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É preciso respeitar a vontade popular
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É preciso respeitar a vontade popular
Eu não estive na Fonte Luminosa, mas estiveram os meus pais por mim. Não tinha idade suficiente para compreender o que estava em causa, mas percebia que não era coisa pouca. O meu pai e a minha mãe não eram propriamente ativistas políticos, não era qualquer coisa que os levava a uma manifestação. Não saíram de casa esfuziantes e de sorriso estampado no rosto como tinham saído no 1.º de Maio de 1974, não abriram garrafas de champanhe enquanto abraçaram os amigos e gritavam de alegria como no 25 de Abril. Aqueles dois votantes do PPD - e mais tarde do PSD - foram porque tinha mesmo de ser. Foram porque não queriam que lhes tirassem o que tanto tinha custado conquistar, não queriam outra ditadura, tivesse o rosto que tivesse, mascarada com palavras mais ou menos bonitas.
Eu tinha 10 anos, a mesma idade com que assisti às celebrações domésticas do 25 de Novembro e que me fizeram olhar para o Jaime Neves para sempre como um herói: o homem que tinha parado os comunistas, o militar que nos tinha salvo doutra ditadura.
Desde essa altura o mundo mudou muito, o nosso pequeno e o grande.
O muro caiu, as ditaduras comunistas acabaram e o PCP mudou ou teve de mudar. Deixou de ser um partido internacionalista para ser apenas mais um a reclamar-se patriota, transformou-se no partido que institucionalizou a rua, fez da preservação da sua influência no mundo sindical e de autarquias as suas grandes lutas e através destas manteve a sua relevância e o seu eleitorado. Manteve alguns dos tiques de antigamente mais, estou convencido, por respeito por alguns militantes mais velhos ainda influentes e pela sua própria história. Só assim se podem compreender as manifestações de afeição serôdias por regimes como o russo, o chinês ou o da Coreia do Norte.
Acredito tanto que Bernardino Soares ou João Oliveira são comunistas como Maria Luís Albuquerque ou Aguiar-Branco são social-democratas, além de que os primeiros militam num partido que se diz comunista e os segundos num que tem o nome de social-democrata. Isso não significa que no PCP não haja gente que pretende instaurar a ditadura do proletariado, que acredita que as liberdades burguesas não são de respeitar, que despreza a democracia liberal. Mas alguém crê que o PCP apoiando o governo ou mesmo estando no governo (onde devia estar, a propósito) tentará instaurar um regime comunista? Ou que proporá nacionalizações a torto e a direito? Melhor, que nessa questão quererá ir além do que qualquer partido de centro esquerda europeu? Não me parece.
Uma outra área política também mudou. Desapareceram os grupúsculos esquerdistas. Muito mais tarde alguns conseguiram reunir-se num movimento em que uns trotskistas desajustados e a UDP se juntaram a uns rapazes, na essência quase todos social-democratas, desiludidos com os partidos tradicionais. O BE tem tido os seus altos e baixos eleitorais. Afirmou-se através das chamadas causas fraturantes e conseguiu captar um eleitorado jovem e urbano sem nunca se ter conseguido implantar em estruturas intermédias, como sindicatos ou autarquias. Os seus votantes são assim pouco fiéis - os exemplos das várias eleições são claros - e na sua esmagadora maioria cidadãos que votariam sem grandes engulhos no PS. Logo, que não hesitariam em deixar de votar BE se houvesse um perigo real de derivas de extrema-esquerda.
É bem verdade que tanto o PCP como o BE têm posições sobre a Europa e vários compromissos internacionais que Portugal firmou que põem em causa um caminho seguido há décadas e que é defendido por mais de 80% dos portugueses. Mas não só essas opiniões não põem em causa os princípios fundamentais da nossa democracia liberal e da nossa Constituição - logo, são inteiramente legítimos - como só com muita má-fé se poderia imaginar que o PS consentiria em que se pusessem em causa os tais compromissos, que qualquer acordo se poderia manter se esses princípios fossem ameaçados.
Tudo isto para perguntar: de que fala o PAF e pessoas próximas quando anunciam a vinda dos terríveis partidos de extrema-esquerda? Compreendem-se os nervos de quem estava convencido de que ia continuar a governar, entende-se a pouca compreensão por fenómenos políticos que nunca tinham acontecido na nossa democracia, aceita-se, até, alguma crispação, mas a histeria é inexplicável. Sobretudo quando acompanhada de alusões a papões que estão mortos e enterrados.
Tenho de repetir o que já aqui escrevi. Não me agrada um governo composto apenas por um partido que teve 32% nas eleições, considero os acordos entre PS, BE e PCP muito frágeis, não partilho minimamente das convicções ideológicas, económicas e políticas do BE e do PC , pressinto que esse governo não durará, longe disso, uma legislatura. Seja como for, é o que os representantes do povo querem.
