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A CAUSA DAS COISAS - Invenções sem inventor
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A CAUSA DAS COISAS - Invenções sem inventor
Muitas das coisas que nos rodeiam são o resultado da acção de pessoas que ao querer fazer qualquer coisa acabaram por ser a causa de coisas que não queriam fazer.
Quando pensamos nas grandes invenções e nas grandes descobertas da história da ciência pensamos sempre nos seus autores, e às vezes em mais que um. O telefone, a vacina da raiva ou o barómetro têm autores conhecidos ou suspeitados. Com as artes passa-se a mesma coisa: todos os livros, bons e maus, foram escritos por animais humanos; toda música foi composta sem excepção por pessoas que no essencial eram muito parecidas connosco.
Existem ainda outras coisas que sabemos que foram inventadas, mas cujos inventores não conseguimos, ou achamos que não vale a pena tentar, identificar. Alguém terá tido pela primeira vez a ideia de contar uma história em que um rato com uma ideia elevada de si próprio cai numa panela de sopa. Alguém se terá lembrado de dar uma forma circular ao objecto a que quase sem pensar chamamos hoje roda. E quem terá inventado as almofadas? Em todos estes casos deveria ser possível identificar os responsáveis; falta-nos todavia a informação.
Apesar disso, e quer saibamos ou não quem teve as ideias, imaginamos provavelmente com razão que quem as teve procedia deliberadamente. Embora muitas invenções e descobertas se devam ao acaso, foi porque os seus protagonistas agiram com deliberação que o acaso se verificou. Sabemos sem margem para dúvidas que a história da Carochinha não foi encontrada numa árvore como uma maçã, ou numa gruta como uma estalactite. A diferença entre uma maçã e uma história é justamente que uma maçã cresce independentemente de quem a plantou; mas uma história precisa de ser contada por alguém. A roda e as almofadas foram inventadas por alguém.
Um terceiro tipo de ocorrências, no entanto, é mais difícil de perceber; podemos chamar-lhes invenções sem inventor. Trata-se de objectos ou situações que resultam da acção deliberada de pessoas, geralmente de muitas pessoas, e geralmente ao longo do tempo, sem que nenhuma dessas pessoas queira particularmente causar aquilo que aconteceu. Pense-se na queda do Império Romano, ou na maneira como os percursos das pessoas abrem caminhos em certos jardins ou florestas, ou na enorme abundância de maçãs nos supermercados, ou no desgaste nos degraus de uma Conservatória do Registo Civil.
Foram pessoas como nós que provocaram essas ocorrências; mas não parece razoável imaginar que alguma delas quisesse dar aos degraus a forma côncava que hoje têm, ou que todas imaginassem que estavam a fazer cair o Império Romano. Quem contribuiu para o aspecto que têm hoje aqueles jardins queria apenas ir do ponto A ao ponto B. Nenhum produtor de maçãs quer que haja maçãs por todo o lado; quer normalmente o contrário. O nosso passado e muitas das coisas que nos rodeiam estão cheios de invenções sem inventor; estão cheios de pessoas que ao querer fazer qualquer coisa acabaram por ser a causa de coisas que não queriam exactamente fazer.
Miguel Tamen
25/9/2015, 0:00
Observador
Quando pensamos nas grandes invenções e nas grandes descobertas da história da ciência pensamos sempre nos seus autores, e às vezes em mais que um. O telefone, a vacina da raiva ou o barómetro têm autores conhecidos ou suspeitados. Com as artes passa-se a mesma coisa: todos os livros, bons e maus, foram escritos por animais humanos; toda música foi composta sem excepção por pessoas que no essencial eram muito parecidas connosco.
Existem ainda outras coisas que sabemos que foram inventadas, mas cujos inventores não conseguimos, ou achamos que não vale a pena tentar, identificar. Alguém terá tido pela primeira vez a ideia de contar uma história em que um rato com uma ideia elevada de si próprio cai numa panela de sopa. Alguém se terá lembrado de dar uma forma circular ao objecto a que quase sem pensar chamamos hoje roda. E quem terá inventado as almofadas? Em todos estes casos deveria ser possível identificar os responsáveis; falta-nos todavia a informação.
Apesar disso, e quer saibamos ou não quem teve as ideias, imaginamos provavelmente com razão que quem as teve procedia deliberadamente. Embora muitas invenções e descobertas se devam ao acaso, foi porque os seus protagonistas agiram com deliberação que o acaso se verificou. Sabemos sem margem para dúvidas que a história da Carochinha não foi encontrada numa árvore como uma maçã, ou numa gruta como uma estalactite. A diferença entre uma maçã e uma história é justamente que uma maçã cresce independentemente de quem a plantou; mas uma história precisa de ser contada por alguém. A roda e as almofadas foram inventadas por alguém.
Um terceiro tipo de ocorrências, no entanto, é mais difícil de perceber; podemos chamar-lhes invenções sem inventor. Trata-se de objectos ou situações que resultam da acção deliberada de pessoas, geralmente de muitas pessoas, e geralmente ao longo do tempo, sem que nenhuma dessas pessoas queira particularmente causar aquilo que aconteceu. Pense-se na queda do Império Romano, ou na maneira como os percursos das pessoas abrem caminhos em certos jardins ou florestas, ou na enorme abundância de maçãs nos supermercados, ou no desgaste nos degraus de uma Conservatória do Registo Civil.
Foram pessoas como nós que provocaram essas ocorrências; mas não parece razoável imaginar que alguma delas quisesse dar aos degraus a forma côncava que hoje têm, ou que todas imaginassem que estavam a fazer cair o Império Romano. Quem contribuiu para o aspecto que têm hoje aqueles jardins queria apenas ir do ponto A ao ponto B. Nenhum produtor de maçãs quer que haja maçãs por todo o lado; quer normalmente o contrário. O nosso passado e muitas das coisas que nos rodeiam estão cheios de invenções sem inventor; estão cheios de pessoas que ao querer fazer qualquer coisa acabaram por ser a causa de coisas que não queriam exactamente fazer.
Miguel Tamen
25/9/2015, 0:00
Observador
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