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As ironias da História
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As ironias da História
A Europa continua a lidar como pode e como quer com a gigantesca crise de refugiados que lhe entrou, sem remédio, pelas portas adentro. Por enquanto, a discussão tem estado centrada nas quotas, quantos milhares de pessoas cada país irá receber, e se esse programa será ou não compulsório.
Depois da Grécia, cujo processo demonstrou as frágeis linhas com que se cose esta União Europeia, temos aqui mais um enorme desafio político ao que entendemos como projecto europeu. Perante uma visão simples daquilo que gostamos de chamar de "valores europeus", parece óbvio o que fazer, ter um espírito aberto e de acolhimento desta multidão de desesperados. Mas o que vemos são as diferentes sensibilidades domésticas a olharem para o problema.
Aqui, das duas uma: ou há uma resposta única imposta que irá aumentar os sentimentos anti-Bruxelas no continente ou então cada país fará como entender, mostrando que esta União Europeia não passa de uma fachada sem qualquer conteúdo. Ou seja, qualquer solução terá custos e irá pressionar ainda mais a incipiente cola política desta construção. Quanto ao problema na origem, as reticências são ainda muitas, mas a realidade encarregar-se-á de as esbater. Enquanto se continuar a olhar para o lado, o Estado Islâmico continuará a fazer a única coisa que sabe fazer, com os efeitos locais e continentais que se conhecem.
O outro lado da história são as ironias da História. Imagens de dezenas de milhares de sírios, sujos e desesperados, empunhando cartazes rudimentares dizendo apenas "Alemanha". A mesma Alemanha cujo percurso está manchado pela perseguição e limpeza étnica, e que pela voz de Angela Merkel tem sido o país com mais abertura - e de forma responsável - em toda esta crise.
A ironia de um bloco europeu que tratou os gregos sem qualquer compaixão humanitária e movida sobretudo pelo desejo de provocar ao país uma humilhação política, e que agora não resistiu às imagens demolidoras e à realidade que lhe entrou pelas ténues fronteiras.
A ironia de um François Hollande que, depois de ter andado liricamente a brincar à Primavera Árabe e com isso ajudado a espalhar o caos na Líbia, prometer agora bombardear posições do Estado Islâmico na Síria, acabando com isso por favorecer Assad, que não é mais bonzinho do que era Kadaffi.
E a ironia de ouvirmos tantos portugueses, povo de emigrantes, a falar de alto para os desgraçados que procuram ajuda.
É evidente que é preciso um plano - que não existe ainda - que é preciso ordem, que é preciso uma abordagem coerente e multifacetada ao problema. Que a Europa discuta, com seriedade e celeridade, e que saiba dar um exemplo de abertura e da sua afamada organização, pela qual a História a julgará.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
Depois da Grécia, cujo processo demonstrou as frágeis linhas com que se cose esta União Europeia, temos aqui mais um enorme desafio político ao que entendemos como projecto europeu. Perante uma visão simples daquilo que gostamos de chamar de "valores europeus", parece óbvio o que fazer, ter um espírito aberto e de acolhimento desta multidão de desesperados. Mas o que vemos são as diferentes sensibilidades domésticas a olharem para o problema.
Aqui, das duas uma: ou há uma resposta única imposta que irá aumentar os sentimentos anti-Bruxelas no continente ou então cada país fará como entender, mostrando que esta União Europeia não passa de uma fachada sem qualquer conteúdo. Ou seja, qualquer solução terá custos e irá pressionar ainda mais a incipiente cola política desta construção. Quanto ao problema na origem, as reticências são ainda muitas, mas a realidade encarregar-se-á de as esbater. Enquanto se continuar a olhar para o lado, o Estado Islâmico continuará a fazer a única coisa que sabe fazer, com os efeitos locais e continentais que se conhecem.
O outro lado da história são as ironias da História. Imagens de dezenas de milhares de sírios, sujos e desesperados, empunhando cartazes rudimentares dizendo apenas "Alemanha". A mesma Alemanha cujo percurso está manchado pela perseguição e limpeza étnica, e que pela voz de Angela Merkel tem sido o país com mais abertura - e de forma responsável - em toda esta crise.
A ironia de um bloco europeu que tratou os gregos sem qualquer compaixão humanitária e movida sobretudo pelo desejo de provocar ao país uma humilhação política, e que agora não resistiu às imagens demolidoras e à realidade que lhe entrou pelas ténues fronteiras.
A ironia de um François Hollande que, depois de ter andado liricamente a brincar à Primavera Árabe e com isso ajudado a espalhar o caos na Líbia, prometer agora bombardear posições do Estado Islâmico na Síria, acabando com isso por favorecer Assad, que não é mais bonzinho do que era Kadaffi.
E a ironia de ouvirmos tantos portugueses, povo de emigrantes, a falar de alto para os desgraçados que procuram ajuda.
É evidente que é preciso um plano - que não existe ainda - que é preciso ordem, que é preciso uma abordagem coerente e multifacetada ao problema. Que a Europa discuta, com seriedade e celeridade, e que saiba dar um exemplo de abertura e da sua afamada organização, pela qual a História a julgará.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
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