Olhar Sines no Futuro
BEM - VINDOS!!!!

Participe do fórum, é rápido e fácil

Olhar Sines no Futuro
BEM - VINDOS!!!!
Olhar Sines no Futuro
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Procurar
 
 

Resultados por:
 


Rechercher Pesquisa avançada

Entrar

Esqueci-me da senha

Palavras-chaves

2015  2010  2014  2012  2017  2013  2011  2016  tvi24  cmtv  cais  2018  2023  2019  

Últimos assuntos
» Sexo visual mental tens a olhar fixamente o filme e ouvi fixamente
Nocturno à Beira-Mar EmptyQui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin

» Apanhar o comboio
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin

» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin

» A outra austeridade
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin

» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin

» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin

» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin

» Pelos caminhos
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin

» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Nocturno à Beira-Mar EmptySeg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin

Galeria


Nocturno à Beira-Mar Empty
maio 2024
DomSegTerQuaQuiSexSáb
   1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031 

Calendário Calendário

Flux RSS


Yahoo! 
MSN 
AOL 
Netvibes 
Bloglines 


Quem está conectado?
49 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 49 visitantes

Nenhum

O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm

Nocturno à Beira-Mar

Ir para baixo

Nocturno à Beira-Mar Empty Nocturno à Beira-Mar

Mensagem por Admin Sex Set 18, 2015 10:39 am

Numa fotografia de estúdio da província, já fora de moda nesses meados de oitenta, avistaria eu pela primeira vez a figura física de Luís Miguel Nava. Ali me aparecia ele, muito jovem, e na companhia de uma rapariga de idade equivalente, ladeando ambos uma criança, e compondo a família nuclear do cliché das gerações. Fora Eugénio de Andrade quem me metera nas mãos aquele retratinho de grupo em tamanho postal, e só muito mais tarde eu descobriria que semelhante agregado não passava de pura encenação. Parece-me hoje simbólico, deverei aduzir, que o contacto inicial com o poeta tenha ocorrido por intermédio de um ícone, se se considerar que sempre ele erigiria a própria imagem em eixo da sua identidade biológica e literária.

Cumprem-se este ano duas décadas sobre a trágica morte de Luís Miguel, e uma perspectiva mais humanizada dos afectos do mundo tornará porventura iluminante a análise do seu percurso existencial, e do contributo que ele terá prestado para um futuro melhor. A espontaneidade quase infantil com que o autor de A Inércia da Deserção assumia o estilo de vida que abraçara, atitude que talvez surgisse aos mais timoratos como um desafio assustador, valer-lhe-ia simpatias e ostracismos, fidelidades e traições, e até o culto póstumo que o prematuro desaparecimento não raro fortifica. Recordo-me de o ouvir descrever o modo como os seus conterrâneos de Viseu, e seus conhecidos, "só quando não podiam evitá-lo", o cumprimentavam em público. E lembro-me de me ter narrado o comportamento do progenitor de um aluno seu, cavalheiro que à data presente desempenha as funções ministeriais que lhe competem como o mais idoso elemento do executivo, o qual correria à direcção do estabelecimento em que Luís Miguel Nava exercia a docência, a queixar-se do moço professor que lia às suas turmas os versos de "um tal Andrade", notável arauto de amores fora da lei. Luís Miguel reagia a estas afrontas com a perplexidade de quem se esforça por entender as aberrantes idiossincrasias, coloridas pela moralidade dos seus contemporâneos, mas sem que manifestasse a menor das frustrações, ou qualquer laivo de ressentimento.

Invariavelmente amistosa, a nossa relação nem sempre seria no entanto de admiração oficinal recíproca, fenómeno de resto pouco frequente num país como o nosso, lavrado pelo fulanismo que obriga a detestar a obra da pessoa que se detesta, e a desprezar quem produz aquilo que desprezamos. Eu sentia verdadeira estima por Luís Miguel Nava, e não duvidava da lealdade com que ma retribuía, mas isso jamais nos impeliria à mútua reverência artística. E se o acusava do excessivo tributo que o via render aos líricos da classe de cinquenta, logo ele me aplicava o epíteto apoucante de "excelente conversador". Decorria assim sem sobressaltos o nosso diálogo, coisa que em tom divertido atribuíamos ao cruzamento de distantes ramos genealógicos nossos, oriundos do coração de Castela-a-Velha.

Mostrava-se aliás agradável o convívio com ele, levantados os anteparos que a prudência aconselhava face aos súbitos ataques de cólera que de longe a longe o acometiam. Creio que a maioria de nós o encarava como um parceiro elegante, denunciando um toque public school, e reivindicando o direito ao pequeno séquito que o apajava em Lisboa, em Bruxelas, ou em Santiago de Compostela. E quanto à sua momentânea arrogância, essa festejávamo-la com o relato da irritação que por causa disso se apoderara de uma ou outra catedrática, mais empedernida na sua virgindade, da faculdade de letras onde o poeta estudara.

No princípio de uma manhã de Maio de 1995 o escritor Amadeu Lopes Sabino acordar--me-ia com a horrível notícia, telefonada da Bélgica, do assassínio monstruoso em que fora imolado o amigo comum. Revisitei num relâmpago o itinerário dos nossos encontros e desencontros, e tomei as medidas indispensáveis para que se abrisse no Porto a câmara mortuária a que afluiriam os mais próximos de Luís Miguel, e entre eles Maria Alzira Seixo, sua professora e, essa sim, na plena consciência da grandeza do que partira, e da catástrofe que a todos nós em suma atingira.

A cada passo evocava ele uma difusa noite, remota e inquietante, à beira-mar, e que eu fantasiava de lantejoulas inscritas em crepes esfarrapados. E quando numa ocasião, e em Roma, o ficcionista italiano Vincenzo Consolo, presidente do júri do Prémio da União Latina que eu integrava, se lançou a explicar a metamorfose de que sofria Pasolini, homem sereno e cordato à luz do dia, mas íntimo de anjos negros depois do pôr do Sol, aflorou-me à memória o fantasma de Luís Miguel. Compensava-me já porém um secreto júbilo, sobrevivente ao destino que lhe coubera. Na madrugada de Primavera em que o velávamos, e em surdina, confidenciara-me o pai do poeta o quanto este tinha apreciado as palavras de entusiasmo com que eu saudara o seu último livro, o extraordinário Vulcão. Não por acaso, e nas linhas finais do mesmo, pediria ele ao leitor,

"Acolhe-o, pois, com benevolência, que, chegada a altura, havemos de arder juntos."

por MÁRIO CLÁUDIO
Diário de Notícias
Admin
Admin
Admin

Mensagens : 16761
Pontos : 49160
Reputação : 0
Data de inscrição : 07/12/2013
Idade : 37
Localização : Sines

http://olharsinesnofuturo.criarforum.com.pt

Ir para o topo Ir para baixo

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos