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Mensagem por Admin Qua Nov 18, 2015 11:26 am

Talvez haja outra razão, mas a actual situação política parece resultar apenas de António Costa querer pôr no Facebook que foi primeiro-ministro. Se era tão importante enterrar o PREC e o Muro de Berlim, fazendo acordo com PCP, PEV e BE, por que razão nunca falou disso até perder as eleições?

Qualquer governo, mesmo com razões pessoais, precisa de um programa, e neste não é difícil saber qual é. Já na Roma antiga, quem desafiava o poder via-se logo rodeado de deserdados, endividados e descontentes; não por gostarem do candidato, mas com esperança de partilhar os despojos. Hoje em Portugal, após quatro anos de austeridade, não faltam os queixosos.

Aquilo que se sabe dos programas eleitorais e acordos da coligação de esquerda é, naturalmente, um rol dos desagravos da troika. Não se fala nos problemas do país, futuro nacional ou desenvolvimento, mas apenas de recuperar benefícios. Como a despesa pública chegou a ser mais de metade do produto nacional, há muito a recuperar. Em subsídios, apoios, subvenções, pensões, salários, contratos e empregos públicos, são miríades os que sofreram os cortes, mesmo tímidos e insuficientes, do governo anterior. São esses, classificáveis com o título genérico de beneficiários, que se preparam para voltar à mesa do Orçamento. A retórica dos responsáveis não deixa dúvidas. Todos se atropelam para prometer mais, alguns dizendo manter os compromissos, nenhum explicando como isso será possível.

Esta é a actual situação política, que tanto assusta alguns. Mas, independentemente dos alarmes e das páginas do Facebook, é evidente que um governo da esquerda seria muito instrutivo. Podemos acabar com graves consequências negativas, em termos financeiros, económicos, políticos e sociais, mas estamos já todos a aprender muito e vamos ainda aprender mais.

Antes de todos, faria muito bem ao PSD e ao CDS ter uma cura de oposição. O mandato anterior, para mais naquelas condições impositivas, criou tiques, enviesamentos, cegueiras e vícios, que precisam de ser expurgados. Olhar o poder do lado de fora é muito instrutivo, permitindo ao deputado, ex--ministro ou director-geral sentir as coisas da perspectiva do cidadão.

O PS também aprenderá imenso nos próximos tempos. Talvez mais do que qualquer outro e mais do que alguma vez aprendeu. Antes de tudo, saberá a razão por que Mário Soares, Almeida Santos, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres, Ferro Rodrigues, José Sócrates e António José Seguro nunca quiseram fazer uma aliança à esquerda. Será uma lição amarga, contundente, talvez devastadora, mas será profunda e, esperemos, rápida. Além disso, depois de terem aprendido a governar em minoria, em coligação, com exactamente metade dos deputados e em maioria, vão agora experimentar uma pseudocoligação maioritária mas com o partido no governo em minoria. Ver ser muito educativo.

Também para PCP, PEV e BE a lição será preciosa, e virá da proximidade do poder. Saberão o que é abandonar a posição cómoda da crítica gratuita para assumir responsabilidades. Vão finalmente confrontar a sério os reais problemas do país, e ter de suportar compromissos, cedências, expedientes, improvisações, males menores.

A maior lição, porém, será para os eleitores. Todos terão um curso rápido de democracia. Muitos vão sentir na pele o custo do voto de protesto. Mas, em particular, aqueles que mais aprenderão são os próprios beneficiários, que agora regressam ao poder. Esses, cujas fileiras engrossaram espantosamente no período do endividamento e dinheiro fácil, andaram os últimos anos a protestar violentamente contra a austeridade. A sua lógica era dizer que os responsáveis eram todos estúpidos ou malévolos; FMI, Banco Central Europeu, União Europeia, Alemanha, governo e demais influentes estavam subjugados pelo mito do empobrecimento, caprichosamente agredindo as populações, tolamente estragando o desenvolvimento, perversamente aumentando a desigualdade.

Agora faz-se como querem. O novo governo tentará eliminar todas as medidas que eles zurziram impiedosamente durante tanto tempo. Será muito esclarecedor! Criticar é fácil; fazer é muito diferente. A catástrofe que os pobres beneficiários suportarão não deixará dúvidas. Vão finalmente perceber as justificações do aperto, que responsáveis, especialistas e organizações durante anos tentaram explicar, sem evidentemente o conseguir. Alguns momentos de alívio serão muito eloquentes.

É verdade que só os tontos aprendem por experiência própria. Mas ela é, de longe, a mais instrutiva.

18 DE NOVEMBRO DE 2015
00:00
João César das Neves
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