desta vez nem o motor das exportações está com força para contrariar a corrente.

4. Justiça social. Um ministro confessava em surdina: "Isto ficou desequilibrado." Isto é a concertação social, onde participa. E o desequilíbrio era para o lado dos patrões, sequela da liberalização que a troika preconizou e a coligação PSD-PP alegremente implementou. Os efeitos de um ajustamento são sempre devastadores no elo mais frágil da sociedade. Mas também havia um plano, a convicção muito inspirada pelo malogrado António Borges, de que Portugal precisava de destruição virtuosa. E que, por conseguinte, essa mão invisível afastaria os "obstáculos" ao fenómeno automático e depurador dos mercados. Como, por exemplo, os sindicatos. A geringonça tem promovido redistribuição de rendimentos, não se sabe a que custos. Bondade sem racionalidade. Se for como noutros tempos, nada rima com sustentabilidade.

5. Conflitualidade. Guterres derrubou Cavaco e inventou o diálogo. Costa inventou a geringonça e instalou-se com um governo fofinho. Vinte anos depois, a simpatia de novo, o Estado da Nação é simples de resumir: menos conflito social, mais aflitos financeiramente. Não soa bem, pois não? Nem a novo: férias felizes e mais endividamento.

06 DE JULHO DE 2016
00:00
Sérgio Figueiredo
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