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Mensagem por Admin Qua Dez 23, 2015 12:32 pm

Era do conhecimento geral, desde 2010, que a banca em Portugal estava praticamente falida. Não tinha acesso ao mercado interbancário e esse foi um dos problemas com que o governo anterior teve de lidar. Por isso o memorando da troika destinou 12 mil milhões de euros à sua recapitalização.

Também é do conhecimento geral, com estrondo desde 2011, que Portugal estava na bancarrota e, por isso, pediu um resgate de 78 mil milhões de euros. Pretender que tudo isto se passasse sem consequências só, obviamente, quem não é sério, ou é ignorante. Nas recentes eleições em Portugal e em Espanha vimos que os governos dos “tempos de austeridade” foram, como era expectável, penalizados, mas ganharam as eleições. Também vimos que os maiores partidos da oposição, PS e PSOE, não foram escolhidos como alternativa. Em parte porque os eleitores se lembravam que eles estavam no poder em 2010 e 2011, em parte porque continuaram a defender o mesmo que defendiam até às crises e os eleitores, sensatos, rejeitam o modelo fracassado. Vem isto a propósito do Banif e do passa culpas imaturo com que o novo governo justificou a sua decisão. 

Mas se António Costa acha que o core do problema é ter-se empurrado com a barriga (quando são evidentes as tentativas com oito planos de reestruturação rejeitados pela DGCom, interessados que não avançaram, convites para a administração rejeitados, tudo detalhado na carta que fizeram chegar à TSF, e a opção por resolver o problema da banca em pipeline) não faça agora o mesmo e fale já de outros problemas, se eles existem. Do Montepio, acerca do qual muito se especula, ou da Caixa, onde nos últimos três anos o Estado injectou cerca de 1.500 milhões de euros, não lhe tendo ainda sido devolvido nem um cêntimo. E explique porque escolheu este modelo (sobretudo porque avançam os contribuintes quando daqui a 10 dias poderiam avançar os obrigacionistas e depositantes). Os números destinados ao Banif são pouco transparentes. Não há informação. 

Começa a ser óbvio em Portugal, e na Europa, que passada a emergência ninguém enfrenta a realidade e defende as mudanças estruturais necessárias para operacionalizar países com uma alteração demográfica profunda que não sustenta o modelo anterior e, mais que isso, exige outro. Comecemos pela banca que assentou o seu modelo de crédito no financiamento de sectores não transaccionáveis como o imobiliário e a construção. Muito endividamento a financiar investimentos de baixo retorno estagnou a economia. A persistência injustificável deste modelo, que vinha desde a entrada no euro, deve-se às relações entre a banca, o poder político e os grandes beneficiários do crédito e tinha como força motriz a utilização que o Estado fez do maior banco do sistema, a Caixa. A falência do sistema bancário representa a falência da estratégia de desenvolvimento seguida pela economia até 2011. Salvar não chegará.

Mas creio que vem aí a reabilitação urbana. Outro caso gritante é o da Segurança Social. Continuamos sem um acordo entre PSD e PS para reformar o que todos sabem insustentável. A cada tentativa, como a proposta de plafonamento pelo anterior governo, ameaça-se com o fim do mundo! E remenda-se, drenando novas fontes de financiamento para ali, mais cortes, menos cortes. Também a Grécia aprovou o Orçamento de Tsipras para 2016, centrado na poupança, aumento de impostos e cortes, sobretudo nas pensões.

Continua a receita velha para um mundo novo. Voltando a Portugal, bastou uma folga para afastar o investimento estrangeiro ameaçando reverter o negócio da TAP a bem ou a mal, acabar com as subconcessões dos transportes para manter a estrutura do sindicalismo, que não é o mesmo que garantir boas condições para quem trabalha, acabar com os exames do básico porque Costa é contra o facto deles selecionarem, só devem avaliar, afastando-nos de um mundo competitivo. Temos agora um primeiro-ministro gestor, precisamos de um governante. Para justificar a falta de coragem, ou de capacidade, para mudar, fingimo-nos surpreendidos com coisas que já todos sabemos e continuamos uma estratégia suicida. Até quando? 

00:05 h
Sandra Clemente
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