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A carta, o banco, a política

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Mensagem por Admin Qui Set 17, 2015 11:39 am

Anda por aí uma carta manhosa. Verdadeira, mas manhosa. Afinal quem chamou a troika? Sabem a verdade. Foi José Sócrates. Contrariado, mas foi. Contrariado porque sabia que o acto representava o colapso de uma ideia de autosuficiência, a derrota nas eleições, o fim áspero de um ciclo de poder. Deve-se, por isso, perceber a manha que aí anda.

Não sei se a carta está no alinhamento do debate de hoje, mas, se lá parar, não deixa de ser um argumento político. Do passado, mas válido para um confronto em que o que aconteceu tem indiscutível relevância. Com ou sem carta, espera-se que o formato não seja servido em gavetas com marcador: os plafonamentos, a política fiscal, a educação, o pão, a habitação. E a saúde, claro. Seria bom que eles, Pedro Passos Coelho e António Costa, nos dissessem, tim tim por tim tim, que obrigações o Estado deve assumir e quanto custam os respectivos modelos. Esse, sim, seria um debate a que sobrava política. 

Seja como for, é bom que se discuta política. E o processo BES também é um caso político. Sempre foi. E deverá estar no debate de hoje. Só o tempo dirá se foi o "maior fracasso" de uma governação militante na separação entre problema privado e problema público. Acontece que o banco existia como uma espécie de parceria público-privada de alcance sistémico. Ou seja, era uma questão financeira, económica, política. E, em consequência, social.

Foi esse pormenor que não foi devidamente acautelado pelo poder executivo. Desde o início do processo. Quando nos quiseram convencer de que o experimentalismo do modelo de resolução vinha sem pingo de dedo político. Não é assim, não poderia ter sido assim, se assim fosse não teria sido como foi.

No princípio conjugava-se o verbo vender. De pressa e bem, para não se repetir erros do passado (ai o BPN, o PSD, o cavaquismo, o papão das nacionalizações, o buraco). Na água do banho foi Vítor Bento (não se sabe verdadeiramente por quê, mas aparentemente porque queria mais tempo) e foi-se construindo uma narrativa oposta ao mau exemplo. O banco vender-se-ia no prazo de um ano, sem custo para os contribuintes. Como deve ser, numa afirmada separação entre o gestor da resolução e o gestor político. Deu no que deu.

O caso é político. Sempre foi, disfarçadamente. E essa é uma razão para o fracasso do processo de venda do Novo Banco. A operação foi entendida como uma mera transacção. Difícil, pelas especificidades do produto, mas um negócio. Esqueceu-se a litigância, os lesados, os players do mercado (advogados), a conta que fica por pagar quando falta dinheiro. Acreditou-se, em demasia, na gula asiática. Há um novo prazo, o fim de 2016. Vamos ver no que dá.

Nem tudo correu mal no processo BES. Eduardo Stock da Cunha e a sua equipa de gestão afirmaram serenamente um caminho. O futuro também depende deles.

00:06 h
Raul Vaz
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