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Mensagem por Admin Qui Set 24, 2015 11:59 am

É verdade que houve austeridade, mas só para os cidadãos; para os governos, houve prodigalidade.

Não falta quem atribua as culpas da crise ao encolhimento do Estado. Explicação desmentida por dados do Eurostat mas que, mesmo assim, ganhou força a partir de 2011. Ano em que começaram a emergir, por todo o planeta, movimentos populares de indignados. O problema é o esquecimento de que em 2011 as economias ocidentais já viviam em crise há quatro anos.

Percebe-se, com base na ilimitada fé no Estado Providência e nas virtudes do sector "público", que a indignação maior não seja por o Estado se ter tornado anorético ou deixado de crescer, mas por não poder continuar a expandir-se. 

Como se o fracasso se devesse à diminuição do peso do governo e não à sua expansão: mais impostos e mais gastos. É verdade que houve austeridade, mas só para os cidadãos; para os governos, houve prodigalidade. 

Ainda assim, a maioria das pessoas, vítima de uma espécie de miragem colectiva, tende a acreditar (indignando-se) que se está num processo de recuo do Estado. O que ajuda a explicar a popularidade política dos programas de transferências fiscais e a falta de consciência da insustentabilidade e iniquidade dos compromissos criados às gerações dos nossos filhos e netos: obrigadas a pagar o que jamais irão receber. 

Atitude que se opõe à de uma outra época em que os homens livres não lutavam por aumentar a tirania do Estado, mas para a reduzir. Foi o tempo em que Jefferson proclamou que "o mau governo deriva do muito governo" e Paine sentenciou que "a obrigação de um patriota é proteger o seu país do seu governo".

Quiçá, em tempo de proliferação de promessas, o cidadão comum dê conta de que tudo o que o governo dá, tira-o previamente. Libertando-se da propaganda que o impede de ver que todas as pensões têm uma parte não contributiva paga por impostos e da falácia do crescimento assente no estímulo à procura interna. Mal vai a PàF ao não garantir a redução da carga fiscal; mas bem pior é propor (PS) novas formas de financiar a Segurança Social: como o imposto sobre as heranças ou o uso do dinheiro das portagens (a que agora promete pôr cobro, pelo menos no interior e Algarve). 

Costa pode desconhecer que com menos austeridade a dívida teria crescido ainda mais. Mas sabe que ensinar um homem a pescar, garantindo-lhe sustento no futuro, não é o mesmo que dar-lhe o peixe de outro homem para garantir o seu voto.

O que ajuda a entender tanta aversão à ‘troika' e às reformas que ficaram por fazer. 

Daí as loas ao gasto e ao consumo, não vá o Zé Povo compreender que sem austeridade não há prosperidade. No limite, teremos o regresso da ‘troika' com remédios, como na Grécia, ministrados por quem os recusava. Por ora, a escolha é entre os que rejeitam a baixa dos impostos que cobrem os défices e os que prometem novas tramóias para sustentar o insustentável. Contando para tal com uma imprensa conivente e uma corte intelectual propensa a justificar novos experimentalismos a bem da quadrilha emergente: de modo a garantir votos e legitimar o desenvolvimento de uns à custa de outros, em vez do bem-estar para todos.

00:05 h
José Manuel Moreira
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