Não poucas vezes, nas últimas semanas, sinto que há gente que ainda não saiu da Fonte Luminosa, mesmo os que ainda nem sequer tinham nascido nessa altura.
Faço minhas as palavras que os meus pais gritaram a 19 de julho de 1975: é preciso respeitar a vontade popular.
22 DE NOVEMBRO DE 2015
00:08
Pedro Marques Lopes
Diário de Notícias
Eu tinha 10 anos, a mesma idade com que assisti às celebrações domésticas do 25 de Novembro e que me fizeram olhar para o Jaime Neves para sempre como um herói: o homem que tinha parado os comunistas, o militar que nos tinha salvo doutra ditadura.
Desde essa altura o mundo mudou muito, o nosso pequeno e o grande.
O muro caiu, as ditaduras comunistas acabaram e o PCP mudou ou teve de mudar. Deixou de ser um partido internacionalista para ser apenas mais um a reclamar-se patriota, transformou-se no partido que institucionalizou a rua, fez da preservação da sua influência no mundo sindical e de autarquias as suas grandes lutas e através destas manteve a sua relevância e o seu eleitorado. Manteve alguns dos tiques de antigamente mais, estou convencido, por respeito por alguns militantes mais velhos ainda influentes e pela sua própria história. Só assim se podem compreender as manifestações de afeição serôdias por regimes como o russo, o chinês ou o da Coreia do Norte.
Acredito tanto que Bernardino Soares ou João Oliveira são comunistas como Maria Luís Albuquerque ou Aguiar-Branco são social-democratas, além de que os primeiros militam num partido que se diz comunista e os segundos num que tem o nome de social-democrata. Isso não significa que no PCP não haja gente que pretende instaurar a ditadura do proletariado, que acredita que as liberdades burguesas não são de respeitar, que despreza a democracia liberal. Mas alguém crê que o PCP apoiando o governo ou mesmo estando no governo (onde devia estar, a propósito) tentará instaurar um regime comunista? Ou que proporá nacionalizações a torto e a direito? Melhor, que nessa questão quererá ir além do que qualquer partido de centro esquerda europeu? Não me parece.
Uma outra área política também mudou. Desapareceram os grupúsculos esquerdistas. Muito mais tarde alguns conseguiram reunir-se num movimento em que uns trotskistas desajustados e a UDP se juntaram a uns rapazes, na essência quase todos social-democratas, desiludidos com os partidos tradicionais. O BE tem tido os seus altos e baixos eleitorais. Afirmou-se através das chamadas causas fraturantes e conseguiu captar um eleitorado jovem e urbano sem nunca se ter conseguido implantar em estruturas intermédias, como sindicatos ou autarquias. Os seus votantes são assim pouco fiéis - os exemplos das várias eleições são claros - e na sua esmagadora maioria cidadãos que votariam sem grandes engulhos no PS. Logo, que não hesitariam em deixar de votar BE se houvesse um perigo real de derivas de extrema-esquerda.
É bem verdade que tanto o PCP como o BE têm posições sobre a Europa e vários compromissos internacionais que Portugal firmou que põem em causa um caminho seguido há décadas e que é defendido por mais de 80% dos portugueses. Mas não só essas opiniões não põem em causa os princípios fundamentais da nossa democracia liberal e da nossa Constituição - logo, são inteiramente legítimos - como só com muita má-fé se poderia imaginar que o PS consentiria em que se pusessem em causa os tais compromissos, que qualquer acordo se poderia manter se esses princípios fossem ameaçados.
Tudo isto para perguntar: de que fala o PAF e pessoas próximas quando anunciam a vinda dos terríveis partidos de extrema-esquerda? Compreendem-se os nervos de quem estava convencido de que ia continuar a governar, entende-se a pouca compreensão por fenómenos políticos que nunca tinham acontecido na nossa democracia, aceita-se, até, alguma crispação, mas a histeria é inexplicável. Sobretudo quando acompanhada de alusões a papões que estão mortos e enterrados.
Tenho de repetir o que já aqui escrevi. Não me agrada um governo composto apenas por um partido que teve 32% nas eleições, considero os acordos entre PS, BE e PCP muito frágeis, não partilho minimamente das convicções ideológicas, económicas e políticas do BE e do PC , pressinto que esse governo não durará, longe disso, uma legislatura. Seja como for, é o que os representantes do povo querem.
Não poucas vezes, nas últimas semanas, sinto que há gente que ainda não saiu da Fonte Luminosa, mesmo os que ainda nem sequer tinham nascido nessa altura.
Faço minhas as palavras que os meus pais gritaram a 19 de julho de 1975: é preciso respeitar a vontade popular.
22 DE NOVEMBRO DE 2015
00:08
Pedro Marques Lopes
Diário de Notícias
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