Procurar
Tópicos semelhantes
Entrar
Últimos assuntos
Tópicos mais visitados
Quem está conectado?
Há 378 usuários online :: 0 registrados, 0 invisíveis e 378 visitantes :: 1 motor de buscaNenhum
O recorde de usuários online foi de 864 em Sex Fev 03, 2017 11:03 pm
A lógica inexorável da economia da partilha
Página 1 de 1
A lógica inexorável da economia da partilha
Quando a Amazon foi fundada em 1994, e o eBay, no ano seguinte, as empresas aproveitaram a conectividade da internet para criar novos mercados, mais eficientes. No início, isso significava novas formas de compra e venda de livros e objectos de colecção; mas agora o comércio electrónico está em todo o lado, oferecendo aos clientes produtos novos e usados - e tornando-se uma força global na logística e retalho. Ainda que as empresas da economia da partilha estejam, actualmente, a deixar a sua infância, os seus serviços serão, um dia, omnipresentes.
Por esta altura, a maioria das pessoas já ouviu falar do Airbnb, o serviço online de aluguer de apartamentos. A empresa tem apenas 600 funcionários, mas conta com um milhão de propriedades listadas para alugar, tornando-se maior do que as maiores redes hoteleiras do mundo. Claro que aquilo que o Airbnb oferece é diferente do que os hotéis oferecem; mas se o Airbnb oferecesse opções de serviço de limpeza ou alimentação, por exemplo, poderiam tornar-se concorrentes mais próximos do que se imaginava inicialmente.
A percepção (óbvia, em retrospectiva) subjacente ao modelo do Airbnb – e à economia da partilha em geral - é que o mundo está repleto de bens e recursos subutilizados. Quanto tempo gastamos realmente a usar as coisas - seja carros, bicicletas, apartamentos, casas de férias, ferramentas ou iates - que temos? Que valor geram os edifícios de escritórios ou as salas de aula durante a noite?
As respostas variam consoante os activos, as pessoas, as famílias ou as organizações, mas os números de utilização tendem a ser surpreendentemente baixos. Uma resposta recente para os carros foi de 8%, e mesmo esse valor pode ser elevado de mais para as pessoas que não têm de fazer trajectos longos.
Mas esses números estão a mudar, com a Internet a permitir novos modelos de negócios criativos que aumentam não só a eficiência de um mercado, mas também a utilização dos nossos diversos activos. Há centenas de experiências em curso para novos negócios. Evidentemente, nem todos vão ter o crescimento surpreendente do Airbnb ou da Uber. Alguns, como o "Rent the Runway", um negócio de aluguer de roupas e acessórios de marca, podem encontrar nichos rentáveis; outros hão-de simplesmente fracassar.
As plataformas digitais que actuam como a base de todo o comércio electrónico precisam de responder a dois desafios relacionados. O primeiro é produzir um efeito de rede, para que compradores e vendedores se encontrem uns aos outros com frequência e rapidez suficientes para fazerem um negócio sustentável. Em segundo lugar, a plataforma deve criar confiança - no produto ou serviço - em ambos os lados da transacção.
A confiança é crucial para o efeito de rede; daí a necessidade de existirem sistemas de avaliação de duas vias que incentivem os compradores e vendedores a tornarem-se utilizadores frequentes de determinada plataforma. Pequenos ‘players’ podem, assim, actuar em grandes mercados porque, com o tempo, tornam-se conhecidos. O poder destas plataformas deriva da superação das assimetrias de informação, aumentando drasticamente a densidade de sinais do mercado.
Na verdade, para incentivar utilizadores pouco frequentes do comércio electrónico. Os inovadores e os investidores estão a explorar formas de combinar bases de dados de plataformas separadas, e até mesmo rivais. Quaisquer que sejam as questões jurídicas e técnicas que devem ser superadas, podemos certamente imaginar o tipo de consolidação de dados já praticada internamente por gigantes do retalho como a Amazon ou a Alibaba.
Podem existir outros incentivos para apoiar o "bom" comportamento, tais como multas e depósitos de garantia (para bicicletas emprestadas que não sejam devolvidas, por exemplo). Mas medidas punitivas podem facilmente conduzir a disputas e ineficiência. Pelo contrário, refinar os sistemas de avaliação é muito mais promissor.
A necessidade de explorar recursos subutilizados não deve ser confinada a bens materiais. O McKinsey Global Institute estudou recentemente abordagens baseadas na internet para o mercado de trabalho e o desafio de fazer a correspondência entre a procura de talentos e competências com a oferta.
