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Uma Europa a três velocidades
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Uma Europa a três velocidades
Os europeus unem-se na desgraça, nomeadamente na desgraça que, sendo de outros, percebemos como podendo vir a ser nossa.
É a isso que vamos assistindo por estes dias, efeito do choque que foram os atentados de Paris, vitimando não soldados, não combatentes, mas gente como nós, que se veste como nós, que como nós vai ao café ou a concertos.
Hollande, cujo Estado falhou clamorosamente em toda a linha na prevenção destes ataques, veio agora colocar a questão em termos económicos: a prioridade é o combate ao terrorismo, a defesa dos franceses, e para isso não serão cumpridos os limites orçamentais a que a França está obrigada. Assim, sem pedir autorização, sem pedir licença, sem paninhos quentes. E, perante a tragédia incrível que se abateu sobre aquele país, a Comissão Europeia não se atreveu a contestar essa posição.
Disse Pierre Moscovici, o francês que é comissário europeu para os assuntos económicos, que “as regras orçamentais impostas por Bruxelas não são estúpidas, nem rígidas” e que é preciso e é possível fazer “uma abordagem inteligente e humana”.
Estas declarações contrastam com o vexame e a total dramatização aquando da questão grega. Aí, perante um povo fustigado repetidamente pela austeridade e que ensaiava um novo caminho, não houve “uma abordagem inteligente e humana”. Mais, ainda recentemente, o pagamento de uma tranche à Grécia estava dependente apenas de um ponto: Tsipras queria mais salvaguardas para as famílias em risco de despejo da sua residência, por dívidas. Aí, as regras orçamentais mantiveram-se algo “rígidas”, e bastante “estúpidas”.
E o que dizer do Reino Unido, com o garboso Cameron falando para dentro enquanto finge falar para fora? Com as devidas diferenças face ao facto de não fazer parte da Zona Euro, tudo o que Cameron diz é um tiro no porta-aviões europeu. Questiona tudo, vê tudo do ponto de vista estritamente nacional, defende o referendo à saída e quer excepções a tudo e mais um par de botas, começando pelo princípio basilar de que a União tende para uma progressiva integração. Faz da negociação uma chantagem, que é recebida por Bruxelas com bonomia e apelos à calma.
Com a Grécia, o discurso era absurdo de simplista: “a)este clube tem regras; b)ninguém é obrigado a estar neste clube; c)quem quer estar neste clube não deve tentar mudar as regras mas sim obedecer a estas”.
Na Grécia, a questão era política sim, como é no Reino Unido; mas era também humanitária. Mais difusa, mais perene e talvez por isso menos chocante do que em França. Mais difícil de nos gerar empatia, porque escolhemos identificar-nos com os cumpridores e olhar os mandriões dos gregos de lado.
Agora, França rejeita - e bem - o espartilho cego das contas; o Reino Unido rejeita tudo o que não lhe convém e não vejo ninguém ir buscar o livro das regras. Restam os maltrapilhos dos gregos, que continuam obrigados a comer e calar, porque “não há outra via”.
Tudo certo.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
É a isso que vamos assistindo por estes dias, efeito do choque que foram os atentados de Paris, vitimando não soldados, não combatentes, mas gente como nós, que se veste como nós, que como nós vai ao café ou a concertos.
Hollande, cujo Estado falhou clamorosamente em toda a linha na prevenção destes ataques, veio agora colocar a questão em termos económicos: a prioridade é o combate ao terrorismo, a defesa dos franceses, e para isso não serão cumpridos os limites orçamentais a que a França está obrigada. Assim, sem pedir autorização, sem pedir licença, sem paninhos quentes. E, perante a tragédia incrível que se abateu sobre aquele país, a Comissão Europeia não se atreveu a contestar essa posição.
Disse Pierre Moscovici, o francês que é comissário europeu para os assuntos económicos, que “as regras orçamentais impostas por Bruxelas não são estúpidas, nem rígidas” e que é preciso e é possível fazer “uma abordagem inteligente e humana”.
Estas declarações contrastam com o vexame e a total dramatização aquando da questão grega. Aí, perante um povo fustigado repetidamente pela austeridade e que ensaiava um novo caminho, não houve “uma abordagem inteligente e humana”. Mais, ainda recentemente, o pagamento de uma tranche à Grécia estava dependente apenas de um ponto: Tsipras queria mais salvaguardas para as famílias em risco de despejo da sua residência, por dívidas. Aí, as regras orçamentais mantiveram-se algo “rígidas”, e bastante “estúpidas”.
E o que dizer do Reino Unido, com o garboso Cameron falando para dentro enquanto finge falar para fora? Com as devidas diferenças face ao facto de não fazer parte da Zona Euro, tudo o que Cameron diz é um tiro no porta-aviões europeu. Questiona tudo, vê tudo do ponto de vista estritamente nacional, defende o referendo à saída e quer excepções a tudo e mais um par de botas, começando pelo princípio basilar de que a União tende para uma progressiva integração. Faz da negociação uma chantagem, que é recebida por Bruxelas com bonomia e apelos à calma.
Com a Grécia, o discurso era absurdo de simplista: “a)este clube tem regras; b)ninguém é obrigado a estar neste clube; c)quem quer estar neste clube não deve tentar mudar as regras mas sim obedecer a estas”.
Na Grécia, a questão era política sim, como é no Reino Unido; mas era também humanitária. Mais difusa, mais perene e talvez por isso menos chocante do que em França. Mais difícil de nos gerar empatia, porque escolhemos identificar-nos com os cumpridores e olhar os mandriões dos gregos de lado.
Agora, França rejeita - e bem - o espartilho cego das contas; o Reino Unido rejeita tudo o que não lhe convém e não vejo ninguém ir buscar o livro das regras. Restam os maltrapilhos dos gregos, que continuam obrigados a comer e calar, porque “não há outra via”.
Tudo certo.
00:06 h
Tiago Freire
Económico
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