Nos nossos dias, governo tende a ser cada vez mais Governança, ou seja gestão participada. Atualmente o modo como se organiza o território, face à complexidade da gestão, é também fruto do cruzamento de iniciativas ‘voluntaristas’ das comunidades locais ou regionais, e das propostas da Administração Central, nível de Governança que determina a maioria das grandes decisões sobre o território de Portugal, sejam elas Programas ou Planos ou simplesmente classificações de nível administrativo que, em qualquer caso, são depois sustentáculo de decisões a jusante. O percurso histórico da organização administrativa portuguesa até aos nossos dias segue, na sua essência, o desenvolvimento e consolidação dos Municípios face ao governo central e a outros poderes detidos, durante muito tempo em grandes áreas do território, por senhores da terra, nomeadamente durante a época feudal, ou por ordens religiosas, militares ou outras que acabaram por ter uma importância fundamental na estruturação de unidades organizativas do território, cujas marcas, em muitos casos, ainda subsistem.
Por outro lado, as diferenças naturais no espaço que hoje constitui o território português também explicam o diferente peso das formas de organização e administração do território, sendo que essas diferenças tenderam a criar unidades locais e regionais, ‘pré-portucalenses’, ainda que com pouco vínculo entre si mas cujas respetivas identidades, em muitos casos, chegaram até nós, proporcionando sempre que necessário fundamentação para reclamar diferenças e reivindicar especificidades regionais ou locais.
O território genético de Portugal, o Entre-Douro-e-Minho e litoral oeste até ao Mondego, é o território que proporcionou, desde o século xi, maior facilidade de administração e controlo central pelas condições naturais – menos montanhoso, abundante em água e perto da costa – sendo, por isso, bastante povoado, com uma grande proximidade entre as unidades de povoamento e maior facilidade de ligação entre si.
Os territórios interiores, organizaram-se desde cedo em comunidades e concelhos que tiveram um papel determinante na consolidação do território português, principalmente os de zonas isoladas de Trás-os-Montes e Beira, que dada a instabilidade nos primeiros séculos da nossa História, se submeteram facilmente, ou até por sua própria vontade, às autoridades senhoriais ou religiosas, multiplicando o modelo de dependência a ‘governos intermédios’ que, por isso, cobravam direitos aos que supervisionavam. Na primeira metade do século xv, o governo do Rei consegue instituir formas de exercício de poder acima de todos os outros, em todo o território de Portugal, através dos Corregedores e das respetivas Comarcas, áreas onde se controlava a recolha do imposto que recaía sobre a economia local alimentada principalmente pela atividade agrícola.
Neste quadro, as cidades e os concelhos com cidades já constituíam pontos de atração no território em geral, pela acumulação de gentes e riqueza. De facto, a cidade sempre foi uma unidade territorial interessante para os poderes, não sendo igual, ainda hoje, exercer poder sobre um concelho rural ou sobre um concelho urbano. Na época da reconquista não é indiferente conquistar uma vila ou uma cidade e as cidades, tal como hoje ainda acontece, estão no litoral, que oferece melhores condições, e menos no interior.
Assim, a estruturação das formas de governo, face à diferenciação do território em áreas mais e menos interessantes, começou muito cedo na nossa história, criando, por seu lado, novas diferenças que se mantiveram ou que se esbateram conforme 'os desafios de época’: os sítios defensivos ao longo da fronteira, alguns dos quais receberam os primeiros forais entre todos os concelhos de Portugal, já foram tão importantes quanto outros, nomeadamente as cidades do litoral, e acabaram desajustados no contexto nacional recente. |
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
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