Alguns modelos de partilha - talvez a maioria - dependem tanto de trabalho como de outros activos: por exemplo, uma pessoa e o seu carro, computador, máquina de costura, ou cozinha (para as refeições entregues ao domicílio). Este retrocesso para as indústrias caseiras que precederam a produção moderna é possível hoje em dia, devido ao facto de a Internet reduzir os custos de dispersão que, no passado, obrigavam à concentração de trabalho em fábricas e escritórios.
Inevitavelmente, surgem questões regulatórias, como a Uber enfrenta desde a Califórnia até à Europa. Os táxis e limousines estão, em certa medida, protegidos da concorrência porque precisam de licenças para operar; também são reguladas pela segurança do cliente. Neste contexto, a Uber invade o seu mercado com um produto diferenciado, sujeito às suas próprias regulações para veículos e condutores. Neste processo, corre o risco de diminuir o valor das licenças, tal como qualquer decisão oficial para emitir novas licenças faria. Não admira que os motoristas de táxi de Paris e outras cidades francesas - até então protegidos da concorrência – tenham protestado de forma tão veemente (e, por vezes, violenta).
Uma questão intrigante é até que ponto irá o sector financeiro acolher a economia da partilha. Os empréstimos entre pares e o crowdfunding já representam novas de emparelhar mutuários com investidores. Evidentemente, as questões relativas à responsabilidade e aos seguros terão de ser abordadas em todos os modelos da economia da partilha, especialmente os financeiros; mas não são obstáculos intransponíveis.
A verdade é que o processo conduzido pela Internet de exploração dos recursos subutilizados - sejam elas de capital físico e financeiro ou capital humano e talento - é acelerado e imparável. Os benefícios a longo prazo não consistem apenas em ganhos de produtividade e eficiência (grandes o suficiente para aparecerem em dados macro), mas também em novos postos de trabalho muito necessários que exigem uma ampla gama de competências. Na verdade, aqueles que temem o poder da automatização que destrói empregos deviam olhar para a economia da partilha e suspirar de alívio.
Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover. O seu livro mais recente intitula-se The Next Convergence – The Future of Economic Growth in a Multispeed World.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
02 Novembro 2015, 20:00 por Michael Spence
Negócios
Por esta altura, a maioria das pessoas já ouviu falar do Airbnb, o serviço online de aluguer de apartamentos. A empresa tem apenas 600 funcionários, mas conta com um milhão de propriedades listadas para alugar, tornando-se maior do que as maiores redes hoteleiras do mundo. Claro que aquilo que o Airbnb oferece é diferente do que os hotéis oferecem; mas se o Airbnb oferecesse opções de serviço de limpeza ou alimentação, por exemplo, poderiam tornar-se concorrentes mais próximos do que se imaginava inicialmente.
A percepção (óbvia, em retrospectiva) subjacente ao modelo do Airbnb – e à economia da partilha em geral - é que o mundo está repleto de bens e recursos subutilizados. Quanto tempo gastamos realmente a usar as coisas - seja carros, bicicletas, apartamentos, casas de férias, ferramentas ou iates - que temos? Que valor geram os edifícios de escritórios ou as salas de aula durante a noite?
As respostas variam consoante os activos, as pessoas, as famílias ou as organizações, mas os números de utilização tendem a ser surpreendentemente baixos. Uma resposta recente para os carros foi de 8%, e mesmo esse valor pode ser elevado de mais para as pessoas que não têm de fazer trajectos longos.
Mas esses números estão a mudar, com a Internet a permitir novos modelos de negócios criativos que aumentam não só a eficiência de um mercado, mas também a utilização dos nossos diversos activos. Há centenas de experiências em curso para novos negócios. Evidentemente, nem todos vão ter o crescimento surpreendente do Airbnb ou da Uber. Alguns, como o "Rent the Runway", um negócio de aluguer de roupas e acessórios de marca, podem encontrar nichos rentáveis; outros hão-de simplesmente fracassar.
As plataformas digitais que actuam como a base de todo o comércio electrónico precisam de responder a dois desafios relacionados. O primeiro é produzir um efeito de rede, para que compradores e vendedores se encontrem uns aos outros com frequência e rapidez suficientes para fazerem um negócio sustentável. Em segundo lugar, a plataforma deve criar confiança - no produto ou serviço - em ambos os lados da transacção.
A confiança é crucial para o efeito de rede; daí a necessidade de existirem sistemas de avaliação de duas vias que incentivem os compradores e vendedores a tornarem-se utilizadores frequentes de determinada plataforma. Pequenos ‘players’ podem, assim, actuar em grandes mercados porque, com o tempo, tornam-se conhecidos. O poder destas plataformas deriva da superação das assimetrias de informação, aumentando drasticamente a densidade de sinais do mercado.
