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A decisão do dinheiro
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A decisão do dinheiro
1. Pedro Passos Coelho cometeu dois erros fatais no debate que o opôs a António Costa. Subestimou o secretário-geral do Partido Socialista; não foi capaz de sair da capa de primeiro-ministro e de se colocar na de candidato.
Soma-se a isso o uso excessivo da política do medo personalizado na figura de Sócrates, que desvalorizou esse trunfo e o da Grécia.
As expectativas também estavam do seu lado. Era dele que se esperava mais firmeza perante a preparação incisiva de António Costa. Um primeiro-ministro/candidato encolhido pelo peso de quatro anos de poder, anos duros de desemprego, de cortes de pensões, de dificuldades, perde sempre perante um opositor que supera as expectativas e que foi capaz de sacudir as dores da austeridade. Mas perderia mais ainda se saísse do seu registo e respondesse com agressividade.
Vai fazer bem a Pedro Passos Coelho ter perdido o debate. Para sair à rua e mostrar se tem ou não trunfos. Se está ou não cansado. Para assumir os erros de governação, muitos, além dos que devia. Mas o debate não tornou António Costa mais credível para o cargo de primeiro-ministro. Deu-lhe, sim, a primeira dinâmica de vitória.
Falta ver os dias que sobram. Com o bolso a decidir mais o voto do que a razão, ganhará quem perceber o espírito do eleitorado. Quem tiver as palavras certas, a esperança certa, a noção de estabilidade certa. E quem for absolutamente claro sobre o que quer para a Segurança Social (nenhum é), o emprego, a Saúde, a Educação e os impostos.
2. O Novo Banco é matéria de Estado. Logo de contribuintes. Nossa. E é boa a decisão do Banco de Portugal de adiar a venda para depois das eleições. Porque não tem condições, nem o negócio é apelativo para vendedor e comprador.
Porque a pressa é má conselheira.
Mal está todo o processo. A começar pela longa agonia do fim do BES. Passando depois pelo Banco de Portugal sentado na posição de vendedor e esquecendo que a sua função é eminentemente de regulação. E terminando com o Governo a escudar-se por detrás do Banco de Portugal. E a Oposição a fazer desta matéria uma arma de arremesso eleitoral.
Não é difícil de perceber que a injeção pela Banca de cinco mil milhões no Fundo de Resolução acabará por nos ir, direta ou indiretamente, ao bolso. Experiência não nos falta como nos prova o caso BPN, salvaguardando as devidas diferenças. Mas é forçoso que agora impere o bom senso. A economia e a Banca estão demasiado frágeis para suportar um novo rombo no sistema financeiro.
A prazo, este cenário pode levar a um novo recuo na concessão de crédito às empresas e às famílias. E isto será fatal. Esteja quem estiver no Governo.
12.09.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
Jornal de Notícias
Soma-se a isso o uso excessivo da política do medo personalizado na figura de Sócrates, que desvalorizou esse trunfo e o da Grécia.
As expectativas também estavam do seu lado. Era dele que se esperava mais firmeza perante a preparação incisiva de António Costa. Um primeiro-ministro/candidato encolhido pelo peso de quatro anos de poder, anos duros de desemprego, de cortes de pensões, de dificuldades, perde sempre perante um opositor que supera as expectativas e que foi capaz de sacudir as dores da austeridade. Mas perderia mais ainda se saísse do seu registo e respondesse com agressividade.
Vai fazer bem a Pedro Passos Coelho ter perdido o debate. Para sair à rua e mostrar se tem ou não trunfos. Se está ou não cansado. Para assumir os erros de governação, muitos, além dos que devia. Mas o debate não tornou António Costa mais credível para o cargo de primeiro-ministro. Deu-lhe, sim, a primeira dinâmica de vitória.
Falta ver os dias que sobram. Com o bolso a decidir mais o voto do que a razão, ganhará quem perceber o espírito do eleitorado. Quem tiver as palavras certas, a esperança certa, a noção de estabilidade certa. E quem for absolutamente claro sobre o que quer para a Segurança Social (nenhum é), o emprego, a Saúde, a Educação e os impostos.
2. O Novo Banco é matéria de Estado. Logo de contribuintes. Nossa. E é boa a decisão do Banco de Portugal de adiar a venda para depois das eleições. Porque não tem condições, nem o negócio é apelativo para vendedor e comprador.
Porque a pressa é má conselheira.
Mal está todo o processo. A começar pela longa agonia do fim do BES. Passando depois pelo Banco de Portugal sentado na posição de vendedor e esquecendo que a sua função é eminentemente de regulação. E terminando com o Governo a escudar-se por detrás do Banco de Portugal. E a Oposição a fazer desta matéria uma arma de arremesso eleitoral.
Não é difícil de perceber que a injeção pela Banca de cinco mil milhões no Fundo de Resolução acabará por nos ir, direta ou indiretamente, ao bolso. Experiência não nos falta como nos prova o caso BPN, salvaguardando as devidas diferenças. Mas é forçoso que agora impere o bom senso. A economia e a Banca estão demasiado frágeis para suportar um novo rombo no sistema financeiro.
A prazo, este cenário pode levar a um novo recuo na concessão de crédito às empresas e às famílias. E isto será fatal. Esteja quem estiver no Governo.
12.09.2015
DOMINGOS DE ANDRADE
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