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República, democracia, governo e futuro
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República, democracia, governo e futuro
Portugal assinalou ontem o 105º aniversário sobre a instauração da República.
Na véspera, os portugueses tinham escolhido democraticamente, através do voto livre e universal, que linha programática desejam para assumir o governo do país para os próximos quatro anos. Por coincidência, em dias consecutivos, foram reafirmadas a república e a democracia, dois pilares fundamentais do nosso sistema de organização política.
E quanto ao futuro, o que dizer?
O futuro, de que cuidámos parcialmente a 4 de Outubro - com a escolha do próximo governo -, é, por estes tempos e porventura mais do que nunca, uma enorme incógnita. E dizemos que o governo é um factor parcial, por ser apenas uma das dimensões da construção do futuro. O governo, e as suas políticas, funcionam apenas se tiverem a capacidade de perceber e de se adaptar aos contextos sociais e económicos do mundo em que se inserem. Se forem capazes de corresponder às expectativas dos cidadãos. A arte da governação está na procura da síntese entre os anseios das pessoas e o que a realidade de contexto permite ser-lhes proporcionado. E o quadro conjuntural de Portugal para os próximos anos afigura-se muito complexo.
Desde logo a crise económica gerada por défices orçamentais acumulados ao longo dos últimos anos, será um factor que limitará muito as opções quanto às políticas económicas a seguir. Por outro lado, ao fazermos parte do sistema monetário europeu, do euro, ficamos impedidos de adoptar soluções de desvalorização da moeda, com efeitos evidentes sobre a balança comercial, que nos é mais pesada do lado das importações. Ainda assim, a pertença à moeda única não é um factor negativo no seu todo. Ele tem permitido alguma sustentação da economia das famílias, através da subsistência de taxas de juro muito baixas, designadamente no crédito à habitação.
O desemprego e a sustentabilidade do sistema de reformas e pensões são também factores de contexto de enorme importância. A saída de jovens qualificados para outros destinos em busca do emprego que aqui lhes é negado, associada a baixas taxas de natalidade, provocarão, a prazo, alterações profundas na configuração da pirâmide social. A possibilidade de termos mais pessoas reformadas do que activas não é falaciosa. E nesse quadro, que capacidade terá a sociedade para se manter coesa e para sustentar os seus cidadãos com um mínimo de dignidade e de qualidade de vida?
Para finalizar, como se este enquadramento não fosse já de si complexo, surge agora, com particular incidência na Europa, uma onda de refugiados a que humanamente não podemos deixar de dar a mão. São milhões de pessoas, muitas das quais crianças, mulheres e idosos, que fogem da guerra.
Estes problemas que contextualizam o nosso futuro, requerem estruturas sociais e políticas coesas, capazes de encontrar as melhores soluções. E a solidez da república e da democracia é importante para gerar soluções de governo que mostrem essa capacidade.
00:05 h
António João Maia
Económico
Na véspera, os portugueses tinham escolhido democraticamente, através do voto livre e universal, que linha programática desejam para assumir o governo do país para os próximos quatro anos. Por coincidência, em dias consecutivos, foram reafirmadas a república e a democracia, dois pilares fundamentais do nosso sistema de organização política.
E quanto ao futuro, o que dizer?
O futuro, de que cuidámos parcialmente a 4 de Outubro - com a escolha do próximo governo -, é, por estes tempos e porventura mais do que nunca, uma enorme incógnita. E dizemos que o governo é um factor parcial, por ser apenas uma das dimensões da construção do futuro. O governo, e as suas políticas, funcionam apenas se tiverem a capacidade de perceber e de se adaptar aos contextos sociais e económicos do mundo em que se inserem. Se forem capazes de corresponder às expectativas dos cidadãos. A arte da governação está na procura da síntese entre os anseios das pessoas e o que a realidade de contexto permite ser-lhes proporcionado. E o quadro conjuntural de Portugal para os próximos anos afigura-se muito complexo.
Desde logo a crise económica gerada por défices orçamentais acumulados ao longo dos últimos anos, será um factor que limitará muito as opções quanto às políticas económicas a seguir. Por outro lado, ao fazermos parte do sistema monetário europeu, do euro, ficamos impedidos de adoptar soluções de desvalorização da moeda, com efeitos evidentes sobre a balança comercial, que nos é mais pesada do lado das importações. Ainda assim, a pertença à moeda única não é um factor negativo no seu todo. Ele tem permitido alguma sustentação da economia das famílias, através da subsistência de taxas de juro muito baixas, designadamente no crédito à habitação.
O desemprego e a sustentabilidade do sistema de reformas e pensões são também factores de contexto de enorme importância. A saída de jovens qualificados para outros destinos em busca do emprego que aqui lhes é negado, associada a baixas taxas de natalidade, provocarão, a prazo, alterações profundas na configuração da pirâmide social. A possibilidade de termos mais pessoas reformadas do que activas não é falaciosa. E nesse quadro, que capacidade terá a sociedade para se manter coesa e para sustentar os seus cidadãos com um mínimo de dignidade e de qualidade de vida?
Para finalizar, como se este enquadramento não fosse já de si complexo, surge agora, com particular incidência na Europa, uma onda de refugiados a que humanamente não podemos deixar de dar a mão. São milhões de pessoas, muitas das quais crianças, mulheres e idosos, que fogem da guerra.
Estes problemas que contextualizam o nosso futuro, requerem estruturas sociais e políticas coesas, capazes de encontrar as melhores soluções. E a solidez da república e da democracia é importante para gerar soluções de governo que mostrem essa capacidade.
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