Na verdade, para incentivar utilizadores pouco frequentes do comércio electrónico. Os inovadores e os investidores estão a explorar formas de combinar bases de dados de plataformas separadas, e até mesmo rivais. Quaisquer que sejam as questões jurídicas e técnicas que devem ser superadas, podemos certamente imaginar o tipo de consolidação de dados já praticada internamente por gigantes do retalho como a Amazon ou a Alibaba.
Podem existir outros incentivos para apoiar o "bom" comportamento, tais como multas e depósitos de garantia (para bicicletas emprestadas que não sejam devolvidas, por exemplo). Mas medidas punitivas podem facilmente conduzir a disputas e ineficiência. Pelo contrário, refinar os sistemas de avaliação é muito mais promissor.
A necessidade de explorar recursos subutilizados não deve ser confinada a bens materiais. O McKinsey Global Institute estudou recentemente abordagens baseadas na internet para o mercado de trabalho e o desafio de fazer a correspondência entre a procura de talentos e competências com a oferta.
Alguns modelos de partilha - talvez a maioria - dependem tanto de trabalho como de outros activos: por exemplo, uma pessoa e o seu carro, computador, máquina de costura, ou cozinha (para as refeições entregues ao domicílio). Este retrocesso para as indústrias caseiras que precederam a produção moderna é possível hoje em dia, devido ao facto de a Internet reduzir os custos de dispersão que, no passado, obrigavam à concentração de trabalho em fábricas e escritórios.
Inevitavelmente, surgem questões regulatórias, como a Uber enfrenta desde a Califórnia até à Europa. Os táxis e limousines estão, em certa medida, protegidos da concorrência porque precisam de licenças para operar; também são reguladas pela segurança do cliente. Neste contexto, a Uber invade o seu mercado com um produto diferenciado, sujeito às suas próprias regulações para veículos e condutores. Neste processo, corre o risco de diminuir o valor das licenças, tal como qualquer decisão oficial para emitir novas licenças faria. Não admira que os motoristas de táxi de Paris e outras cidades francesas - até então protegidos da concorrência – tenham protestado de forma tão veemente (e, por vezes, violenta).
Uma questão intrigante é até que ponto irá o sector financeiro acolher a economia da partilha. Os empréstimos entre pares e o crowdfunding já representam novas de emparelhar mutuários com investidores. Evidentemente, as questões relativas à responsabilidade e aos seguros terão de ser abordadas em todos os modelos da economia da partilha, especialmente os financeiros; mas não são obstáculos intransponíveis.
A verdade é que o processo conduzido pela Internet de exploração dos recursos subutilizados - sejam elas de capital físico e financeiro ou capital humano e talento - é acelerado e imparável. Os benefícios a longo prazo não consistem apenas em ganhos de produtividade e eficiência (grandes o suficiente para aparecerem em dados macro), mas também em novos postos de trabalho muito necessários que exigem uma ampla gama de competências. Na verdade, aqueles que temem o poder da automatização que destrói empregos deviam olhar para a economia da partilha e suspirar de alívio.
Michael Spence, laureado com o Prémio Nobel da Economia, é professor de Economia na Stern School of Business de Nova Iorque, e conselheiro no Instituto Hoover. O seu livro mais recente intitula-se The Next Convergence – The Future of Economic Growth in a Multispeed World.
Direitos de Autor: Project Syndicate, 2015.
www.project-syndicate.org
Tradução: Rita Faria
02 Novembro 2015, 20:00 por Michael Spence
Negócios
Tópicos semelhantes
» Partilha de sentimentos (Caça de comunistas "eras sujeitos a ser os expiões soviéticos" nos EUA de FBI e de CIA)
» A lógica do transepto
» A lógica política
» A lógica do transepto
» A lógica política
Página 1 de 1
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
Qui Dez 28, 2017 3:16 pm por Admin
» Apanhar o comboio
Seg Abr 17, 2017 11:24 am por Admin
» O que pode Lisboa aprender com Berlim
Seg Abr 17, 2017 11:20 am por Admin
» A outra austeridade
Seg Abr 17, 2017 11:16 am por Admin
» Artigo de opinião de Maria Otília de Souza: «O papel dos custos na economia das empresas»
Seg Abr 17, 2017 10:57 am por Admin
» Recorde de maior porta-contentores volta a 'cair' com entrega do Maersk Madrid de 20.568 TEU
Seg Abr 17, 2017 10:50 am por Admin
» Siemens instalou software de controlo avançado para movimentações no porto de Sines
Seg Abr 17, 2017 10:49 am por Admin
» Pelos caminhos
Seg Abr 17, 2017 10:45 am por Admin
» Alta velocidade: o grande assunto pendente
Seg Abr 17, 2017 10:41 am por Admin